Vera Cascaes
E vocês lembram do epsódio sobre o Manauara que, em uma breve passagem por Belém, escrevia posts ofensivos em seu perfil do twitter para os paraenses ?
Esta semana, li na coluna da Vera Cascaes do jornal "O Liberal", sobre a cotidiana vida de paraenses que migram para trabalhar e morar em terras amazonenses, especialmente devido à Zona Franca de Manaus e suas oportunidades de trabalho.
Como havia dito na ocasião, via twitter, houve casos em que crianças de 5 anos na escola, praticavam o preconceito contra colegas de sala. Há casos de assassinatos. Mas não há o fim de um consenso que persevera há décadas no pensamento dos habitantes nativos da cidade de Manaus, "a capital da amazônia".
Em uma outra ocasião, falarei de uma viagem que fiz a trabalho para a capital amazonense, e quais histórias escutei a respeito do preconceito manauara.
Só para recordar, o manauara, que viajava a trabalho na ocasião, foi demitido por "não compartilhar com as políticas e idéias da empresa onde trabalhava", depois de inúmeros emails enviados às gerências da empresa da qual fazia parte. Fazia.
Leiam a coluna da Vera, que cedeu gentilmente o texto para publicação neste blog, no qual retrata muito bem a questão xenófoba manauara.
E fim de papo! (Vera Cascaes*)
Certas coisas, melhor nem saber. Mas quando se sabe...
Pois é. Na semana passada, escrevi sobre Manaus e, equivocadamente, disse que os manauaras “não estavam nem aí para essa rixa idiota”. Não é verdade, mil perdões.
A rixa, idiota, é mais exacerbada nos amazonenses, quase feroz. Interessante é que nem existe lógica pois desde a implantação da Zona Franca, as coisas têm andado mais céleres lá que cá, enfim.
Recebi alguns e-mails atestando como Manaus tem progredido, mas muitos contam algo que não imaginava tão grave. O paraense é detestado naquelas plagas e isso talvez explique porque não incluímos a bela ribeirinha em nossos roteiros turísticos.
No orkut existem dezenas de comunidades com teor de intolerância regional explicita, praticamente todas criadas por amazonenses. “Odeio o Pará” e “Odeio Paraense forever” são só um exemplo; nelas somos qualificados como sub-raça, preguiçosos, desonestos.
O inverso não chega a ser significativo; o paraense parece mais se defender daquilo que talvez nem compreenda a razão. Eu, pelo menos, não entendi.
Fiquei furiosa; tentei deixar meu teclado “de molho”, afinal, escrever sobre ódios é algo que não aprecio. Sou do bem.
Francamente, apesar de continuar achando que não estávamos prontos para a copa, que o marketing foi uma lástima, que ainda precisamos de educação e blá-blá-blá; tenho certeza que, se me soubesse tão odiada (toc-toc, mangalô dez vezes), o texto seria um pouco diferente.
Em Manaus, parece comum tratarem paraenses como ladrões; assim, “na lata”. Não é na “plebe rude”, não senhor. Num evento social, ao saber que havia gente daqui, um senhor soltou aquela piadinha infame sobre tomar conta das carteiras. As mulheres do Pará são consideradas destruidoras de lares, para ser um pouco mais delicada que a maioria dos adjetivos usados para desqualificar as paraenses.
Em 2006, Márcio Souza, autor da tetralogia ‘Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro’ (Editora Record) comentou o tema no Diário do Amazonas. Lembrou que a rixa entre amazonenses e paraenses tem origem na intolerância e no estigma contra quem vem de outros estados; e que a rivalidade que existiu na época do Império entre o Pará e o Amazonas era “política, criativa e de alto nível”, entre “grandes empresários” que ajudaram no processo de desenvolvimento dos dois Estados. Segundo Márcio Souza, a rivalidade contra paraenses que vão para o Amazonas atraídos ‘pela ilusão da Zona Franca’, é a mesma existente contra todos os brasileiros pobres. “A imigração sempre existiu. Essa intolerância só reflete a irracionalidade das pessoas de cabeça oca. É uma manifestação racista. As pessoas esquecem que os problemas do Pará são iguais aos nossos.”
Cabeças ocas ou não, precisa-se de paciência para não levar a sério histórias que dão conta que os jogos do Remo e Paissandu estão com pouca bilheteria porque a torcida está em temporada no Amazonas. Nos presídios.
No dia seguinte ao anúncio da escolha da sede da copa, a manchete foi “Chora, Pará!”. E alguns anúncios de empregos, para caseiros, por exemplo, ressalvam que paraenses não devem se oferecer.
Por mais que isso me recorde o ódio argentino, fico tentada a lembrar que no Brasil, trata-se de acintoso crime de racismo, conforme a Lei 7716, em seu Art. 1º: “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.” (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97). Trocando em miúdos: pode dar cadeia. No orkut, é só clicar em “denunciar abuso”.
No mais, como diria a Rejane Barros, está encerrada a coluna! E fim de papo.
* A jornalista Vera Cascaes tem 52 anos, e é cronista O Liberal, e publica o blog www.veracascaes.blogspot.com
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