quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O mensalão foi roubo de dinheiro do povo



- Relator do processo do mensalão o ministro Joaquim Barbosa foi ao ponto na última segunda-feira: houve desvio de dinheiro público nas operações engendradas pelo Partido dos Trabalhadores.

- Em palavras mais simples, a população brasileira foi roubada nas tenebrosas transações que visavam manter o projeto de poder petista por meio de vultosas mesadas a parlamentares da base.

- Sem tergiversar, Joaquim Barbosa afirmou que dinheiro do Banco do Brasil abasteceu o esquema. Mas especificamente, do fundo Visanet, também suprido por fontes privadas. O BB é proprietário de 32,3% das ações desse fundo, que financia a publicidade do cartão Visa.

- Rigoroso, o relator ainda pediu condenação para mais um envolvido: o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. O petista poderá ser sentenciado por peculato, crime cometido quando um funcionário desvia bens públicos para proveito próprio ou de alheios.

- Para relembrar: em 2005, a CPI dos bingos revelou que Pizzolato recebeu um pacote com R$ 326 mil em seu gabinete, sacados de uma agência do Banco Rural. O remetente oculto era o empresário Marcos Valério. O ex-dirigente do BB alegou ter sido surpreendido pelo conteúdo do embrulho que chegou misteriosamente em sua mesa. Sobrenatural? Nada disso. Sete anos depois, ao condená-lo, o ministro relator explicou que o dinheiro era fruto de corrupção.

- Mas Pizzolato não seria um qualquer, figura periférica nas operações. Joaquim Barbosa demonstrou que R$ 73,8 milhões do fundo Visanet foram repassados por Pizzolato a Marcos Valério e seus sócios sem que houvesse qualquer contrapartida em serviços de publicidade da agência DNA, comandada pelo empresário. A agência ainda teria recebido outros R$ 2,9 milhões de maneira irregular, o que aumentaria o rombo para R$ 76,7 milhões.

- Após isso tudo, Marcos Valério deu um jeito de o dinheiro furtado do BB chegar ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares que, em seguida, os repassou aos parlamentares comprados. Empréstimos fictícios feitos ao Banco Rural e ao BMG serviriam apenas para dar aparência legal à negociata.
  • A defesa de Pizzolato ainda argumentou que os R$ 73,8 milhões seriam referentes à chamada “bonificação por volume”, descontos oferecidos pelos meios de comunicação que veicularam publicidade do cartão Visa. Faltou dizer, como lembrou Joaquim Barbosa, que o dinheiro deveria ter sido devolvido ao Banco do Brasil, e não colocado no bolso de Marcos Valério.

- Nos autos, as palavras de Joaquim Barbosa: “os depósitos de R$ 73.851.536,18 na conta da DNA Propaganda só ocorreram porque assim determinou o réu HENRIQUE PIZZOLATO, responsável maior pela verba de marketing e publicidade do Banco do Brasil, em razão do cargo que ocupava. Assim, HENRIQUE PIZZOLATO agiu com o dolo de beneficiar a agência representada por MARCOS VALÉRIO, que não havia prestado qualquer serviço em prol dos cartões do Banco do Brasil de bandeira Visa, tampouco tinha respaldo contratual para fazê-lo”. Mais claro impossível.

- Para entender melhor o pedido de condenação de Barbosa, uma análise publicada hoje na Folha de S. Paulo: http://migre.me/ao8C
  
- Se o dinheiro roubado foi usado para Caixa 2, para uso particular, atividades políticas, pouco importaria em relação ao maior crime, a tunga no bolso dos cidadãos brasileiros.

- Como lembra a colunista do Estadão, Dora Kramer, só costumam admitir ilícito menor (no caso, o Caixa 2) aqueles que sabem que cometeram delitos muito maiores.

 - Se a lógica de Joaquim Barbosa for seguida, muitos pedidos de condenação surgirão nos próximos dias. Sobre o ex-presidente da Câmara, João Paulo, já pesam os delitos de peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.

- É preciso registrar que Joaquim Barbosa pediu a absolvição do ex-ministro Luiz Gushiken, o que mostra que o ministro não está tomado por uma sanha condenatória, apenas quer justiça.

- Para conseguir condenar os réus, o voto de Joaquim Barbosa precisará ser acompanhado por no mínimo cinco outros ministros. Prestes a se aposentar, o ministro César Peluso pode antecipar seu voto já na próxima semana. Hoje começa a leitura do voto do ministro revisor, Ricardo Lewandowski, que pode dar uma interpretação alternativa aos fatos apresentados pelo relator.

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