sábado, 24 de outubro de 2009

A volta do tucano

Lúcio Fávio Pinto:

O nível das eleições de 2010 no Pará pode ser avaliado pela única novidade na pré-campanha até agora: a volta do ex-governador Almir Gabriel, que se imaginava fora da política e com domicílio definitivo em Bertioga, no litoral de São Paulo. Oficialmente, o ex-senador é apenas cabo eleitoral da candidatura do senador Mário Couto ao governo, pelo PSDB. Mas se o nome do seu candidato se consolidar, vencendo seu único concorrente, o também ex-governador Simão Jatene, o que poderá impedir seu padrinho de se apresentar como pretendente à câmara alta? E se não houver o bater de chapas na convenção entre Couto e Jatene, atividade que os tucanos abominam, Almir não poderá ser um tertius e arriscar-se à façanha de um terceiro mandato como governador do Estado?

Tudo é possível, até, simplesmente, o doutor Almir retornar ao seu tugúrio no litoral paulista. Mas não agora. Ele recuperou o fôlego para os contatos políticos, os entendimentos eleitorais e as manobras de bastidores. E para a reescrita da história, um exercício ao qual os tucanos, como os demais políticos, gostam de se dedicar, sem restrições, quando as circunstâncias exigem. O doutor Almir abusou desse hábito na entrevista que concedeu à repórter Ana Célia Pinheiro para o blog do deputado federal (do DEM) Vic Pires Franco.

O ex-governador diz que apóia Mário Couto por uma questão objetiva: é o que teria “maiores chances” de se eleger, por ser “mais diligente politicamente e mais aderente à população mais pobre”, dois itens necessários para vencer a governadora Ana Júlia Carepa. E que, por conseqüência, faltam a Simão Jatene (e também ao próprio Almir? A modéstia não deve ter-lhe permitido concluir o raciocínio).

Talvez a avaliação fosse outra se Jatene não tivesse feito “corpo mole” na eleição de 2006, quando Almir foi derrotado por Ana. Esta, segundo Almir, foi a causa da vitória do PT: “um governo bem avaliado só perde uma eleição se fizer corpo mole”, sentenciou o ex-governador, com plena consciência de causa. Aparentemente, uma contradição: tempos atrás ele disse que o mau desempenho do seu ex-secretário na gestão seguinte à sua influiu no resultado de 2006.

Uma revelação do ex-governador: ele só foi candidato nessa eleição porque Jatene, enredado na sua posição contrária ao instituto da reeleição, hesitava em se apresentar ao PSDB. “Nós o convidamos, ficamos até meados de abril, até quando só faltavam seis meses para a eleição, insistindo nisso”. No entanto, contrariando essa nova cronologia, em dezembro de 2005, quatro meses antes, Almir deu imensa entrevista a O Liberal declarando-se à beira do gramado para entrar em jogo, devidamente paramentado.

Mais inusitada ainda é a explicação do ex-governador para a inversão na tendência que apontava a vitória de Almir, com 52% das intenções de voto em 11 de setembro: o acidente com Ana Júlia, que quebrou a perna e, a partir daí, depois de vários dias hospitalizada, apareceu de muleta, com a perna enfaixada. Nesta o doutor Almir caprichou: é a teoria de pé quebrado. Como as histórias que ele apresenta para fazer a sua reentrada na política. Provavelmente não triunfante, como ele imagina, imaginando mais do que lhe autoriza a realidade.

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