quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Pesquisa mostra quem são os estudantes paraenses

Cursos de Pedagogia e Educação Física concentram o maior número de estudantes que viveram em áreas rurais até os 14 anos: 8,76% /ALEXANDRE MORAES

Cursos de Pedagogia e Educação Física concentram o maior número de estudantes que viveram em áreas rurais até os 14 anos: 8,76% /ALEXANDRE MORAES




Amazônias
ARETHA SOUZA
Jornal Beira do Rio (UFPA)


BELÉM, Pará – Em que tipo de estabelecimento cursou o ensino fundamental e o médio? Qual o estado civil? Quantos filhos possui? Qual a renda líquida mensal pessoal e da família? Para a estruturação do recém-lançado Diagnóstico Socioeconômico e Cultural do Estudante da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Grupo de Estudos em Educação em Direitos Humanos criou um módulo de análise de microdados, com o intuito de reunir as informações por unidades acadêmicas no campus de Belém.


Segundo a pesquisa, alunos matriculados nos cursos da área de educação são os que mais enfrentam dificuldade para concluir a graduação.

O Instituto de Ciências da Educação da UFPA concentra, percentualmente, a maioria dos alunos casados, com filhos, que estudaram por mais tempo em escolas públicas e viveram em áreas rurais até os 14 anos de idade. Do outro lado, a situação é mais favorável para estudantes do Instituto de Ciências Jurídicas e de Ciências da Saúde, os quais oferecem os cursos que, tradicionalmente, têm corpo discente com maior poder aquisitivo em relação aos demais.



O primeiro que aborda a orientação sexual


A partir da análise do Questionário Socioeconômico e Cultural dos Estudantes da UFPA, desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação, é o primeiro no Brasil a abordar a orientação sexual dos alunos. Foi respondido por mais de 12 mil alunos.


O formulário está disponível na página principal do site da Universidade e é constituído por 33 questões relativas à escolaridade, estrutura familiar e econômica dos discentes. Desse total, sete perguntas foram selecionadas para análise. Segundo a educadora Emina Santos, uma das coordenadoras da pesquisa, o diagnóstico é um importante instrumento de gestão para a direção da Faculdade e para a própria Reitoria.


— Por meio dele, é possível identificar o perfil da maioria dos alunos, planejar ações que contribuam para o seu êxito acadêmico e, ao mesmo tempo, apurar prioridades para a maioria do corpo discente, orientando políticas que vão além de reivindicações históricas já superadas pela realidade multicampi da instituição — explicou.


São fatores elementares para que isso ocorra: a capacidade de prover permanência na universidade (moradia, alimentação e saúde, por exemplo), desempenho acadêmico (material didático-científico, estágio, inclusão digital, ensino de línguas e participação político-acadêmica) e formação cultural (acesso a manifestações artístico-culturais, desportivas e de lazer, prevenção a problemas de meio ambiente, sexualidade e dependência química, além de orientação pré-profissional).


Este é o primeiro questionário universitário brasileiro a abordar a orientação sexual. Foi respondido por mais de 12 mil alunos.
Este é o primeiro questionário universitário brasileiro a abordar a orientação sexual. Foi respondido por mais de 12 mil alunos.


Alto índice de concluintes


Conforme uma simulação da taxa de conclusão de cursos de graduação, a partir da Plataforma de Integração de Dados das Instituições de Ensino Superior (PingIfes/2005), a média nacional era de, aproximadamente, 63%, mantendo o índice do século passado praticamente intocável.


No caso da UFPA, essa taxa é superior, 70,71%, uma vez que a quantidade de ingressantes é de 5.811 estudantes/ano e de concluintes, 4.109 estudantes/ano, o que garante à Instituição paraense a 15ª colocação no ranking das 50 Ifes brasileiras. Em relação ao número de ingressantes, a Universidade ficava em 3º lugar e, quanto ao número de concluintes, era a que mais graduava no País.


— Ao reconhecer o seu corpo discente, a UFPA tem a possibilidade de tratar as diferenças sociais com políticas públicas e, também, aplicar os seus recursos em demandas que correspondam às reais necessidades dos estudantes — argumenta Emina.


O professor Alberto Damasceno, também coordenador do Grupo, destacou a importância do tema:


— Outros estudos têm comprovado que a pobreza e a miséria no País não são resultantes apenas da escassez de recursos, mas também de fenômenos que, na verdade, refletem o perverso padrão de distribuição de renda, sobretudo porque, além de elevada, a desigualdade no Brasil tem demonstrado uma impressionante rigidez — assinalou.


Segundo o levantamento, os cursos de Pedagogia e Educação Física concentram o maior número de estudantes que viveram em áreas rurais até os 14 anos: 8,76%. Isso significa que, em tese, eles não contaram com uma rede de serviços que pudesse garantir melhores oportunidades para a sua formação básica.


Quando analisados os dados por instituto, também estão no Instituto de Ciências da Educação os alunos que estudaram por mais tempo em escolas públicas (78%) e os que já possuem filhos (22,3%). A partir desses dados, é possível concluir que esses estudantes têm responsabilidades adicionais em relação aos que não precisam dividir o tempo dos estudos com cuidados com crianças e adolescentes.


Em contrapartida, dos 11 institutos da UFPA, o Instituto de Ciências Jurídicas é o que concentra a maioria dos estudantes com renda líquida mensal acima de dez salários mínimos (3,53%).


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