domingo, 13 de março de 2011

Se o Café Fosse cultivado em São José do Acará?

Por Hélcio Amaral
Do Blog do Paju
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Na metade de século XIX, a máquina a vapor conquistava o planeta, as distâncias diminuíram entre os continentes e um novo sonho passou a ser freqüente na mente dos que amavam a mecânica e a física, fazer o homem voar como os pássaros, e diminuir ainda mais as distâncias que os separavam. Foram inúmeras experiências com homens alados, coleta de gotículas de orvalho, guardas-chuva expostos às correntes aéreas e muitas outras.

Estes mesmos sentimentos brotaram na cabecinha de Júlio César Ribeiro de Sousa, um menino pobre nascido em 13 de junho de l843 na Vila de São José do Acará, Província do Grão Pará, território do Império brasileiro. Sua alfabetização ocorreu na vila natal, com seus familiares. O curso preparatório foi realizado no Seminário Menor de Belém, graças ao apoio recebido do bispo do Pará, Dom Antonio Macedo Costa. Posteriormente ingressou na Escola Militar, no Rio de Janeiro, em 1862 e prestes a se formar, irrompeu a guerra entre o Brasil e o Paraguai. Júlio César pediu baixa da Escola e alistou-se no Batalhão de Voluntários da Pátria partindo para o Paraguai onde permaneceu 3 anos retornando quase ao fim da guerra, chegando ao Pará no começo de l870.

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Em agosto de 1870 contraiu núpcias com a senhora Vitória Filomena do Vale, a qual se tornou a verdadeira parceira na defesa de seus ideais. O balonismo virou moda em Parias, então centro das artes, da ciência, das modas, da aeronavegação onde todos os sábios procuravam descobrir os dois segredos até então desconhecidos: O PONTO DE APOIO NO AR e a DIRIGIBILIDADE DOS BALÕES E AEROSTATOS.

Júlio César, de l875 a l880, passou a interessar-se pelo vôo dos pássaros, tão abundante em Belém à sua época, observando sistematicamente cada espécie, em dias de pouco ou regular vento assim como com bastante vento. Até os insetos passaram a merecer suas observações. Comparando resultados, acabou por entender o mecanismo do vôo tanto dos pássaros como dos insetos. Assim que compreendeu porque os pássaros podiam voar apercebeu-se que o homem também poderia voar, desde que o pássaro mecânico fosse invertido, tivesse asas e lemes móveis e seu corpo tivesse a forma de um pássaro. – FUSIFORME DISSIMÉTRICA AERODINÂMICA.

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De Belém, Júlio César parte para o Rio de JANEIRO, onde publica na imprensa local, vários artigos sobre Navegação Aérea, e solicita uma subscrição popular para cobrir os custos de um grande balão que havia deixado encomendado em Paris e que viria a ser o segundo Dissimétrico Aerodinâmico do mundo, o qual denominou de SANTA MARIA DE BELÉM. No dia 29 de março de 1883, no pátio externo da Escola Militar, na Praia Vermelha, Urca, fez demonstração do ¨LE VITÓRIA¨ presente a população da cidade, onde se encontrava como convidado especial o próprio Imperador do Brasil, Dom Pedro II.

O Jornal do Comércio, do dia seguinte, faz um exaustivo relato da demonstração, confirmando que o Balão subiu a l20 metros de altura e conseguiu andar contra o vento. O Governo Imperial convencido do sucesso concedeu-lhe um auxílio de 200 mil francos franceses a serem recebidos parceladamente e o restante a ser arrecadado por meio de doações, subscrições, leilões e bazares a serem realizados em todas as Províncias do Império.

Informado da conclusão do SANTA MARIA DE BELÉM, de 50 metros de comprimento, Júlio César parte para Paris e lá verifica que o balão não está de acordo com a encomenda o que faz aumentar o custo que vai além dos recursos disponíveis obrigando-o a solicitar das províncias brasileiras um auxílio especial, tendo sido atendido com 16 mil contos de reis, pela Província do Amazonas, fato que fez atrasar o projeto por mais de um ano. Por falto de recurso técnico na cidade de Belém, para repor uma peça danificada na hora da montagem, o balão foi guardado dependurado na nave central da Catedral de Belém, à época em reparos, transformando-se assim, no primeiro HANGAR DO BRASIL. Lutando sem recursos financeiros para patrocinar suas viagens a Paris e para fabricar o gás necessário à experiências o grande Júlio César Ribeiro de Sousa, viu seu invento ser plagiado por Renard e Klebs, usado no seu balão LA FRANCE, consagrando-se num verdadeiro roubo científico. O clamor de Júlio César, e os protestos do Instituto Politécnico, com apoio do ImperadorPedro II não conseguiram impedir os dois franceses de continuarem usando os princípios científicos descobertos e patenteados por um dos mais gloriosos filhos do Pará.

O Pará homenageia o filho ilustre dando seu nome ao Aeroclube de Belém e a principal avenida que leva ao Aeroporto de Val de Cães. A este ilustre brasileiro do Pará, cabe perfeitamente a célebre frase do presidente norte americano Abrahan Lincoln: “O QUE IMPORTA O NINHO SE O OVO É DE ÁGUIA”

Se o café tivesse sido cultivado na então Vila de São José do Acará, gerando grandes recursos, provavelmente o pai da aviação teria sido paraense.

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