A Fifa, criticada pela lerdeza na tomada de decisões, desta vez surpreendeu pela agilidade: coibiu parte da farra em que se transformou a cobrança de pênaltis, com especial requinte de malandragem no futebol brasileiro. A tal “paradona” estará definitivamente banida a partir do começo da Copa do Mundo da África do Sul.
A providência vem em boa hora. Nos últimos anos, presenciamos casos abusivos, como as paradas em dois tempos, como as de Fred, do Fluminense, e Neymar, do Santos. A cobrança ensaiada, além da óbvia humilhação para os goleiros, representa um caso típico de dupla punição pela quase impossibilidade de defesa.
Quando o atacante chega correndo para disparar o chute e estanca no último instante, fingindo chutar, o goleiro perde totalmente a concentração na bola. Distraído pela ação enganosa do cobrador, fica sem chances de prever para onde o chute será disparado.
Não conheço nenhum estudo sobre os índices de acerto de penalidades com a parada fatal, mas é visível que a vantagem dos atacantes – que já é, normalmente, imensa – torna-se quase total. Uma covardia. Não há antídoto para isso, nem mesmo o velho truque de se adiantar à cobrança, como faz a maioria dos goleiros.
Segundo os goleiros mais experientes, a maneira mais eficiente de tentar fazer a defesa é a posição de espera, procedimento dificultado pelos reflexos naturais do arqueiro, que tende a escolher o canto para se antecipar ao chute. Como o artifício vinha sendo tolerado pelos árbitros brasileiros, começaram a pipocar variações cada vez mais exageradas, aumentando terrivelmente o grau de dificuldades para o goleiro.
A decisão da Fifa e International Board, divulgada ontem, acrescenta uma emenda à regra 14 e cria uma distinção interessante e oportuna. Permite ao atacante fazer a paradinha – fintar o goleiro parando durante a corrida em direção à bola –, mas veta a paradona, proibindo que ele finja chutar uma vez. Ao chegar diante da bola, deve dar o chute imediatamente, sem a pausa que engana. Caso a norma seja descumprida, o jogador será punido com cartão amarelo.
Justiça se faça: a avacalhação do momento dramático mais forte do jogo é obra quase que inteiramente nacional. Nasceu nos anos 60, com sutileza, pelos pés do Rei Pelé (sempre ele), que inventou o breque na corrida para a bola, truque logo batizado de paradinha. Prosseguiu depois com Djalminha e Marcelinho Carioca nos anos 90, ainda com engenho e arte.
A situação só começou a sair de controle nos últimos três anos, com o uso da paradona, gerando muitas dúvidas de interpretação. Enquanto os apitadores nacionais foram permissivos, nos jogos da Taça Libertadores árbitros sul-americanos sempre avisavam aos jogadores brasileiros que a cobrança seria repetida se o recurso fosse usado. Agora, nem precisarão mais avisar, pois o abuso está proibido por decreto.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
A proibição da “paradona”
Gerson Nogueira
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