Sebastião Imbiriba
É um dia nublado, ameaçando chover novamente, o computador indica 22 graus lá em baixo, ao nível do mar. Aqui na encosta da montanha, no meio da floresta atlântica, no condomínio onde residimos, deve estar uns dois graus abaixo, mas não venta como ontem, no início da tempestade, quando o fornecimento de energia elétrica foi interrompido por algum galho derrubado sobre a rede de transmissão. Agora o ar permanece sereno, a tranquilidade domina o ambiente e meu espírito vagueia pelas lembranças de minha juventude na terra natal.
Antiga usina de luz. Foto: arquivo Jornal O Estado do Tapajós |
Lembro da Usina de Luz, onde hoje funciona o Mercado Municipal, na Praça Rodrigues dos Santos. Eu ia lá admirar aquela que me parecia enorme termoelétrica, a fornalha queimando lenha, a caldeira soltando vapor e fazendo mover o motor, tudo para acionar um pequeno gerador elétrico, acho que fornecia uns meros 50 KW que mal davam para iluminar precariamente as ruas da frente no centro da cidade com luzinhas que mais pareciam lamparinas. A fornalha era alimentada desde cedo para fornecer vapor suficiente das seis às nove da noite quando os apitos da usina anunciavam o acender e apagar das luzes.
Quando a usina apitava era hora dos rapazes se despedirem, porque nenhuma moça de família namorava depois que a luz apagava. O pai pigarreava, a mãe vinha espiar e dizer entre dentes: "Tá na hora". Acabava o namoro e iniciava o caminho da Fuluca, das Sete Bandeirinhas, onde a bebida, a música e as mulheres à luz de candeeiros estavam disponíveis a noite toda. Mas eu era congregado mariano e não podia frequentar tais lugares, então ia visitar residências com pais menos repressivos namorar meninas mais liberais.
A sessão do Cinema Olímpia terminava às nove, justo quando iniciava o apagão. Por isso as meninas tinham que ser sempre acompanhadas por responsáveis, os próprios pais, irmãos mais velhos ou tios. Sempre equipados com lanternas para iluminar os caminhos. A Avenida Tapajós não existia. Só a Rua do Comércio (Lameira Bittencourt), Siqueira Campos, Marechal Floriano e o trecho da Adriano Pimentel diante da Prefeitura eram pavimentadas, com esgoto a céu aberto. As demais vias eram de terra batida e muitas não passavam de areais que dificultavam a passagem dos carros de boi. Caminhões e carros eram apenas dois ou três de cada. O carro do Von, pai do Alexandre, era o único que transportava passageiros.
A Rádio Rural ainda não existia, não havia energia elétrica nem Frei Juvenal, o precursor de padre Edilberto Sena. Quem precisasse de energia durante o dia tinha de instalar seu próprio gerador diesel-elétrico. Era o caso das Prensas de juta que funcionavam na Rua do Imperador, a fábrica de gelo do Bar Mascote e a do Guaraná Sacil, a primeira de Santarém, que fornecia força para nossa casa no horário comercial.
Finalmente o sonho de Silvio Braga se realizou e a hidroelétrica do Palhão foi inaugurada com muitas festas e seus 40 MW, suficientes para acalentar o início do desenvolvimento econômico da cidade. Foi uma alegria, assim como agora que a Light restabeleceu o fornecimento de energia e eu posso escrever estas recordações.
A carência de energia é um dos maiores empecilhos ao desenvolvimento e bem estar da Humanidade, como nestas horas em que fiquei no apagão, isolado do Mundo, do conhecimento, da informação, dos parentes e amigos, imaginando como fica infeliz e triste a vida sem eletricidade. E sem Internet.
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