terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O caso Vilaça

Do Blog do Parsifal

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A reportagem da “Folha de São Paulo”, assinada pelo jornalista João Magalhães, revelando as alcovas de um inquérito policial cujo objeto é destrinchar uma suposta rede de pedofilia no Pará, traz à tona o que se passa por trás do palco, sempre que procedimento similar envolve pessoas que cultivam relações que lhes permitem tentar a obstrução do que lhes está no encalço.
O jornalista teve acesso aos autos do procedimento, que corre em segredo de justiça. Segundo ele, a leitura do calhamaço indica que um juiz, dois advogados, um deputado federal, um delegado e uma repórter atuaram para obstruir a justiça na apuração do fato.
O empresário em questão é Antonio Carlos Vilaça, cujas atividades se concentram no município de Barcarena, onde ele, inclusive, foi candidato a prefeito na eleição de 2008. Vilaça foi preso no decorrer do procedimento, mas, está respondendo as acusações em liberdade.
O delegado Edivaldo Lima teria sido subornado para retardar a investigação. O deputado federal Wladimir Costa (PMDB), teria interferido para fraudar o depoimento de uma das vítimas do crime de pedofilia, maquinando para que esta desmentisse depoimento anterior. É imputado ainda, ao deputado Wladimir Costa, o alerta ao empresário sobre a sua ordem de prisão.
Os advogados que teriam participado das tentativas de obstrução seriam Inocêncio Mártires e João Neri.
O inquérito acusa o juiz criminal Carlos Alberto Flexa de ter tentado obstruir o procedimento, usando o celular do próprio empresário para fazer uma ligação à juíza que instruía o processo, com a intenção de persuadi-la a não lhe determinar a prisão.
A repórter de "O Liberal", Micheline Oliveira, é acusada de tentativa de extorsão: segundo a reportagem ela teria pedido R$ 100 mil à Vilaça para não publicar o caso.
Segundo a reportagem a maioria das informações constantes no inquérito foram obtidas a partir de escutas telefônicas. Tais escutas também revelam o uso de nomes de pessoas influentes para alguns atores do episódio se credenciarem.
É o caso, por exemplo, da escuta captada de uma conversa envolvendo dois supostos interlocutores da repórter Micheline Oliveira, quando um deles afirma que os R$ 100 mil que ela tentava extorquir de Vilaça seria a "mordida" exigida por Ronaldo Maiorana, um dos sócios-diretores de “O Liberal”.
O grupo RBA, também foi citado nas escutas telefônicas: Fernando Amaral, que foi candidato a vice-prefeito, pelo PMDB, na chapa de Vilaça, afirma a ele que já teria falado com Jader e a “RBA já estava calada".
Ambos, “O Liberal” e o “Diário do Pará”, deram ampla cobertura ao episódio envolvendo Vilaça, inclusive o estamparam, em matéria de capa, quando da sua prisão, portanto, é evidente que a citação dos nomes não passavam de tentativa de credenciamento.
O delegado Lima alega que jamais participou da investigação, portanto não poderia ter tentado obstruir a instrução, mas, a Divisão de Atendimento ao Adolescente da Polícia Civil do Pará afirma que ele iniciou o procedimento.
Inocêncio Mártires e João Neri negam qualquer envolvimento ilegal e afirmam se ter limitado a todos os meios legais para conduzirem a defesa do cliente.
A repórter Micheline Oliveira classificou o indício que sobre ela pesa de "leviano e irresponsável.".
O juiz Carlos Alberto Flexa confirma a ligação à juíza, mas, alega que a fez do próprio celular e não do de Vilaça.
O deputado federal Wladimir Costa reputa a sua atuação política, que algumas vezes desagradou a Polícia Civil, a tentativa de lhe imputar atos de natureza criminosa: a sua inclusão no processo seria uma vendeta.
O saneamento dos autos e os seus respectivos desdobramentos vão mostrar a Vilaça que ele, ao tentar se benzer, acabou por quebrar o nariz.
As escutas telefônicas gravadas em pouco ajudarão a incriminar os donos das vozes e, no máximo, elas constrangem reputações.
Não se evidenciou qualquer participação de cumplicidade com o objeto da instrução que era o crime de pedofilia. No máximo, poder-se-á indiciar alguém por tentativa de obstrução da justiça.
Mas, no meio das linhas trançadas e dos ruídos da estática que o caso evidencia, o empresário Vilaça continua como suspeito e indiciado do crime de pedofilia, e é aconselhável que enfrente o processo sem subterfúgios ou tergiversações.
Caminhos oblíquos, cada vez mais, acabam dando em abismos cavados com os próprios pés de quem os traça.
A justiça, por sua vez, não pode, e nem deve perder o foco do processo: a suposta existência de uma rede de pedofilia com ramificações no Pará.

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