terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A saga dos viajantes num livro generoso

Lúcio Flávio Pinto


Há lugares no mundo em que o visitante chega com expectativas ou idéias sobre o que vai encontrar, mesmo quando nunca antes esteve no local. Paris é um desses lugares, mas o detonador do seu fascínio é mais sua história como produto da ação humana. A Amazônia é outro, mas sua marca é mais a do mito, a natureza ainda superando o homem como protagonista. A imagem da Amazônia sempre antecedeu o seu conhecimento. Freqüentemente é a imagem que prevalece e a região acaba sendo substituída naquilo que é, de fato, pelo que seu visitante espera que ela seja, por suas projeções. Daí a variedade extremada na sua definição, desde o celeiro do mundo até o inferno verde.

Como ainda é pouco conhecida, a Amazônia motiva preocupações e teorias sobre o significado marginal ou oculto do interesse do seu visitante. Sem saber com precisão o que ela contém, o brasileiro, seu proprietário putativo, está convencido de que ela é alvo de uma permanente e insaciável cobiça internacional. Um dos agentes ou vetores desse imperialismo imorredouro seriam os cientistas, hoje, como os viajantes, ontem. Apregoando causas humanitárias e armados da ética do saber, eles seriam os pontas-de-lança de apetites geopolíticos e caçadores dos segredos da natureza, hoje associados à biodiversidade amazônica, sem igual no planeta.

Mas dificilmente se chegará ao fim da leitura de Grandes Expedições à Amazônia Brasileira (1500-1930), o livro de João Meirelles Filho, a ser lançado oficialmente em Belém neste mês, com tal concepção. Mais do que um livro, trata-se de um álbum (com 242 páginas) primorosamente editado, com rica iconografia. Passará a ser fonte de referência e de consulta indispensável sobre a saga dos “viajantes expedicionários” ou “viageiros” ao longo de quase quatro décadas e meia de peregrinações pela Amazônia continental, um território que equivale a 5% de toda superfície do planeta e a metade da extensão da América do Sul.

O livro, porém, é muito mais do que uma súmula analítica de 567 viagens, realizadas no curso de 42 expedições, a princípio individuais, depois coletivas, algumas amadoras, a maioria empreendida em bases científicas, de um total de mais de mil que João Meirelles inventariou. Ele reúne informações e apreciações suficientes para estimular uma interpretação mais profunda sobre a contribuição desses homens curiosos ou representantes da ciência.

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