Do Blog do Gerson Nogueira:
Na coluna Mundo, da Rádio Bandeirantes, o analista Demétrio Magnoli expôe uma análise interessante sobre estudo realizado para avaliar os impactos dos grandes eventos esportivos nos países que sediam a Copa do Mundo. Neste estudo, foram estudadas as Olimpíadas de Atenas e de Sidney, a Copa do Mundo do Japão e da Alemanha, além da Eurocopa, em Portugal. A idéia central do trabalho era analisar três fatores centrais, utilizado por aqueles que defendem a realização dos eventos nos moldes atuais: forte impulso ao crescimento do PIB do país sede, o aumento continuado do turismo e se os lucros justificam os investimentos, ou seja, existe a tal recompensa financeira para o país anfitrião.
Os dados apresentados constituem uma quebra da imagem lucrativa que a Fifa e o COI tentam passar desses eventos. Na primeira questão, a respeito do PIB nacional, comprova-se que não existe o tal impulso ao crescimento. A Copa do Japão não impediu o país de entrar em recessão e na Alemanha o impacto econômico foi tão inexpressivo que nem entrou na análise. Quanto ao turismo, o estudo desnuda mais uma farsa. É verdade que o turismo aumentou no ano do evento, mas não se prolonga nos anos seguintes. Mesmo na Austrália, que investiu bastante no crescimento do turismo, o retorno ficou muito abaixo do esperado.
Por fim, a compensação dos custos de tais eventos revela-se uma farsa. Fica comprovado que os custos finais são sempre muito superiores aos custos iniciais que norteiam as análises de viabilidade financeira. Nas Olimpíadas de Atenas, os custos estimados eram de US$ 1,5 bilhões e a
competição acabou custando US$ 15 bilhões. Já na Copa da África os custos iniciais foram orçados em US$ 300 milhões e a conta final deve ficar acima dos US$ 4 bilhões, fora os investimentos em infra-estrutura. Os balanços finais apresentam números da ordem dos US$ 8 bilhões. Em compensação, o PIB do país ficará abaixo dos US$ 3 bilhões de dólares, com um claro prejuízo ao país-sede.
Quanto alguém pergunta se a Copa dá prejuízo, costuma-se dizer que não. Mas, o país anfitrião com certeza não tem números superavitários para mostrar. A Fifa, ao contrário, lucra bastante. A entidade máxima do futebol obriga o país que recebe o evento a conceder inúmeros incentivos fiscais em seu benefício direto. Na África, assim como no Brasil, a Fifa recebeu garantias por escrito de que pagará impostos sobre a comercialização de produtos, direitos de transmissão e
quase todas as formas de receita ligadas à Copa.
O legado deixado pelos grandes eventos esportivos, segundo Magnoli, está totalmente relacionado à capacidade política do país. A verdadeira herança são as obras de infra-estrutura que tais eventos podem agilizar, mas que deveriam ser realizadas com ou sem o evento. Um ponto interessante do estudo apresentado foca uma das questões mais discutidas sobre a Copa no Brasil: os estádios. Com exceção da Alemanha, que possui um campeonato nacional lucrativo, em países como a Áfric
a e até mesmo Portugal os estádios tendem a virar verdadeiras ruínas pós-modernas. O Brasil não deve fugir à regra. Apesar de um certame nacional movimentado, as arenas serão construídas em 12 cidades e muitas tendem a se transformar em “elefantes brancos”. Todas as cidades sedes deveriam apresentar publicamente planos, não apenas de viabilidade financeira, mas de utilização do local pós-evento para evitar que o Estado tenha que intervir no processo de manutenção. Manter uma arena é impossível, levando em conta apenas futebol ou Copa do Mundo.
Em suma, diz o estudo analisado por Magnoli, do ponto de vista econômico os grandes eventos são compensadores para poucos e deixam como grande legado dívidas monstruosas, que serão pagas pela população durante mais de 30 anos. Como o estudo apontou, o único ganho real para o país-sede é o chamado efeito econômico da felicidade. A sensação de prosperidade, criando uma unidade nacional capaz de causar impactos sociais e econômicos, desde que bem aproveitada pela classe política, pode resultar em benefícios para todos. Mas, por ora, conclui Magnoli, só quem está sabendo usufruir disso, no Brasil, é a CBF, que está transformando tudo em uma decisão fomentada por paixão clubísticas e deixando de lado as verdadeiras necessidades do país e das cidades que irão sediar os jogos. (Com informações do blog de Fernando Fleury)
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