Lúcio Flávio Pinto:
Elizabeth Taylor era uma estrela. Dizer que foi a maior estrela da galáxia de Hollywood é pouco. Ela foi uma autêntica estrela do firmamento, um ser dotado de tanta luz que criou seu céu pessoal (brilhando mesmo quando esse universo degenerava em inferno).
Não era apenas por causa daqueles olhos sedutores e únicos, um luzeiro violeta que transformava os homens em Ulisses mitológicos, dispostos a tudo para continuar no rumo dessa luz (mas aos quais era preciso que se acautelassem, amarrando-se a cordas para não sair atrás da auto-destruição pelo canto da sereia hollywoodiana). Era toda a composição do rosto, a cútis, a expressão. Uma mistura de angelical e diabólico, de evidente e misterioso. Um festim e uma consagração.
Eu ainda usava calças curtas quando fiquei apaixonado – platonicamente, é claro – por aquela imagem projetada na tela no indispensável escurinho do cinema. Era a boneca viva, o modelo ideal da beleza pura. Dez anos depois, já adolescente e no underground, me maravilhei com ela, gorda, desaforada e desbocada, em Quem tem medo de Virgínia Woolf?, peça de Edward Albee que cresceu (fenômeno raro nessa transposição) ao passar para o cinema, graças a Mike Nichols. Elizabeth Taylor e Richard Burton não interpretaram papéis: levaram para a encenação sua vida real. Para mim, foi o momento máximo da atriz, raramente alcançado por qualquer outra em todos os tempos na arte da interpretação, que ela projetou ao nível mais alto.
Liz Taylor morreu, aos 79 anos, transfigurada pelos excessos, inclusive os de doenças. Mas quem prestou atenção a essa imagem final, que nunca foi de decadência? Como milhões dos seus fãs espalhados pelo mundo, lembrei tudo que ela acrescentou às nossas vidas, com sua beleza, suas palavras e sua condição de estrela solitária num cenário longínquo e íntimo.
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