Lúcio Flávio Pinto
A pré-candidatura à presidência da república da senadora Marina Silva tem muitos aspectos positivos. Mas até que ponto ela poderá manter fidelidade aos seus compromissos desta vez? Esta é uma das questões por trás do novo, que ela encarna.
A presença da senadora Marina Silva na disputa pela presidência da república em 2010 fará bem ao Brasil. Se não chega a ser uma completa novidade, sua candidatura pode ser uma surpresa e traz consigo um mistério a ser decifrado. Ela é nortista e nortista algum conseguiu ser presidente. Não consegue nem ser diferenciado do nordestino (da Bahia para cima tudo é estigmatizadamente Norte, sem ser inteiramente Norte). O paraense Lauro Sodré foi o único que chegou a ser candidato, no início do século XX. Não emplacou, apesar de ser então uma legenda no Exército, no positivismo e na elite republicana. A Amazônia é a única das regiões brasileiras que ainda não foi berço de presidente. Confirmar sua candidatura já será uma façanha para Marina. Ela entrou de vez para a história num país de exclusão regional e social ainda dramática.
Ela é negra, é mulher, sem beleza física, foi alfabetizada tardia, e pelo Mobral, exerceu uma profissão vilipendiada, a de empregada doméstica, se tornou seringueira, foi professora (outro ofício maltratado no Brasil), era pobre até entrar na política (na qual não enriqueceu, ao contrário da prática contumaz), tem as marcas de doenças desgastantes (malária, leishmaniose, contaminação por metais pesados), sua aparência (aos 51 anos, com quatro filhos) é de fragilidade, e é de esquerda. Alguns desses componentes já bastariam para inviabilizar sua progressão pelas camadas do poder, mas ela subiu até próximo ao topo com essa combinação toda – e mais alguma coisa.
Tal biografia merece respeito e admiração, mas ela é apenas um pouco mais complicada do que a de Lula, que é outro Silva, onomástica da universalidade subalterna no Brasil. Trajetória como essa pode ser irrepreensível remissivamente, mas pode ser anulada pelo dia seguinte à conquista do máximo de poder, como aconteceu ao atual presidente. Os donos de perfis desse tipo costumam fazer tudo para transformá-los em lendas e mitos, prevenindo as checagens e anulando as críticas. Quando se pensa em Abraham Lincoln, logo vem à mente sua estampa de lenhador, não a figura de advogado, que foi sua verdadeira profissão. O mesmo acontece com Lula, legítimo homem do povo, porque operário metalúrgico, não a do político que fez preparação em tempo integral (e subsidiada) durante quase três décadas, caso inédito na história brasileira. Sem ter que trabalhar mais em outra coisa.
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