Para quem pudesse manifestar alguma surpresa ou estupefação, a governadora foi logo apresentando como prova da sua inesperada declaração o Termo de Ajuste de Conduta, que toda a cadeia produtiva da carne no Pará assinou com o Ministério Público Federal, autor da iniciativa para vetar o produto, por ser flagrantemente antiecológico. Com esse ajuste, o poder público fez uma limonada com os limões que tinha.
Traduzindo a metáfora: por ser um dos Estados onde a pecuária mais se expandiu à base de desmatamento e violação das normas legais sobre o meio ambiente, a situação chegou a tal ponto que obrigou o MPF a tomar uma atitude drástica, que iria inviabilizar a criação de gado.
Com isso, os fazendeiros trataram de aceitar seu enquadramento à letra da lei e se transformaram, por obra e graça de um papel com suas assinaturas, em guardiões da natureza.
Álvaro Moreyra, grande e esquecido escritor brasileiro, que nasceu e se acautelou no Paraná, onde a devastação foi intensa, sem guardar, entretanto, o mais remoto paralelo com o sucedido na Amazônia, dizia que as fábulas são das melhores leituras que se pode ter, exceto pela moral com a qual seus autores costumam arrematá-las. É melhor ler a narrativa e ignorar a moral. Álvaro podia dizer o mesmo do discurso da governadora sobre a pecuária ecológica do Pará.
Claro que, uma vez que a cesta está cheia dos problemáticos limões, não se pode ignorar que eles existem e simplesmente jogá-los fora. Mas deve-se ter a cautela de avisar aos clientes em potencial que a limonada não é boa. Nem todo açúcar do mundo eliminará seu paladar ruim.
O Pará estaria muito melhor se a maioria (esmagadora?) dessas fazendas jamais tivesse existido. Certamente seus proprietários e dependentes não concordarão, mas quando eles tiverem desaparecido, a história dirá que o efeito mais duradouro de suas ações foi a destruição da mais importante floresta do planeta. Este será seu legado à posteridade. Horrível.
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