Antenor Giovaninni
Há algum tempo o Padre Edilberto Sena publicou nesse espaço um texto passando informações desencontradas a respeito de produção de grãos na região principalmente, acusando a moratória como sendo algo falso e manipulável. O título da matéria foi: “ A farsa da moratória” . Sem querer gerar mais polêmicas, gostaríamos apenas de registrar determinados fatos em cima do seu texto e dessa forma esclarecer de forma racional e sem revanchismo dados para que não gere em quem desconhece o assunto, desencontros de informações e dessa forma cada um tenha o discernimento de aceitar ou não:
Produtor rural não abre floresta. Isso tem um custo absurdo. A derrubada da árvore, o corte da madeira, o transporte, a limpeza do terreno, o arrancar de tocos e paus têm um custo enorme. Um produtor rural para executar esse tipo de trabalho com objetivo de plantar o que for, levaria anos para obter retorno do investimento. Não vale a pena. Produtor rural sempre irá usar uma área já aberta por alguém. Antes dele com certeza virão: o grileiro (sempre ele chega em primeiro lugar); hoje se observa esse trabalho de desmate sendo realizado por assentados e isso por questão de sobrevivência, já que nossa política de assentamento consiste em assentar e largar. Com isso, muitos assentados passaram a executar esse desmate por pura necessidade de sobrevivência. Depois deles vem o madeireiro. Esse tem estrutura, interesse, e necessidade de trabalho. Depois ainda pode vir, numa área aberta, o pecuarista cujo trabalho se resume em abrir pasto e lançar o gado. Depois e somente depois essas áreas poderão ser procuradas por produtores rurais. Mas, querer dizer que ele desmata para produzir soja, milho ou outra cultura não faz qualquer sentido pela simples questão de “custeio versus retorno”.
Para se ter idéia, hoje para 14 horas de trabalho para corte de mata virgem, o custo deve girar em torno de R$ 5 mil reais sem considerar limpeza com tocos, paus etc. Imaginem qual o custo total para um produtor limpar uma área que consiga ter um mínimo para plantio de uma cultura mecanizada.
Antes da moratória da soja já existiam leis, principalmente no Pará onde há o maior número de leis ambientais, que deveriam proteger o meio ambiente e evitar o desmatamento. A moratória é apenas um instrumento mediante o qual as empresas são obrigadas a mostrar de onde vêm suas compras. Basta verificar e ver qual empresa não esteja cumprindo. Para a maioria dessas empresas citadas, se torna muito mais prejudicial serem apontadas como compradoras de mercadoria de área ilegal do que perderem uma compra. Com certeza todas elas optam por perder compras a se arriscarem por poucas toneladas. Deveriam ao invés de cobrar o cumprimento da moratória, fazer com que os municípios através de suas secretarias de agricultura se interessassem em acompanhar o que ocorre em volta de cada nariz.
Quanto à afirmativa de que o desmatamento aumentou por causa do preço, isso é simplesmente ilógico , haja vista que os preços são baseados em cotações internacionais e um dos principais fatores de influência na oscilação dos preços atual é o fato da China ter alardeado aumento em suas compras de soja brasileira o que certamente fez com que os preços aquecessem. Caso haja sobra do produto com certeza o preço tende a descer. O aumento de desmate não altera uma questão que depende do mundo consumidor.
Santarém de há muito exporta mais de um milhão de toneladas e isso desde meu tempo como gerente da empresa exportadora (e já faz um tempinho que eu me aposentei). Basta fazer conta simples: considerando-se 2 navios em média por mês, com capacidade de 60 mil tons cada um, em dez meses de trabalho de exportação teremos 1.200.000 mil toneladas de produto enviado para o exterior. Não é de agora. Além disso, a empresa aguarda aprovação do EIA-RIMA para exportar até 4 milhões de toneladas/ano que é sua capacidade operacional. Nada alarmante se considerarmos que na linha da BR 163 onde se localizam Sinop, Lucas do Rio Verde e principalmente Sorriso (maior município produtor de soja do País) a produção de soja atinge 7,0 milhões de toneladas com dados da última safra. Considerando que a empresa exporte as 4 milhões de toneladas que correspondem à sua capacidade, ainda sobram 3 milhões para que as demais exportem. São números antigos que de há muito aguardam a conclusão da BR 163 e que devem ser revisados e atualizados. Não tem nada a ver com o atual aumento do desmatamento. São números antigos.
Há, ainda, outro dado importante. Tomando-se por base o estado do Mato Grosso, e admitindo-se que o produtor rural realmente desmatasse para produzir, os maiores aumentos de que se tem noticia conforme os últimos dados fornecidos pela CONAB São de aumento de 13% na produção de cana de açúcar, 8% na de girassol. 6% na soja e 5% na de milho. Ora, porque seria tão somente soja é tida como a tal vilã? .
A Secretaria de Agricultura do Estado do Pará, ainda que baseada em dados antigos considera que Santarém/Belterra possuem 300 mil hectares de áreas já antropizadas, ou seja, já abertas muito antes da chegada da soja. Nossa produção quando muito atingiu 30 mil hectares de área plantada, ou seja, 10% do total já aberto. Portanto, se nesses anos todos alguém deixou de plantar e cresceu um capoeirão e de repente isso foi limpo para produção de soja, isso não significa que houve desmate. Seria meio difícil alguém desmatar o que já foi há tempos desmatado.
Respeito o direito do padre Edilberto de emitir opiniões, mas, em muitas ocasiões, seu discurso tem sido repetitivo e, o que é pior, flagrantemente carente de embasamento mais realista e não simplesmente, meros fundamentos ideológicos que, com todo o respeito, só levam à desinformação e ao ressentimento, instrumentos que só contribuem para o entrave do desenvolvimento sustentado da nossa região.
(Antenor Pereira Giovannini – aposentado e agora comerciante e morador em Santarém-PA)
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