terça-feira, 11 de maio de 2010

Técnico abespinhado, imprensa subserviente

Gerson Nogueira

Mais do que a aspereza verbal de Dunga ou os chiliques de Jorginho, fiquei impressionado com a condescendência crítica dos repórteres de plantão na entrevista que marcou o anúncio da tão esperada lista de convocados da Seleção Brasileira para a Copa 2010, num hotel do Rio. Perguntas que levantam a bola do entrevistado, comentários simpáticos gratuitos e ausência de pensamento minimamente instigante na avaliação dos nomes expostos na convocação.

Tamanha submissão permitiu que Dunga pudesse desfilar sua grosseria sem causa e estimulou até o normalmente contido Jorginho a soltar os cachorros, chegando a debochar de um repórter que confessou que não irá cobrir a Copa. Situações que não são novas em Seleção Brasileira – Zagallo conseguia ser tão ou mais rude que Dunga e Jorginho juntos -, que se originam principalmente da sabujice crônica de jornalistas e radialistas que se preocupam mais em ficar bem com a comissão técnica.

Há uma preocupação indisfarçável em não se “queimar” com Dunga, Jorginho, Rodrigo Paiva e CBF. Paira no ar um certo pântico de entrar para uma invisível lista negra nas entrevistas da Seleção. Quem cobriu Copa do Mundo, como este escriba baionense aqui, sabe que os repórteres (principalmente os de rádio) disputam a tapa espaço, boa vontade e atenção dos jogadores e integrantes da comissão técnica.

Entendo jornalismo de outra forma, sem conchavo ou lobby, por isso não vejo razão para ficar bancando o simpático e evitando questões desagradáveis. Os poucos que se arriscaram a questionar os critérios altamente questionáveis de Dunga foram tratados a patadas pelo treinador, como se estivessem desafiando uma autoridade intocável. Besteira. Ninguém é dono da Seleção Brasileira, nem Dunga, nem Ricardo Teixeira. A Seleção é do povo, por isso repórteres têm o direito legítimo de perguntar tudo sobre ela, mesmo quando as perguntas soem inconvenientes - e quem disse que a imprensa deve ser conveniente?

Mencionar os exemplos de Pelé em 1958 e de Maradona em 1978 foi uma argumentação pertinente. Dunga, como era de se esperar, ficou abespinhado, subiu nas tamancas. Irritou-se com o intrépido Cícero Melo (ESPN) e com Milton Neves, da Band, os únicos que ousaram desafiar o coro do conformismo naquela platéia de jornalistas a favor – ou disfarçando ser do contra. Ficaram ao lado da população, que os autorizou a fazerem as perguntas certas. Estou com eles, evitaram o constrangimento completo.

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