Observatório da Imprensa
O debate entre os candidatos à Presidência da República foi chato? Foi; mas a culpa, definitivamente, não é da Rede Bandeirantes, que colocou boa quantidade de recursos e de talento em sua organização. O problema é dos próprios candidatos: quando se reúnem as assessorias para fixar as regras, todos jogam na retranca, pois não perder é mais importante do que ganhar. Um dos axiomas dos debates é que vencer não traz vantagens eleitorais, mas perder pode dar prejuízo.
Por isso os tempos calculados, por isso a proibição de um candidato intervir na exposição de outro, mesmo que tenha ouvido bobagens facílimas de desmentir, por isso o planejamento minucioso – que pode chegar a requintes como, por exemplo, guardar para a tréplica uma acusação pesada, que só terá resposta muito adiante. É preciso impedir a qualquer custo que outro candidato tenha um lampejo capaz de dar-lhe vantagem; é preciso criar regras para, se um candidato começar a derrotar o seu, a vitória seja interrompida pelo tempo controlado e o assunto se perca no meio de outros candidatos interessados em outros temas.
E os candidatos, gostosamente, se submetem ao engessamento. Cenas memoráveis – o candidato Reynaldo de Barros acusando seu oponente Franco Montoro de ter cinco aposentadorias, e ilustrando a frase com a mão espalmada para o alto; ou Montoro, no mesmo debate, mandando Reynaldo calar a boca e sendo obedecido; ou Marta Suplicy chamando Maluf de nefasto; ou o aparelho de som comprado por Lula que Collor, com patrimônio muito maior, dizia não poder comprar – tudo isso desapareceu. Os candidatos se vestem com a ajuda de personal stylists, têm frases ensaiadas para emocionar o público (mas, maus atores, dificilmente o conseguem), ignoram assuntos mais áridos, que o público talvez considerasse difíceis demais de entender. Tem de dar programa chato. E pode ter certeza: todos os debates serão chatos, em todas as emissoras, e não só nestas, mas em todas as próximas eleições, a menos que a fórmula seja modificada para permitir que os candidatos se confrontem (e, claro, se eles concordarem).
É por isso que Plínio de Arruda Sampaio teve seus instantes de astro. Como suas possibilidades de vitória são mais ou menos as mesmas de o senador Eduardo Suplicy trocar o "Blowin´ in the Wind" por uma embolada, teve liberdade para dizer o que quis – até mesmo para qualificar-se como radical, ele que foi companheiro na política de Franco Montoro, Carvalho Pinto e Fernando Henrique. Pode falar num limite de propriedade rural de mil hectares, sem explicar como chegou a esse número, nem como fixou tamanho igual para terras de fertilidade e topografia diferentes. Pode dirigir-se ao camponês que, segundo acreditava, assistia ao debate – camponês, naturalmente, acordado à meia-noite. E sem que ninguém lhe dissesse que, se aparecesse um camponês na sua frente, ele não teria alternativa exceto murmurar um "prazer em conhecê-lo".
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