BRASÍLIA- Não há consenso político algum, neste momento, entre os líderes partidários para aprovação do plebiscito para a criação das novas unidades federativas de Carajás e do Tapajós. Segundo o deputado federal Zé Geraldo (PT-PA), as últimas tentativas desenfreadas de aprovar o projeto no plenário da Câmara dos Deputados tiveram intuitos eleitoreiros. O deputado avalia que são necessários pelo menos dez anos de discussões sobre a divisão territorial do Pará para levar a uma consulta popular. Em entrevista a O LIBERAL, o deputado reforça que dificilmente a matéria conseguirá consenso e envolvimento político devido à forma que está sendo conduzida, com o retalhamento do Estado em três partes.
O senhor, que conhece a realidade dessas regiões que estão pleiteando a emancipação, acredita que a divisão vai resolver os problemas da falta de recursos que elas alegam?
Não. Definitivamente, não. Aqueles que defendem a bandeira da divisão usam muito esse argumento de que a divisão apressa as obras sociais que ainda não tivemos até hoje. Na verdade, não é bem assim. O que vai resolver a situação da estruturação das obras sociais no Pará são os investimentos que a União decidir. Por exemplo, o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) está fazendo isso porque nenhum Estado, por si só, tem condições de fazer obras estruturantes. Nenhum Estado fez até hoje. O Pará não fez, nem o Maranhão, nem o Tocantins... todos os recursos, na sua grande maioria, vêm do governo federal. Então, veja bem, aqui no Pará, a região oeste, onde se reivindica a criação do Tapajós, terá quase R$ 30 milhões de investimentos nos próximos anos, incluindo o asfaltamento da Transamazônica e da Cuiabá-Santarém, e a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Então, imagine, que nem o Pará e nem outro Estado, nem o Tapajós, conseguiria fazer isso em poucos anos, assim como a região do Carajás, com a hidrovia Araguaia-Tocantins e outras obras estruturantes, como o PAC do Saneamento. Em Marabá, por exemplo, tem um investimento grande, da ordem aproximada de R$ 100 milhões. Só a obra da duplicação da Transamazônica, dentro de Marabá, está custando R$ 100 milhões.
Esses investimentos não reforçam o sentimento de que, mais fortalecidos economicamente, eles estão mais estruturados para as suas autonomias?
Ao mesmo tempo em que você tem o argumento do abandono, por outro lado, quando se fala em justificativa econômica, essas obras acabam sendo incentivadoras da ideia da emancipação.
E qual é essa conjunturdesfavorável no momento?
Eu não acho prudente querer aproveitar para aprovar o plebiscito nesse momento porque, se aprovar o plebiscito agora, significa que você vai precisar organizar o plebiscito, fazer o plebiscito, porque aprová-lo e não fazê-lo não tem significado. E ao fazer o plebiscito nesse momento, na minha avaliação, as duas regiões correm risco de não terem esse plebiscito aprovado porque algumas lideranças estão tentando passar a ideia de que só as regiões votarão. Dizem que há como buscar um mecanismo de só as regiões que pretendem se emancipar votar. Mas isso não é verdade. Isso é uma informação não-verdadeira, porque todo o Estado do Pará vota. E, naturalmente, há um elemento que, na minha avaliação, não ajuda a bandeira da divisão territorial: estão trabalhando para dividir o Estado do Pará em três. Isto nunca aconteceu. Nós tivemos a divisão de Goiás e do Mato Grosso em dois, mas imagine quando se coloca a divisão do Pará em três. Isso impede ainda mais a formação de um consenso político no Estado. E, não havendo consenso político, não há nem autorização do plebiscito.
Por que a pressa dos deputados?
Têm uns deputados que estão pegando isso como bandeira de campanha eleitoral deste ano. Como eles não têm outra bandeira mobilizadora, eles acabam pegando essa bandeira para mobilizar. E criam uma expectativa que não é real. Criam a expectativa que esses estados já serão criados agora, no próximo ano. Agora, a situação no Congresso é tão crítica, é tão difícil que eles não conseguiram reunir consenso para aprovar nem a urgência da autorização do plebiscito. Inclusive, com a influência de deputados de outros estados, que pediram para retirar da pauta. Isso é só a urgência. Nem a urgência não passou... para você ver. Então, qual é o ponto que eu tenho defendido para todos: em não havendo um consenso político no Estado, dificilmente você cria um clima para aprovar o plebiscito, até de realizar o plebiscito (...). Agora, entre aprovar e fazer um plebiscito na conjuntura atual, é correr o risco de colocar uma população para testar a sua manifestação e acabar não tendo o apoio necessário.
Na sua avaliação, quando será o momento certo para tratar desse assunto na Casa?
Eu acredito que essa reivindicação, esse debate, tanto do oeste quanto do Carajás, vai continuar. Com certeza, daqui a algum tempo vamos ter que nos sentar e fazer uma conversa séria sobre esse tema (...). Mas o Pará, nesse momento, na minha avaliação conjuntural, nesses próximos dez anos, não tem como se dividir em três estados.
Porque essas manifestações se intensificaram agora?
Exatamente porque, nesse momento, ela se transforma em uma ferramenta de debate político. Ela é usada também para fazer disputa política. Algumas lideranças estão aproveitando dessas bandeiras para fazer mobilização política.
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