sábado, 31 de outubro de 2009

Os tucanos desarvorados

Lúcio Flávio Pinto:

O PSDB do Pará, como na famosa peça teatral, é um drama à procura de autor. Mas pode ser também uma tragédia. Até alguns meses atrás, os pessedebistas que comandavam a máquina partidária tinham um enredo pronto e acabado: o candidato tucano seria o ex-governador Simão Jatene pt saudações. Feita a sagração prévia, seria possível trabalhar o nome de Jatene, projetando-o como uma opção técnica à incompetência do atual governo, à base da massificação subliminar do tipo “éramos felizes e não sabíamos”.

O problema é que essa utopia aguada só poderia ser adensada pela adesão do PMDB de Jader Barbalho, o partido com maior estrutura (e apetite) no Estado. Mesmo sem incompatibilidades profundas e rejeição grave, o nome de Jatene teria a leveza insustentável dos políticos com pretensão olímpica. Jader lhe daria realismo – e peso. Estaria então montada a equação melhor para os tucanos. O problema é que o também ex-governador (e mais ex-coisas do que Jatene foi) Almir Gabriel anatematizou a hipótese, pesada demais para sua capacidade de absorção. Seria a conjunção do ex-amigo que se tornou traidor com o ex-padrinho por si traído – e o doutor Almir abomina estender-se no divã psicanalítico, embora talvez a terapia não lhe fizesse de todo mal (o mal talvez ficasse para o terapeuta, sujeito às iras do profeta tucano, refratário a ouvir verdades).

Almir abstraiu estar no litoral de Bertioga para cuidar de suas orquídeas. Começou a telefonar e a convocar interlocutores. Não satisfeito, voltou a voar para Belém e a articular. Claro, não em causa própria: seu candidato era o senador Mário Couto, que, sem ter o que perder, montou nesse ninho e tratou de picar e cantar para tudo quanto é freguesia. Criou cizânia no PSDB, intimidou correligionários e fez tal alvoroço que o partido ainda não conseguiu definir quando definirá seu candidato governamental. Em entrevista ao sardônico e divertido Diário do Pará, o doutor Almir disse que poderá ser entre outubro e dezembro, mas talvez fique para janeiro, ou, quem sabe, em março, ou – dirão as estrelas – um pouco antes do prazo fatal, em abril. Na undécima hora, comme-il-faut.

Se for assim, do PSDB – e para o PSDB – restarão os ossos do barão, seja lá quem conseguir ser o nome para a corrida ao Palácio dos Despachos. Será a conseqüência da estratégia suicida posta em prática pelo médico Almir Gabriel, na sua busca obsessiva por um terceiro mandato como governador. E da imortalidade.

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