Lúcio Flávio Pinto:
Jader Barbalho esperava passar dos dois milhões de votos como candidato a senador. Essa votação o consagraria no retorno à convivência dos seus pares na câmara alta, da qual foi presidente e da qual, meses depois, saiu pelas portas dos fundos, renunciando para não ser cassado. Não chegou, porém, aos 1,8 milhão obtidos pelo empresário Flexa Ribeiro, o mais votado de todos, considerado como sem chances quando a campanha eleitoral começou. Jader teve apenas um pouco mais de votos do que Paulo Rocha, do PT, ambos na faixa dos 1,7 milhão.
Antes da apuração dos votos, esse quadro era considerado, se não impossível, pelo menos improvável. O resultado indica o início do ocaso do maior líder político que o Pará teve desde o final do baratismo, a principal fonte de poder entre os anos 1930 e 1960? A resposta não é tão simples quanto parece.
A perda de mais de 200 mil votos entre a realidade e a sua expectativa deve-se não diretamente a qualquer abalo na liderança pessoal de Jader Barbalho, mas à notícia de que seus votos seriam anulados porque o Tribunal Superior Eleitoral mantivera a impugnação à sua candidatura, por ser ficha suja. Uma das coisas que o eleitor brasileiro mais teme e menos deseja é perder o voto. Este costuma ser o maior patrimônio imaterial (e mesmo material) para a maioria da população e há sacrifícios a superar até o momento de exercer esse direito. Milhares de votos migraram de Jader para os outros candidatos.
A esmagadora maioria, seguramente, não para Paulo Rocha, antípoda do PMDB (apesar das relações mais do que amistosas entre o petista e Jader). Esses votos foram para Flexa Ribeiro, graças a um mecanismo colocado em funcionamento pela primeira vez na disputa senatorial no Pará: os principais partidos apresentaram apenas um candidato, mesmo estando em jogo duas vagas. Flexa, que chegou ao senado como suplente de Duciomar Costa, subindo quando o titular deixou o cargo para assumir a prefeitura de Belém, se apresentou como a melhor opção para o eleitor do PSDB e como o segundo nome para o do PMDB. Fez dobradinha virtual com Jader Barbalho, além de aproveitar a onda em favor de Simão Jatene. Já o eleitor petista, que votou em Paulo Rocha para uma das cadeiras, descarregou em favor de Marinor Brito como segunda opção, ao invés de seguir a orientação de Ana Júlia em favor de Jader, dada mais para inglês ver do que para petista aceitar.
Mais importante do que a perda dos mais de 200 mil votos que tinha em sua conta antes da campanha desencadeada pelo jornal O Liberal pelo voto útil, sustentando em seguidas manchetes de primeira página que quem votasse em Jader teria seu voto anulado, foi o fato de o líder peemedebista ainda conseguir ser o segundo mais votado. Com esse desempenho, deixou de fora um dos candidatos a senador pelo PT que mais o presidente Lula apoiou no país.
Mas se um analista isento é capaz de perceber essa circunstância, para o eleitor o que importa é que Jader não é mais o número um, nem voltou a ser o imbatível em que se tornara depois da derrota de 1998. Essa aura, de grande valor simbólico, ele a perdeu. É um prejuízo considerável.
O ex-governador poderia recuperar esse dano funcionando mais uma vez como o fiel da balança na disputa pelo governo do Estado no 2º turno. Os votos do PMDB serão, de fato, decisivos para confirmar a vitória de Jatene ou a – cada vez mais difícil – recuperação de Ana Júlia. Desta vez Jader sabe que saiu enfraquecido do 1º turno e que esperar só o desfavorecerá. Por isso, embora não assumindo a decisão, mandou logo anunciar – por correligionário e pelo seu jornal, o Diário do Pará – que a tendência é de não apoiar nenhum dos candidatos. Mas não falou em Jatene. Mandou dizer, por ora, que não apoiará Ana Júlia. Porque talvez acabe, se não apoiando Jatene, manifestando simpatia pelo tucano. [No domingo, 17, liberou os peemedebistas.]
Isto se o que já parece definitivo de fato se concretizar de direito: a manutenção da sua impugnação pelo Supremo Tribunal Federal. Essa perspectiva se tornou mais forte quando o ministro Joaquim Barbosa foi escolhido para relatar o recurso de Jader contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral. É dado como certo o voto de Barbosa contra Jader (o que induziria a posição também contra Paulo Rocha). O STF estaria disposto a contrariar a vontade da opinião pública, mesmo em defesa do mais ortodoxo entendimento sobre a vigência da lei da ficha limpa já na eleição deste ano e a retroatividade dos seus efeitos? Parece que não. Uma decisão contrária será uma completa surpresa.
Jader já ficou dois anos sem qualquer mandato e sem poder institucional – e não só sobreviveu, como voltou ao controle de um terço dos votos no Pará. Ninguém duvida, nem seus piores inimigos, que mesmo nessa circunstância, agravada por não contar mais com um aliado no Palácio do Planalto (onde o apoio de Lula se esvaneceu e o de Dilma – ou de Serra – não existe), Jader poderia voltar a se eleger deputado federal na próxima disputa que haverá.
Mas provavelmente sem a condição que hoje o distingue de todos os demais políticos em atividade, colocando-o no isolamento de uma posição superior. É o que acontecerá se sua presença dominante deixar de ser entrave para o avanço de outras lideranças, inclusive as que foram mantidas encolhidas dentro do PMDB. Mas, talvez, não aquela na qual Jader mais aposta e da qual mais precisa: a do filho, Hélder Barbalho, prefeito de Ananindeua, o segundo mais populoso município do Estado. Lá, Jatene teve quase 45% dos votos, Ana Júlia menos de 30% e Domingos Juvenil menos de 16%. Sem comando sobre seus próprios domínios administrativos, Hélder não tem a dimensão política do pai. E Jader Fontenele Barbalho já nem é mais o mesmo.
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