Miguel Oliveira
Editor-Chefe
Quando o reitor José de Seixas Lourenço for recepcionar, hoje, com as pompas merecidas, os novos técnicos aprovados em concurso público para o quadro de pessoal da Universidade Federal do Oeste do Pará(UFOPA) terá que enfrentar um incômodo questionamento sobre os critérios de nomeação para cargos de chefia a que esses servidores estarão vinculados.
Na área de comunicação social, inexplicavelmente, a chefia do setor foi reservada a uma advogada que, salvo melhor juízo, deveria atuar na assessoria jurídica ou noutro setor administrativo da UFOPA.
Antes que este arrazoado pareça uma peça corporativista, uma vez escrita por jornalista, quero relembrar que esta dicotomia, ainda nos idos da década 80 do século passado, já era alvo de discussão nos sindicatos e na academia. Frequente era a usurpação de cargos de chefias afins de nossa categoria por profissionais de outra área de conhecimento.
Mas, irônicamente, nos deparávamos com situações da 'casa-do-sem-jeito", uma vez que não havia, àquela época, legislação que normatizasse o setor de comunicação social ou ainda que havia carência de profissionais de comunicação devidamente habilitados para essas funções de chefia. Até em Santarém já há curso de jornalismo, situação impensada até pouco tempo. Portanto, pessoal habilitado não falta, o que derruba a tese de "carência de pessoal" no setor.
Agora, a frente mais de três décadas, há, embora involuntária, uma regressão, considerando o caso da UFOPA. O reitor Seixas Lourenço, com quem mantenho fortes laços de cooperação institucional, há de reconhecer que a indicação de pessoal inabilitado e sem formação específica para chefiar tão importante setor da universidade está na contramão de seus próprios esforços despendidos para dotar a UFOPA, em sua gênese, de um quadro de pessoal competente, habilitado e afinado com as áreas de conhecimento para os quais se destinam os serviços do dia-a-dia de uma universidade federal.
Nada tenho de pessoal contra a indicação da advogada Alda Fernandes para o cargo de chefia. Meu comentário se restringe ao fato de que a UFOPA recentemente admitiu em seus quadros duas jornalistas e ainda há uma há uma terceira profissional da área de comunicação na assessoria de comunicação da instituição. Por isso, soa-me como inconcebível que o reitor, por ação ou omissão, permita que essa situação anômala se mantenha intocada, e que profissionais do setor sejam alijados desse cargo de chefia.
Corrigir esse erro é imperioso ao reitor Seixas Lourenço para que este continue a merecer cada vez mais a confiança e o apoio dos segmentos que sempre defenderam a implantação de uma universidade amazônica, cujo cargos de chefia estão afinados com suas respectivas áreas de conhecimento.
3 comentários:
Prezado Miguel !
Parabéns pela abordagem lúcida e que retrata bem a situação que infelizmente ainda predomina em muitas instituições. Trabalhei em assessoria de imprensa por quase 30anos e presenciei situações similares a que você descreve na UFOPA. O importante é que todos entendam que não há nada pessoal contra esse ou aquele advogado, agrônomo, médico ou biólogo. A questão é bem mais profunda e envolve ética e áreas do conhecimento. Se todos os demais profissionais passaram quatro, cinco anos em uma faculdade habilitando-se para ser especialista em medicina, engenharia, agronomia ou leis, dedicamos esses mesmo tempo nos especializando em comunicação com todos os seus complexos processos e segmentos. Nada mais justo do que sermos de fato e de DIREITO os responsáveis por essas áreas. Como reagiriam os colegas de outras áreas se ocupássemos a assessoria jurídica ou o departamento médico da UFOPA ?
Ainda há tempo de remediar.
Parabéns pela abordagem do assunto. Lembro que a UFOPA, possui além das duas profissionais que já foram chamadas, mais três jornalistas aprovados em concurso público.
Miguel,
Muito acertadamente você diagnostica como regressão a nomeação de uma advogada para o cargo de chefia da área de comunicação da UFOPA, ainda que amenize o fato ao usar o termo "involuntária".
Apesar dos tantos avanços e conquistas, principalmente nas duas últimas décadas, ainda persistem os "feudos" manifestos dessa regressão, como bem observou a Ruth em seus 30 anos de experiência.
Há cinco anos quando entrei no Incra,como assessor de comunicação concursado, encontrávamos muitos DAS ocupando coordenadorias de comunicação. Hoje, felizmente, a situação é outra, os DAS rareiam em nossos encontros nacionais.
Não é o caso de outros órgãos públicos, exemplo da Receita Federal, no qual os cargos de chefia de comunicação são ocupados por profissionais de outras áreas.
As consequências disso são sempre nefastas, tanto para o órgão quanto para a sociedade, em termos de prestação de serviços. Além de questões éticas, implica em prejuízos e desperdícios pagos com os impostos dos contribuintes. Caso de revistas mal elaboradas que foram queimadas, jornais que interessam somente as chefias e por aí afora.
Espero que o reitor José Lourenço não ceda às pressões do QI, que certamente estão sendo feitas, para que fulano ou beltrano ocupe tal cargo, sem levar em consideração o perfil técnico dos "indicados".
Em todo caso, chefia ou coordenação de comunicação tem de ser ocupada por profissional da área, seja de jornalismo, propaganda ou de relações públicas. Quanto mais competente, melhor ainda para o serviço público.
Abraços, Herbert Marcus
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