Lúcio Flávio Pinto
A carta que o ex-governador Almir Gabriel escreveu para comunicar sua desfiliação do PSDB é um dos documentos mais hipócritas da história recente do Pará. É totalmente utilitário o argumento de que ele decidiu abandonar o partido do qual foi um dos fundadores, “em razão dos atuais desvios dos princípios políticos e éticos que o alicerçavam”. Esses princípios não estavam em vigor quando Almir patrocinou as candidaturas ao Senado de Luiz Otávio Campos, Duciomar Costa e Mário Couto, com currículos nada éticos.
Também não se aplicava então a rejeição que agora Almir exige dos tucanos à Companhia do Vale do Rio Doce (transformado em Rio Amargo, na rancorosa carta do ex-senador). Se seus correligionários de hoje se renderam ao “egocêntrico” Roger Agnelli, Almir chegou a lançar a pedra fundamental da fábrica de cobre da Sabolo Metais, em Marabá, com fanfarra e tudo. O projeto ficou no estouro dos foguetes na festa de lançamento presidida pelo bicudo governador. Uma fantasia para minorar os efeitos do seu azedume.
É igualmente falso que a decisão do PSDB, referendando o nome do também ex-governador Simão Jatene sobre o de Almir, que completou recentemente 78 anos de idade, se fundou “na tola e odiosa discriminação aos idosos”. Almir foi candidato ao governo em 2006, quando tinha 75 anos, e perdeu para Ana Júlia Carepa, do PT, não por ser velho, mas por não concatenar suas idéias, raciocinar com dificuldade e deixar transparecer um estado de espírito próprio não exatamente de velhos, mas de pessoas senis. No entanto, em 1994, ele explorou contra o seu adversários as mesmas características que Jarbas Passarinho, seu adversário, exibiu durante a campanha eleitoral. A carta de desligamento comprova mais uma vez que a história acabou para Almir José de Oliveira Gabriel. Não por estar velho. Mas por estar superado. As orquídeas continuam a esperar por sua promessa de cuidados.
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