Lúcio Flávio Pinto
A capacidade instalada mundial de aço alcançou a incrível marca de 1,8
bilhão de toneladas. A produção efetivamente realizada é de 1,5 bilhão
de toneladas. Os grandes fornecedores de minério de ferro, naturalmente,
temem a queda da demanda em função do excesso de produção de minério e
da redução do consumo das siderúrgicas.
Como
explicar que, nesse contexto, a antiga Companhia Vale do Rio Doce
esteja realizando o maior investimento da sua história (e o maior de uma
empresa brasileira atualmente), de 40 bilhões de reais, tendo como
objetivo principal quase duplicar a produção de Carajás, de 130 milhões
para 230 milhões de toneladas?
Não
se trata de uma iniciativa aleatória. A Vale parte da premissa de que o
setor de aço pode entrar num período de dificuldades, que provocará o
fechamento de altos fornos de menor competitividade ou qualidade
inferior. Mas o mercado transoceânico de minério não será abalado por
esse ajustamento na estrutura siderúrgica. Por serem estáticas, sem a
capacidade de se mover e circular pelo mercado que tem o minério, as
usinas estão sujeitas a um efeito muito maior do que as mineradoras.
Além
disso, a Vale conta com uma arma poderosa: a excepcional qualidade do
ferro de Carajás, sem competidores à altura. Os clientes chineses e
vários outros na Ásia, principalmente os japoneses e coreanos, mas
também os indonésios, os vietnamitas e os tailandeses, contarão com esse
diferencial de pureza para ter maior rentabilidade e, dessa maneira,
garantir a viabilidade dos seus parques siderúrgicos. A Vale está certa
de que essas circunstâncias geográficas a favorecem sobre os
concorrentes na China.
É o que se deduz da entrevista que Murilo Ferreira, o presidente da companhia há mais de um ano, concedeu a O Globo.
Como cada vez mais a economia internacional se deslocará para a Ásia, o
peso crescente que a distância representa na competição com os
fornecedores mais próximos, os australianos, impõe eficiência no
transporte do minério. Contrariando o que parecia ser a lógica, a Vale
está se desfazendo dos grandes navios, os Valemax, que encomendara aos
estaleiros da China e da Coréia. Para substituí-los, está construindo
centro de distribuição na Malásia
Ao
responder, Murilo Ferreira deu informações importantes. Disse que a
Vale entrou nesse negócio “porque o mercado de frete enfrentava
volatilidade excessiva nos preços. Em 2008, o preço do minério de ferro
chegou a US$ 200 (a tonelada) na China, sendo US$ 80 pelo minério e US$
120 do frete. Hoje, o frete está entre US$ 20 e US$ 25, e o minério de
ferro a US$ 135 na China. Então, passou-se a dar o devido valor a quem
está produzindo. O Conselho de Administração tem aprovado a venda desses
navios e a contratação de frete por longo prazo”.
A
Vale já vendeu quatro dos 19 navios próprios que possuía “e levaremos
ao Conselho um número importante em breve”, disse Murilo, acrescentando:
“A nossa orientação é pegar esses recursos e investir no negócio
principal, desde que haja garantia do frete”.
Eis
um tema grave a investigar: por que, num primeiro momento, a Vale
desfez a frota da Docenave, a maior do mundo em graneleiros, e, no
segundo momento, a refez, para agora passá-la em frente de novo? Quais
as razões reais desse procedimento? Qual o montante dos prejuízos em
função dessas mudanças de diretriz?
A distinta podia se permitir dar as respostas.
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