quinta-feira, 22 de abril de 2010

As “rosas e as pedras” no caminho de um grande partido: o PMDB


Ana Célia Pinheiro



É possível que Jader Barbalho venha a enfrentar, nestas eleições, um dos maiores testes de liderança de sua trajetória.

Até porque, no cipoal de interesses em jogo, é quase impossível ter uma imagem veraz das circunstâncias que determinarão as suas próximas cartadas.

Há questões complicadíssimas que Jader terá de responder, com um bom grau de certeza, apesar desse cipoal.

A primeira é o tamanho da relutância das bases peemedebistas a um eventual acordo com o PT, ou até mesmo com o PSDB.

A segunda é a probabilidade de as lideranças peemedebistas contornarem tal relutância, caso a decisão da cúpula contrarie o desejo das bases partidárias.

A terceira é quanto às condições materiais, objetivas, para uma eventual candidatura ao Governo - e as chances efetivas de sucesso.

A quarta é o tamanho do estrago nos interesses nacionais de Jader, a partir de uma candidatura própria ou do apoio local ao PSDB.

O problema é que são tantos os jogadores a puxar a sardinha para a própria brasa, que o terreno em que se pisa, ao se tentar responder a tais perguntas, pode acabar se revelando uma armadilha, mesmo para o instinto e o olhar aguçado de um Jader Barbalho.

No entanto, é da resposta a essas perguntas que dependerá o acerto da próxima cartada desse grande jogador.

“Para Jader, ocupar o Governo novamente seria como casar com a mesma mulher pela terceira vez – e ainda ter de brigar para casar”, diz-me uma fonte peemedebista.

O problema, observa, é que pesa sobre os ombros do velho cacique peemedebista “o ônus da liderança”.

Em outras palavras: a cobrança de seus liderados para que seja, novamente, candidato a governador.

“É como em 1998. O Jader não queria ser candidato, mas foi - pelo partido. Ele não tinha a menor vontade de fazer campanha e todo o projeto dele era nacional. Além disso, ele havia recebido uma proposta irrecusável de Almir Gabriel: a metade do Governo Estadual, todos os cargos federais, o Senado e a vice e, ainda por cima, ajuda financeira ao PMDB”, recorda.

Ele não estaria inclinado a se aliar nem ao PT, nem ao PSDB, por considerar os problemas do PMDB com as duas legendas.

Daí que Jader estaria a analisar “com a maior serenidade” todas as circunstâncias das quais dependem uma eventual candidatura ao governo.

E faz isso enquanto devora “As Rosas e Pedras de Meu Caminho”, livro de memórias do jornalista (e político) Carlos Lacerda...

Uma parruda Mega-Sena

Nos arraiais peemedebistas há quem calcule que uma campanha ao Governo de um candidato como Jader não sairia por menos de R$ 40 milhões, o equivalente a uma Mega-Sena bem parruda.

E olhem que se está a falar de um candidato conhecido, com um partido de grande capilaridade e que jamais enfrentaria essa parada sem uma forte coalizão.

Nesta semana, uma liderança peemedebista me falou sobre as dificuldades de cada alternativa diante de Jader.

“Como vamos subir no palanque do Jatene e pedir votos para Dilma?” Como você acha que a direção nacional do PT veria isso?”– indaga.

“Mas, também é muito difícil recuperar a relação com a Ana, com o nível a que chegou a distensão. Mesmo quando a gente sai em lua de mel, tem porrada em cima do palanque. Agora, imagine o PMDB e o PT, hoje, em cima do mesmo palanque. E imagine isso, principalmente, no interior”- salienta.

Quer dizer, haveria dificuldades “de lógica diferente”, mas, proporcionalmente idênticas, quer para uma aliança com o PT, quer para uma aliança com o PSDB.

Daí que essa liderança peemedebista defenda, ardorosamente, uma candidatura própria.

Mas aí surge outro problemão: onde arranjar dinheiro para a campanha?

“A falta de dinheiro é a dificuldade, embora já tenhamos alguma possibilidade de adquirir; embora a gente já comece a enxergar alguma coisa”, desconversa.

No entanto, observa mais adiante: o PMDB não desistiu da hipótese da terceira via.

Campanha nacional

Ao longo de doze anos de tucanato, os peemedebistas comeram o pão que o diabo amassou.

Mesmo durante o governo do democrático Simão Jatene, suas prefeituras e a bancada estadual foram lipoaspiradas de tal maneira que até o fidelíssimo Bira Barbosa acabou trocando de canoa.

Do grupo de comunicação dos Barbalho, então, nem se fala: a tentativa de asfixia atingiu das verbas de propaganda ao noticiário, já que era proibido repassar ao grupo até uma simples sugestão de pauta.

O problema é que os peemedebistas também penaram, e muito, nestes três anos de PT – ao ponto de reclamarem de falta de dinheiro até para o pagamento das contas de luz, em secretaria sob seu comando.

É verdade que mantiveram muitos DAS – mas, perderam a esperança.

Em outras palavras: a frustração que sentem é proporcional à empolgação que demonstravam, em 2006, após doze anos de vacas magras.

É pouco provável, no entanto, que o PMDB se alie a Jatene, uma vez que a solidez do palanque de Dilma Rousseff no Norte e Nordeste vai se transformando numa questão de vida ou morte para o PT nacional.

Nos bastidores políticos, o que se diz é que a própria ida da governadora Ana Júlia Carepa à casa de Jader, na última segunda-feira, pode ter sido motivada por isso.

No sábado, antes de embarcar para Recife, diz-me uma fonte, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, teria mantido um diálogo “muito duro” com a governadora, para mostrar-lhe as dificuldades da campanha de Dilma.

“Há uma preocupação muito grande do PT nacional, porque a vitória da Dilma só se configura no Norte e Nordeste” – contou-me a fonte – “E se o Serra colocar 60% a 40% em São Paulo, as coisas complicam. São uns cinco milhões de votos e, no Rio, se considera que a coisa será neutra. A grande aposta é o Norte e Nordeste. E, se rachar, a vaca vai pro brejo. Aliás, no Amazonas, onde o PT contava com um milhão de votos de diferença, já rachou”.

Uma proposta tentadora

Mas, a improbabilidade de fechamento com os tucanos, não coloca o PMDB, necessariamente, nos braços do PT.

Por isso, talvez, a proposta tentadora apresentada pelos petistas aos peemedebistas: dinheiro, máquina, para a campanha – ou seja, uma verdadeira sacola de bondades, nestes tempos bicudos em que os financiadores rareiam, por medo de escândalos.

“A nossa proposta para eles passa pelos interesses naturais de um partido de ampliar as suas bases e bancadas. E isso não é ilegítimo”, diz uma fonte petista.

É claro que uma proposta assim seduz todos os pré-candidatos – quer dizer, boa parte das principais lideranças partidárias.

Mas, até que ponto seduzirá as bases peemedebistas, levando-as a esquecer, ou ao menos a relevar, os sucessivos atritos destes três anos?

Além disso, haverá condições reais de conter aqueles petistas que também parecem agir no sentido da ruptura?

No último sábado, por exemplo, a Democracia Socialista (DS), a tendência da governadora Ana Júlia Carepa, aprovou uma moção de apoio às críticas feitas ao PMDB, pelo deputado Zé Geraldo, da tendência PT Pra Valer.

Além disso, diz-me alguém, integrantes da DS estariam “profundamente incomodados” com a ida dela à casa de Jader, na última segunda-feira.

Tudo porque a visita ocorreu no dia seguinte à publicação de um artigo do ex-chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, no jornal O Liberal, repleto de críticas ao PMDB – o que passou a impressão de que a governadora desautorizou a atitude de seu assessor, talvez, a principal liderança da DS local.

E, se não foi assim, parece mesmo. Até porque a visita de Ana a Jader era para ter acontecido ainda na noite de domingo. Mas, o morubixaba peemedebista já dormia, quando petistas encerraram uma reunião de organização da campanha, na qual a estratégica e surpreendente visita foi decidida.

As pedras e as rosas...

Antes da visita de Ana a Jader, o PMDB vinha empurrando com a barriga qualquer definição.

“Não é para cozinhar as bases” – dizia-me um peemedebista, antes de saber da visita da governadora – “É uma questão estratégica a nível de candidatura. Quando a gente disser o que é, começam os custos e as bordoadas. E maratona, para nós, não dá”.

Tal estratégia, no entanto, já começava a irritar até mesmo petistas que defendem a aliança com o PMDB.

“Não dá para ficar esperando todo esse tempo que o Jader quer; é ficar dependendo muito dele. Não dá para a gente ficar de pires na mão como ele quer, até porque é muito cômodo pra ele”, queixou-se um integrante da Unidade na Luta, uma das tendências majoritárias do PT local.

A visita de Ana, no entanto, parece ter acalmado os petistas e deixado até os veículos de comunicação dos Barbalho “mais contemplativos”, digamos assim...

Ana está otimista e trabalha para uma definição até meados do mês que vem.

Jader não disse que sim – mas, também, não descartou a proposta que lhe foi apresentada.

No meio da semana que vem, ele deve voltar a se reunir, em Brasília, com a direção nacional do PT.

Resta, portanto, aguardar pelos acontecimentos desta semana e da próxima, que deverão lançar algumas luzes sobre a decisão do PMDB e o inteiro teor da proposta que lhe foi apresentada – que, talvez, inclua outros acepipes.

Quer dizer: os próximos dias devem sinalizar como o PMDB resolveu lidar, afinal, com as pedras e as rosas em seu caminho.

Para participar, efetivamente, do Poder. Ou, quem sabe, até para tentar reconquistá-lo.

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