sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Lúcio Flávio Pinto: Pedras no rio

Os empresários estabelecidos em Mato Grosso começam a ver a concretização dos seus sonhos de uma hidrovia de 1.300 quilômetros entre Sinop e Alta Floresta, dois pólos do agronegócio no norte do Estado, e o porto de Santarém: a implantação de hidrelétricas no Tapajós e no Teles Pires. No prospecto do governo, as duas usinas ainda continuam no âmbito das cogitações. Mas em Mato Grosso elas são tratadas como se já estivessem no estágio de realidade.
Os mato-grossenses dão como certo que o trecho mais longo da hidrovia, de quase mil quilômetros, Tapajós acima, a partir de São Luís, o mais difícil para a navegação por causa da sucessão de cachoeiras e quedas d’água ao longo de 28 quilômetros de extensão, se tornará viável com as duas usinas que a Construtora Camargo Corrêa vai construir ali, com previsão de 11 mil megawatts, quase o dobro das duas hidrelétricas do rio Madeira (Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, deverão gerar 6,5 mil MW).
A primeira usina terá capacidade instalada de nove mil megawatts; a outra, de 2 mil MW, ficará no Jamanxim, afluente do Tapajós. A construção das duas barragens já teria o aval do governo, que liberou para a construtora mineira 13,6 milhões de reais pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, para o primeiro estudo sobre o projeto. A melhoria da navegação na bacia do Tapajós/Teles Pires seria ainda mais facilitada pela implantação de outras seis usinas previstas no inventário hidrelétrico aprovado em julho pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), com capacidade para gerar 3.697 MW.
Os projetos são tratados como fatos consumados e inquestionáveis, quando o processo mal foi aberto e ainda tem mais questionamentos pela frente do que o Tapajós tem de pedras no seu leito acima de Itaituba. É uma questão, aliás, muito pedregosa. Só que essas pedras simbólicas estão ocultas nos bastidores do poder, o que lhes aumenta a periculosidade.

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