Lúcio Flávio Pinto:
As eclusas de Tucuruí, inauguradas na semana passada, não existiam no projeto original da hidrelétrica, que começou a ser construída em 1975. Só em 1979 a transposição da barragem no rio Tocantins foi incorporada, a contragosto. A tarefa foi transferida da Eletronorte para a Portobrás, uma empresa estatal que viria a ser extinta durante a onda de privatização (na contramaré da estatização, esta levada ao paroxismo pelo general Ernesto Geisel).
O serviço só começou em 1981, mas seguiu a passos de cágado até o governo Lula. Em três anos ele liberou um bilhão de reais dos R$ 1,66 bilhão de custo final, segundo os cálculos oficiais. Quando a obra foi retomada estimava-se que sairia por R$ 700 milhões. Graças a aditivos vários, cujos valores superaram o contrato original, a Camargo Corrêa deu partida e colocou em funcionamento o sistema de transposição. Um feito. A empresa está trabalhando em Tucuruí há 40 anos.
Com capacidade para 40 milhões de toneladas de carga, a transposição da barragem de Tucuruí é uma das maiores do mundo – e das mais caras também. Quem podia decidir por ela decidiu que não havia oferta em volume suficiente para viabilizá-la. Por isso ela foi tocada devagar-quase-parando. O potencial agora é grande, mas, depois de tanto tempo, o perfil do projeto mudou: ao invés de servir ao desenvolvimento interno, criando efeitos germinativos locais, se tornará mais uma via de escoamento de commodities para o exterior, no modelo colonial de exploração da Amazônia.
Antes de chegar a tanto, o governo ainda vai gastar muito para que as eclusas façam parte da hidrovia Araguaia-Tocantins, com mais de dois mil quilômetros de extensão. Só para dar plena navegabilidade a um quarto dessa distância, entre Belém e Marabá, serão necessários uns R$ 600 milhões em derrocagens e dragagens.
Por enquanto, os produtores de bens siderúrgicos e minérios é que serão beneficiados. Não mais precisarão fazer o transbordo rodoviário na barragem de Tucuruí nem pagar pela passagem através das eclusas. Só em março o funcionamento do sistema deverá estar regulamentado. Até lá, não haverá pedágios. Para operar a transposição, a Eletronorte receberá R$ 3 milhões do governo, por um ano.
A inauguração das eclusas foi festiva, com a presença do presidente que sai, da presidência que entra, da governadora que não conseguiu se reeleger e outras figuras do partido e da entourage. Não foi o acontecimento glorioso pelo qual tanto se esperou e sonhou.
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