Rodolfo Landin*
É essencial discutir Belo Monte, já que condenar a sociedade a ficar sem energia é algo indefensável |
Ouvi falar pela primeira vez de Belo Monte nos anos 70, quando ainda era estudante universitário. Vivíamos um momento mágico na engenharia nacional, com grandes obras em andamento, entre elas as usinas hidrelétricas de Itaipu, Tucuruí, Sobradinho e Itumbiara, onde cheguei a trabalhar.
Como engenheiro em formação, orgulhava-me de pertencer a uma sociedade capaz de pensar grande, otimizando o aproveitamento de seus recursos naturais, em tempos nos quais o benefício de poucos, por mais justificado que fosse, nunca conseguiu barrar o interesse coletivo.
Belo Monte seria uma futura joia da coroa. Situada no rio Xingu e projetada para mais de 11.000 MW, ela seria a maior usina hidrelétrica inteiramente brasileira, menor apenas que Itaipu, projeto binacional localizado na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Após vários anos, por incrível que pareça, Belo Monte ainda atravessa seu calvário.
Foram inúmeros os ataques enfrentados que não só emagreceram seu perfil como continuamente ameaçam a sua construção. Sua barragem, que deveria ter a capacidade de armazenar grande quantidade de água durante o período de cheia do rio e utilizando-a mais tarde para a geração de energia, foi tremendamente reduzida.
Muito menos energia será gerada ao longo da vida do projeto.
Além disso, existem 13 ações do Ministério Público em andamento contra a execução da obra e ocorrem até mesmo pressões externas para a paralisação da mesma. O ex-presidente americano Bill Clinton esteve no Brasil para fazer lobby contra Belo Monte, alegando impactos socioambientais de obras na Amazônia. "Coincidentemente", ele foi seguido de um posicionamento da OEA sobre o assunto.
Chega a ser engraçada a crítica de Clinton a um megaprojeto de energia renovável, tendo ele se negado a assinar o Protocolo de Kyoto e sendo ainda ligado partidária e matrimonialmente à alta administração de um país qu e colocou exatos 6.682 MW de térmicas a carvão em operação em 2010, maior acréscimo ocorrido nos últimos 25 anos.
Devemos também refletir sobre a abrangência dos estudos de impacto ambiental. Neles, são minuciosamente avaliados os diversos tipos de impacto de um empreendimento, cobradas medidas compensatórias, mas tudo com foco específico no projeto analisado.
E são análises assim que levam a decisões como a da redução do lago de Belo Monte.
Mas algumas perguntas ficam sem resposta. O que terá de ser feito para suprir o país com a energia que ela não gerará tanto pelas restrições já criadas como também caso as ações judiciais impeçam ou mesmo atrasem sua construção? Implantar novas térmicas a óleo, a gás natural, a carvão ou nucleares? Seria menor o impacto ambiental dessas medidas?
A decisão quanto à limitação imposta a projetos dessa natureza só deveria ser tomada após uma análise abrangendo os efeitos causados por um projeto substituto, já que condenar a sociedade a ficar sem energia é algo indefensável. Essa discussão se reveste de maior importância por ser boa parte do potencial de geração hídrica do país associado a usinas de baixas quedas na bacia amazônica e inúmeros projetos de aproveitamento energético poderão ser inviabilizados.
Certamente, a redução da geração hídrica futura traria uma enorme felicidade aos fabricantes de turbinas no país de Clinton. O mercado potencial de uso desses equipamentos para geração de energia cresceu muito no Brasil, fruto das expectativas de altas produções futuras de gás provenientes do pré-sal.
O presidente da General Electric veio ao Brasil na comitiva de empresários com Obama e não escondeu sua vontade de explorar oportunidades no nosso país, o que também ajudaria a recuperação da combalida economia norte-americana, que vem avidamente procurando ampliar, desde a crise de 2008, mercados para seus produ tos.
Por fim, vale o registro de que a consciência ambiental evoluiu muito na sociedade moderna, algo muito positivo, mas não pode chegar ao ponto em que o desenvolvimento, por mais sustentável que seja, possa ser visto como algo fora de moda.
*RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora.
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