quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Hospital Municipal: prédio novo, vícios velhos

Erik L. Jennings Simões

O novo prédio do Hospital Municipal de Santarém construído para realizar os atendimentos de urgência e emergência foi inaugurado às vésperas do segundo turno das eleições majoritárias.  A obra esperada por todos como um marco da melhoria da assistência a saúde da população de Santarém e região já nascia com aquele clima de obra com interesses puramente eleitoral. Correria de última hora e vários materiais e equipamentos emprestados do Hospital Regional foram rapidamente arrumados no novo prédio, para se inaugurar de qualquer forma, pois antes mesmo de nascer o novo pronto-socorro já tinha sua primeira árdua missão de Salvar: tentar reeleger a governadora.  Sua primeira missão fracassou. O pior, continua fracassando na dura realidade de salvar aqueles que realmente precisam, dia após dia.
O prédio é amplo, moderno, bem iluminado e o mais importante: novo! Porém, iniciou os trabalhos sem planejamento e sem a preocupação com a peça mais importante na prestação de assistência a saúde: os recursos humanos.  O mais grave, o prédio novo abriga os velhos vícios de gestão, de infra-estrutura e de equipe médica e de enfermagem.
GESTÃO
Os vícios da gestão dos recursos são caracterizados pelo descontrole do que se compra e do que se gasta no hospital. A lista padrão de medicamentos não é seguida e muito menos atualizada de tempos em tempos. Pode-se notar a falta crônica de medicações como dipirona, decadron, furosemide… E outros medicamentos básicos e baratos que de maneira alguma podem carecer um pronto-socorro.  Não existe um controle de estoque em uso e estoque mínimo de medicação. Quando falta, compra-se ou empresta-se.
Os critérios para remuneração de equipes também não são claros, levando ao desprestígio de uns e favorecimentos de outros, sem levar em consideração a eficiência e resolutividade.  A gestão ainda atua com a velha prática de punir os que criticam e favorecer os que concordam com tudo. Inclusive a própria gestão é punida ou favorecida, de acordo com as relações políticas internas do governo. Até hoje existe o processo de “fritura” de secretários. Ou seja, às vezes o recurso existe, mas alguém mais acima não libera para justamente prejudicar o gestor. No final, quem sente é a população.
 O hospital municipal não é uma unidade orçamentária, sendo tudo centralizado na secretaria de saúde do município. A figura do diretor técnico do hospital só é acionada somente para apagar incêndios, mas não tem liberdade orçamentária para resolver os problemas que estão ali, em sua frente. No final, a desculpa que os recursos são insuficientes não justifica a tamanha falta de condições básicas para assistir alguém doente. Na semana passada, vários leitos da UTI foram interditados pelos médicos, pois não havia remédio para sedar os pacientes entubados.
A gestão comete um grande engano, quando não aproveitou a chegada do Hospital regional, para fazer um bom serviço de urgência e emergência. Ao contrário de fortalecer os serviços de urgência e emergência, o hospital municipal manda cada vez mais, para o regional, os casos que seria de sua competência resolver.
INFRA-ESTRUTURA
A infra-estrutura do novo prédio não contempla o fornecimento contínuo e adequado de oxigênio para funcionar os modernos respiradores que foram adquiridos para a unidade de graves. Até o momento, tem acontecido a velha cena (inadmissível) do familiar bombear manualmente ar e oxigênio para o seu paciente entubado, hora após hora. Além de humanamente humilhante a cena é de uma ineficiência tremenda. Ora se dá demais, ora se dá de menos oxigênio. Já existe queixa no Ministério público de óbito que ocorreu por esta situação.
Os pacientes ficam em salões abertos, sem divisórias efetivas, que nem hospital de campanha, e o trabalho médico é realizado sem nenhuma privacidade para ambos. O novo prédio não dispõe de uma agência transfusional ( banco de sangue) dentro do hospital. O Hemopa é eficiente, mas necessita de tempo precioso para chegar ao hospital, colher a amostra de sangue, ir ao hemocentro e voltar ao hospital novamente com o sangue. Várias vezes o sangue chega só final da cirurgia, comprometendo o resultado.
O centro cirúrgico continua com instrumentais obsoletos, velhos, alguns ainda do tempo do antigo Sesp. Tem cirurgião reclamando que o porta-agulha não segura coisa alguma na hora de dar um ponto. E se esse ponto for fundamental para parar um sangramento, quem será o maior prejudicado?
MÉDICOS, ENFERMAGEM E TÉCNICOS
Os médicos e enfermeiros, em sua maioria não são treinados para atenderem urgência e emergência.  Todos são capacitados, com títulos, currículos, formação acadêmica etc. Mas não têm TREINAMENTO. Estar e ser capacitado é diferente de estar TREINADO. O novo prédio não treinou ninguém. Não existe educação continuada para médicos e enfermeiros. As condutas adotadas no prédio novo são as antigas e muitas vezes ineficientes do prédio velho. Além de tudo, o corpo clínico (os médicos) está desagregado, sem liderança e preso a salários e outros compromissos que os impede de exercerem um direito e um dever de médico, que é denunciar as péssimas condições de trabalho a que estão sujeitos. Até agora nada fizeram para mudar esta situação.
O governo atual tem o mérito de ter tido a iniciativa de construir um novo prédio para pronto-socorro, mas não está tendo a responsabilidade de torná-lo eficiente e realmente novo em todos os sentidos. Saúde não se faz só com prédios e máquinas, mas principalmente com pessoas treinadas e comprometidas em cuidar. Por enquanto, o novo pronto-socorro é apenas um prédio novo, que abriga velhos vícios, muito sofrimento e perdas de vidas que poderiam ter sido evitadas.

12 comentários:

Paulo Cidmil disse...

Erick, apesar da péssima noticia, é sempre encorajador constatar que vc não se omite.
a opinião de um médico conceituado a respeito desse problema crônico que vive nossa cidade, pode tirar os profissionais da saúde da paralisia em que se encontram.
Pode pelo menos fazer pensar, que o silêncio que adotaram como conduta profissional, é o principal responsável pelas precárias condições de trabalho que vc denuncia e que vitima a nossa população.
Me pergunto se um bom salário pode justificar essa omissão que revela tão baixa dignidade.

Anônimo disse...

Miguel pergunta pro Erick quanto ele ganha por mês da saúde indigena do municipios para visitar as aldeias de óbidos (os Zoé)de 3 em 3 meses.Bota vários mil reais.É o sujo falando do mal lavado. è porisso q a saúde pública vai mal!!!!

Anônimo disse...

Erick é declarado médico/politico,sabe que A Ana Julia queria inaugurar o novo PSM e em troca abocanhar votos,agente não reza porque quer ir pro céu? qualquer idiota sabe. Agora criticar o PRIMEIRO PRONTO SOCORRO MUNICIPAL DE SANTAREM, que como ele mesmo admite tem boa estrutura. Agora q falta muito a fazer, falta, mais em 70 anos não se tinha um espaço de pronto socorro na região!!!trabalho no municipal e desafio o Erick a enumerar os equipamentos que foram e sairam depois do municipal pro regional. fala erick!

Anônimo disse...

EI DR, TE CANDIDATAS PRA VER QUANTOS VOTOS TÚ TENS, VC NÃO SABE SE QUER SER MÉDICO OU POLITICO, VI MUITO BEM SUA POSTURA VC E O DR LUIS RODOLFO SÓ APARECE NO MUNICIPAL QUANTO TEM PROBLEMAS PRA RESOLVER, E FAZER DENUNCIAS E FOFOCAS, AJUDE SUA CIDADE, SEU POVO, SE OFEREÇA COMO VOLUNTÁRIO. ESSA SUA POSTURA INFANTO JUVENIL, FAZ COM QUE VC CAIA NO DESCRÉDITO. VC SABE COMO É A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL, VC NÃO É BOBO! OU VC ACHA Q É SÓ SANTARÉM Q ESTA ESSE CAOS Q VC PROPAGA?

Anônimo disse...

Miguel tem gente do PAJU (PV) QUE ESTA TRABALHANDO NA STIL VENDENDO MOTORSERRA. ISSO É HILÁRIO, HA,HA,HA,HA,HA,HA.Enquanto o Erick q vive o tempo todo treinando pra ser politico, e não tem coragem de mostrar sua votação. Esse Paulo Cidmil, parece q vive no mundo da lua, não assiste televisão. O caos na saúde parelha É NACIONAL. Por isso q os presidenciavéis trabalharam nessa direção. Plano de governo da Dilma como prioridade: saúde e segurança pública, mais tivemos epoka q nem ambulâncias tinha, e agora varios avanços ocorreram, concordo q precisa-se de mais médicos, mais insumos. Mais se o Próprio Erick tiver um infarto o local para onde ele será conduzido é o proprio e insuportavel por ele PRONTO SOCORRO MUNICIPAL DE SANTARÉM, o único da região oeste do Pará!!!!

Anônimo disse...

Miguel vejo e comento no teu blog, porquê sei q vc é imparcial!!!!!!parabéns!!!!

Erik L. Jennings Simões disse...

Aos anônimos:

1- Meu Salário na saúde indígena é de R$ 4 600,00 . As vezes chego a ir na aldeia 5 vezes ao mês. O mês que não tem indio doente, nao vou. Pois, não vou fabricar doença em indio de baixo contato, para justificar " produtividade" de branco.
2-Não tenho nada contra inaugurar uma obra e obter votos disso, desde que seja na hora certa e que a maior preocupaçao seja com a vida das pessoas e não primeiramente com o voto.
3-Não pretendo ser político, mas todo médico que trabalha no SUS deve exercer a política cidadã e não se omitir, para tentar ajudar. É isso que insisto em fazer.
4-Se eu sofrer um infarto, com certeza eu vou para o Pronto-socorro, mas JUSTAMENTE por isso que faço críticas, pois quero o mínimo de dignidade e competencia, quando eu e minha familia precisarmos. Alias todos nós, a qualquer momento podemos estar no PS.
5-Enquanto eu estiver sendo chamado quase todas as semanas, em minha casa, por familiares em desespero, para de alguma forma ajudar no Pronto-socorro, é sinal que algo está errado. Devemos lutar por um PS, no qual todos sejam atendidos sem maiores problemas e sem a necessidade da diretora acionar fulano ou beltrano.
6-Gostaria de ouvir críticas mais construtivas dentro do que escrevi, envolvendo a problemática em si.
Obrigado por de alguma forma participarem.
Erik L. Jennings Simões

Anônimo disse...

Pessoal, independente de questões políticas..o Hospital Municipal está um caos.....apesar dos esforços dos que lá trabalham. A Prefeitura precisa se mobilizar com urgência. Os enfermeiros de lá estão dizendo na rua que falta tudo e que trabalhar lá é um risco diário.....
Márcio.

Anônimo disse...

Erik e a turma do cipoal, como sempre

Anônimo disse...

Pelo que sei, Eric não trabaha mais no Hospital Municipal. Pergunto: Porque ele omitiu isso? A respeito do que ele escreveu, é bom que se diga que eleitoreira e falsa foi a inauguração do Hospital Regional no final de 2006, que só foi entregue mas não funcionou de imediato. Tivemos que esperar a governadora Ana Júlia assumir para que funcionasse.O importante é que o Novo PSM é definitivo, depois de mais de meio século com a Urgência de Stm só funcionando em prédio inadequado. É bom também que se diga, Dr. Éric (embora sendo médico parece que o Sr. ainda não sabe, que o Hospital Regionalmão tem Urgência e Emergên cia.

Anônimo disse...

Miguel, estão querendo salgar o secretário. A governadora perdeu a eleição o Carlos Martins também. Logo Maria terá que abrigar o irmão na Sensa e os desemprigados de belém aqui em santarém. Zé Rocha, É gelo, gelo, gelo, gelo, até tú entregar bicho.TE MANDA.Aí tú vai ver o PT investir dinheiro. Erick tú sabe disso que estão pressionando o vice pra entregar, se tiver que matarem gente, eles matam pra se perpetuar no poder.
Jonas Maia Cruz

tereza cristina maia disse...

Olá Dr. Erick. Sou enfermeira e trabalhei há alguns anos atrás na emergencia e na UTI em Stm. Só lamento que a saúde seja vista apenas como trampulim eleitoral e que um prédio novo vá resolver os problemas graves que existem na nossa cidade, enquanto sabemos que a estrutura física não é tudo. Infelizmente ainda vivemos na condição que a visão política é mais importante que a visão técnica, erro grave de gerencia.