segunda-feira, 3 de maio de 2010

A prosa do doutor Puty

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal

Valendo-se das costas imensamente largas do poeta russo Vladimir Maiakovski (que glorificou a revolução russa e foi por ela engolido), o assessor especial do governo e pré-candidato a deputado federal pelo PT, Cláudio Puty diz, no seu artigo dominical em O Liberal, que o PT pode estar varrendo da república a “escória”. No Pará, ela se abriga na legenda do PMDB, sob a liderança do deputado federal Jader Barbalho.

A paciência dos petistas com os peemedebistas está se esgotando ou se esgotou. O recado – admite Puty – foi dado pelo também deputado federal Zé Geraldo, “que verbalizou o inconformismo das principais lideranças do PT com a atitude ‘quinta-coluna’ do PMDB do Pará em relação ao governo do qual o partido efetivamente faz parte”.

Estranho. A escória não só dá apoio ao governo federal como é recebida com salamaleques no Palácio do Planalto pelo próprio Lula. Em visita a Belém, seu principal representante político, o ministro das relações institucionais, Alexandre Padilha, desautorizou Zé Geraldo. Disse que ele fala apenas por si, não pelo partido. O presidente regional do PT, João Batista, confirmou. Por quem, afinal, fala Zé Geraldo? E com qual autoridade Puty lhe confere representatividade?

Sem a escória, Ana Júlia não teria sido eleita governadora do Pará em 2006. Isso já é história, mesmo que o doutor Puty se negue a reconhecê-la. Se era apenas uma aliança eleitoral, Ana Júlia não devia ter estabelecido compromissos de governo com o PMDB de Jader Barbalho. Se estabeleceu, é porque a aliança não era apenas para a disputa eleitoral. E não era.

Tanto que os peemedebistas continuam ocupando “espaços estratégicos no governo nas áreas de saneamento, habitação, trabalho e saúde”. E “cerca de 80% das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Pará estão sob o controle do partido de Jader Barbalho”, como Puty declara no artigo. E isso após tantas provas de que essa parte importante do governo “da mudança” estava entregue à escória da república.

O ex-chefe da Casa Civil tem justos motivos para se queixar do jornal do ex-governador peemedebista pelo “exercício do denuncismo desenfreado, fundamentado em acusações falsas e levianas, em intrigas de bastidores, onde até informações enviadas pelo governo em nota oficial são adulteradas para que a versão se sobreponha aos fatos”, como aconteceu na reportagem sobre irregularidades na Secretaria dos Transportes.

O próprio Puty não é neófito em alguns desses procedimentos, que vazavam da corte no Palácio dos Despachos contra Jader e o PMDB. Agindo assim, o PT se mantinha fiel à sua filosofia de poder, aliando-se a qualquer um que possa abreviar o caminho para o topo e depois manifestando nojo ou segregando o aliado de ontem. Só que, em função do autoritarismo e do personalismo de Lula, que impôs uma candidata à sua sucessão que até ele tem dificuldades de carregar, quanto mais o PT, a conjuntura de 2020 difere da de 2006.

Agora, se é possível eleger as candidatas majoritárias federal e estadual, ótimo. Se não, o que importa é quem apóia Dilma. Jader a apóia, mas por seus motivos e pelos de Puty, não quer mais apoiar Ana Júlia, que só voltou a procurá-lo por necessidade vital. Puty bate nele para ver se recupera essa escória para a missão salvífica (ou milagrosa) de manter o PT no poder no Pará. Iniciantes, como Puty, descobrem que a realidade deu uma rasteira nas suas elucubrações políticas e saem em busca de uma base de apoio. Podem acabar descobrindo que, no poder como na vida toda, não há meio honesto, meio ladrão e meio virgem. Mesmo sabendo que o PMDB é escória, o doutor Puty pede-lhe que “continue na aliança que está mudando o Pará”

Ou o partido barbalhista não é escória, ou mudança não há. Pode não caber no verso do poeta nem possuir rima, mas é a verdade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Despachos e Decisões Monocráticas
INTIMAÇÃO Nº 105/2010
REPRESENTAÇÃO Nº 146-96.2010.6.14.0000
REPRESENTANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
REPRESENTADOS: AIRTON LUIZ FALEIRO e JOSÉ GERALDO TORRES DA SILVA
ADVOGADOS: ENOCK DA ROCHA NEGRÃO e Outros
Ficam INTIMADOS os representados, por seus advogados, da parte dispositiva da decisão da Exma. Sra. Juíza Auxiliar Vera Araújo de Souza, proferida nos autos em epígrafe, conforme abaixo:
“(...) Assim, tendo em conta que a aplicação da multa deve ser coerente e proporcional a infração que se quer sancionar, considero, que para o caso em análise a coerência impõe que a multa a ser aplicada deva ser fixada em seu grau máximo para ambos os Representados, porquanto, foi distribuída em diversas camisetas do bloco acima descrito, potencializando a propaganda.
É a fundamentação. Passo a decidir.
Isso posto, julgo procedente os pedidos constantes da Representação Eleitoral e CONDENO JOSÉ GERALDO TORRES DA SILVA no pagamento de multa no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) e AIRTON LUIZ FALEIRO também no pagamento de multa no valor de R$ 25.000,00 (vinte cinco mil reais), nos termos do §3º do art. 36 da Lei das Eleições (Lei 9.504/1997).
Belém(PA), 26 de abril de 2010.
VERA ARAÚJO DE SOUZA - Juíza Auxiliar”