Lúcio Flávio Pinto
Alguma cidade brasileira está construindo mais prédios altos do que Belém, guardadas as devidas proporções demográficas? Não sei, mas duvido. Belém optou de vez por uma versão ainda mais medíocre do crescimento urbano vertical made in USA. A cidade já tem dois prédios de 40 andares e vários acima de 30. Outros com o mesmo gabarito estão em obras. O perfil urbano definido por arranha-céus se acentua. O horizonte começa a desaparecer em alguns lugares. Por serem os mais valorizados, atraem novos edifícios monstruosos.
Qual a razão dessa proliferação de paliteiros de concreto pela cidade? Lógica, nenhuma. Só a busca do lucro maior, que se sustenta numa visão daninha das nossas elites e num gosto típico de classe média que enriquece, projetando sua sombra sobre todo o tecido social.
O padrão individualista e egoísta se expande graças ao encolhimento do poder público, que vira uma extensão dos negócios imobiliários. Cada um por si e ninguém por todos. Vence o mais forte, o mais poderoso. Em todos os segmentos e setores da sociedade. Do miserável transporte público à construção civil inclemente. Belém ficou uma cidade hostil, árida, selvagem.
Diante dos desafios atuais, o mero saudosismo é uma forma de escapismo. Mas quando se pega uma foto da Belém do início do século XX e se olha para a cidade dos nossos dias, à parte os problemas humanos, muitos dos quais apenas se agravaram desde então, o que salta aos olhos é que antes tínhamos um céu, um horizonte, uma perspectiva que permitia furar a obtusidade da urbanidade equivocada e ver o rio e a floresta. Essa cidade, cujo tropicalismo resistia à insensatez dos seus governantes, está sendo sepultada pelas tumbas camufladas de concreto dos nossos engenheiros.
6 comentários:
"Problemas humanos de Belém se agravaram desde o início do Século XX".
Menos, prof. Lúcio. MUITO MENOS.
Pare com essa visão elitista, por favor. A periferia hoje está numa situação muito melhor do que antes. O povo tem hoje como se manifestar e exigir melhorias.
É um problema que as capitais com quase ou mais de um milhão de habitantes enfrentam. Edifícos pipocam em tudo quanto é parte e a visão do céu vai sendo engolida.
Não concordo, Marcus. Podem se manifestar? Mas desde quando são atendidos. Não creio que se seja visão elitista. Não entedes nada de nada de quem passa por dificuldade. Antes, de um passeio nos bairros periféricos. Fico de cara com que finge satisfação com os políticos. Tu deves ser puxa saco de algum, mané!
Terminei me referindo às "tumbas de concreto" que os nossos engenheiros estão construindo. Uma delas, infelizmente, se materializou no sábado em Belém, com o desabamento de um prédio de 34 andares. Isso é problema de elite? Havia operários na obra. Haveria muito mais se o sinistro ocorresse em turno de trabalho. E mais gente nas ruas. A crise de Belém atinge a todos. Só quem enfia a cabeça no buraco é que não vê, mas certamente vai se afogar na água e na lama, que se expandem do subsolo para a superfície. Lúcio Flávio Pinto
Lúcio, o que é mais importante agora: saber como a coisa aconteceu no Real Class ou refletir sobre o que poderá resultar de toda essa sanha verticalizadora da nossa construção civil? O que a sociedade de Belém pode ganhar e perder com isso a médio e longo prazo? Ah, outra pergunta: qual a tua avaliação da cobertura jornalística local do sinistro?
Lúcio, o que é mais importante agora: saber como a coisa aconteceu no Real Class ou refletir sobre o que poderá resultar de toda essa sanha verticalizadora da nossa construção civil? O que a sociedade de Belém pode ganhar e perder com isso a médio e longo prazo? Ah, outra pergunta: qual a tua avaliação da cobertura jornalística local do sinistro?
Postar um comentário