sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Poeta só

Lúcio Flávio Pinto

Há pessoas que são maravilhosas - à distância (ainda me permito a crase, que não foi feita para humilhar ninguém). A americana Elizabeth Bishop, cujo centenário de nascimento foi lembrado (se tanto) no dia 8, era uma delas. Sua volumosa correspondência, que só guarda paralelo com a da inglesa Katherine Mansfield, é minha leitura permanente. Cada vez que volto às suas cartas descubro uma novidade, vejo as coisas por um enfoque diferente, percebo melhor a mim e ao mundo.
 
Mas pelo que consegui saber de madame Bishop, o melhor relacionamento com ela é esse mesmo. A pessoa que mais a amou, Lota Macedo Soares, sua companheira durante os 15 anos em que a poeta americana viveu no Brasil, se aproximou demais e se queimou. Ao tentar se reconciliar com a amante, que voltara para os Estados Unidos, deu com a cara numa parede de gelo, ficou desconcertada e se entupiu de barbitúricos até morrer, ao lado da amada, em Nova York.

 
A aparente indiferença de Bishop para com a desesperada Lota a tornou execrável para os amigos brasileiros e mais alguns americanos. Não havia, porém, maldade ou mau-caratismo na atitude. Elizabeth Bishop era uma solitária radical, uma órfã plena (perdeu o pai com meses e a mãe enlouqueceu pouco depois). Seu contato mais íntimo era com animais, o ar, a água, os elementos da natureza, a geografia.

 
Com os seres humanos, a melhor via era a escrita. E como escrevia! Dava aos seus leitores a oportunidade de penetrar em sua mente e a partir dela olhar o mundo em torno com a acuidade e a sutileza de uma criança intelectualmente poderosa. Sua poesia é simples, exata, quase naturalista, pura. Um despojamento que só se estabelece nos corpos bem servidos de percepção, como o dela. 

 
Parece fácil escrever quando a lemos. O problema é quando se tenta escrever algo parecido. Na criação universal, ninguém se parece a Elizabeth Bishop em suas excursões invisíveis por Ouro Preto ou Miami, Santarém ou Boston. Ela não era algo externo ao que via. Era como se estivesse em cada coisa, autora e personagem ao mesmo tempo. Teve grandes interlocutores na sua vasta correspondência, como Robert Lowell e Marianne Moore. Só não teve amigos de carne e osso. Por isso, um século depois que veio ao mundo, Elizabeth Bishop é um presente inesquecível para os que a conheceram - de longe.

Um comentário:

Vereador Jorge Serique disse...

Persona non grata em nosso município


A colocação infeliz feita pelo prefeito de Manaus Sr. Amazônico Mendes tem lhe causado muitos transtornos, haja vista as inúmeras manifestações de repudio de todos os setores da sociedade.


Fico feliz pela posição da câmara de vereadores de Manaus, onde aqueles nobres legisladores estudam a possibilidade de impeachment desse prefeito, por falta de ética e decoro como homem público.


Nós vereadores de Ananindeua também votamos moção de repudio a esse gestor, considerando o mesmo persona non grata em nosso município.


Ao povo do Amazonas ou de qualquer outra parte do mundo, informamos que nós aqui em Ananindeua sempre os receberemos com muito respeito e consideração.


AQUI NÃO DIZEMOS PRA NINGUEM “ENTÃO MORRA, MORRA”...., NEM DISCRIMAMOS SUAS PROCEDÊNCIAS, COMO ESSE PREFEITO FEZ COM O POVO PARAENSE.