terça-feira, 26 de abril de 2011

Ápio Campos, o pastor dos jovens


Lúcio Flávio Pinto

Meu primeiro jornal de circulação externa foi O Social, de 1964. Como o título era um tanto ambíguo, pretendendo abordar tanto as “questões sociais” quanto o mundanismo social no Clube de Jovens da Paróquia da Trindade, que eu então freqüentava, troquei-o para O Combate. As duas versões eram impressas num mimeógrafo a tinta do Centro de Letras da Universidade Federal do Pará.

Já era um avanço tecnológico em relação ao mimeógrafo a álcool, que eu cheguei a usar. Com maior disponibilidade de papel, pude aumentar a tiragem para 100 exemplares, distribuídos gratuitamente aos distintos leitores graças à generosidade do diretor do curso de letras da UFPA, cônego Ápio Campos.

Não bastava sua autorização, porém: era preciso que “seu” Alonso se dispusesse a ir aos sábados à sede do curso, na praça Coaracy Nunes (mais conhecida por “Ferro de Engomar”), que hoje se restringe a paredes, que escondem uma insólita quadra de esportes, nesta Belém sem miolo, sem conteúdo, sem essência. E lá ficávamos quase toda a manhã, fora do expediente, para não prejudicar as atividades regulares da instituição.

Sempre em disponibilidade para os jovens, o cônego ainda aparecia nas sessões de sábado à tarde, dedicadas às palestras, quando não tínhamos uma festa do arromba, mora! O cônego era uma alma tolerante, parcimoniosa e fecunda. Seu casarão na Rui Barbosa não só estava aberto aos amigos como se tornou abrigo de gente inteligente que Ápio Campos promoveu, instruiu e encaminhou para a vida, cumprindo sua missão de pastor.

Cumpriu-a enquanto teve forças e lucidez, até um tempo atrás, quando imergiu em dramas pessoais que se sucederam até o dia 15, quando morreu, aos 84 anos. Carregou consigo a estima, a admiração e o reconhecimento de centenas de jovens, para os quais sua luz e aquele seu sorriso de aprovação serviram de guia e inspiração.

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