segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Santarém sai do vermelho


Anselmo Colares*

O resultado das eleições municipais 2012 em Santarém mostra claramente que havia um desejo de mudança, motivada por uma avaliação negativa da gestão municipal instalada a 8 anos. Muito similar ao que ocorrera anteriormente, quando Lira Maria governou por dois mandatos e não conseguiu eleger seu sucessor (o mesmo que agora conquistou uma diferença extraordinária de votos sobre a candidata da prefeita Maria do Carmo). Tal fenômeno não é exclusividade de Santarém, sendo verificável na grande maioria dos municípios brasileiros. Portanto, uma primeira observação que faço é quanto a dificuldade que um grupo político tem de permanecer no poder por mais de dois mandatos. E associado a esta constatação, analiso como sendo positivo que assim seja pois garante a alternância no poder, e quebra a sensação que alguns membros do governo passam a ter de que sejam os “donos” da coisa pública. A mudança dos ocupantes das cadeiras tem uma função pedagógica fundamental para a democracia, na medida em que possibilita ao conjunto da sociedade constatar que seu desejo pode ser materializado.

Normalmente quando um chefe do executivo assume o cargo (Prefeito, Governador e Presidente), queixa-se das condições em que recebe a “máquina” administrativa, com muitos problemas e poucos meios para equacioná-los, inclusive com um orçamento limitadíssimo e burocratizado diante de demandas inumeráveis e urgentes. Mas como está motivado e sabe que em menos de 4 anos terá que se submeter a uma avaliação decisiva, geralmente se empenha e supera as barreiras. No segundo mandato, caso consiga ser reeleito, o governante não pode mais se queixar com a mesma intensidade da dívida maldita que herdou. Embora alguns ainda insistam neste discurso, não encontram ressonância na maioria da população que busca avaliar as realizações, não se importando tanto com as dificuldades uma vez que quando candidato o agora governante apresentou-se capaz de contornar todos os obstáculos. Resta ao governante do segundo mandato fazer muito mais do que conseguiu no primeiro, ou se dar por satisfeito com o que conseguiu e esperar que seja lembrado. A maioria tende a relaxar, até porque não terá mais a chance de permanecer no cargo.Só volta a sair do estado de letargia quando inicia a corrida para a sucessão, no seu último ano de governo. Então pode ser tarde demais.

Penso que esta descrição corresponde ao que ocorreu em Santarém. O ritmo de ações do governo municipal esfriou no segundo mandato e a população foi ficando impaciente e desejosa de mudança, embora sem saber muito claramente a direção que deveria seguir. Antes mesmo de decidir quem assumiria o cargo, já demonstrava a vontade de sair do vermelho, muito diferente do que havia acontecido nas duas últimas eleições, em que a cidade foi contagiada com músicas e cores vibrantes. A Prefeita Maria do Carmo não foi capaz de manter os acordos com os grupos que garantiram sua reeleição mas sabedores de que não há um terceiro mandato queriam ser os protagonistas da história. Nem mesmo conseguiu manter a chama vermelha acesa no coração dos petistas, que ficaram titubeantes com a demora na escolha do nome do/a candidato/a. Como se não bastasse tudo isso, uma série de erros ao longo da campanha somou-se a imagem de incompetência que já estava associada com a gestão municipal. 

A presença tardia de integrantes do governo federal pouco ajudou. O ministro da Saúde, por exemplo, que tem domicílio eleitoral em Santarém, no dia da eleição estava ao lado da candidata Raimunda Lucineide, mas a população queria tê-lo visto em momentos anteriores, fazendo mais por esta área fundamental.

José Maria Tapajós, ou melhor, os planos de Jáder Barbalho em pavimentar a candidatura de seu filho para o governo do Estado também ajudaram a derrotar a coligação liderada pelo PT em Santarém. Márcio Pinto e Rubson Santana não contribuíram diretamente para este resultado pois mesmo com os votos dados a ambos, Lucineide ainda assim seria derrotada. Quanto ao primeiro, foi capaz de fazer uma campanha politicamente correta – para quem comunga com suas ideias – porém incapaz de conquistar a população que, sendo plural, nutre simpatia por várias outras concepções. 

Muitas pessoas até declaravam simpatia com seu discurso ou sua postura, principalmente por não ter “rabo preso” com pessoas ou situações execráveis. Mas diante da possibilidade da continuidade do governo, esses simpatizantes preferiram o chamado voto útil, com chances reais de vitória. O segundo mostrou-se limitado e pouco conhecedor do cotidiano da pobreza, pelo menos foi o que demonstrou em seus programas ao revelar um espanto com a dura realidade que testemunhou em suas andanças. Suas propostas mas pareciam ser de um candidato a mágico, pois anunciava “repaginar” Santarém sem apontar as condições objetivas que incluem tempo e recursos.

A cidade trocou o vermelho pelo azul e amarelo. Vermelho significa paixão, energia e excitação. É uma cor quente e está associada ao poder, ao perigo, ao espírito revolucionário. Vermelho é a cor do elemento fogo, simboliza a chama que mantém vivo o desejo, os sentimentos de amor e paixão. Mas parece que nos últimos anos o vermelho foi se desbotando em Santarém. Agora voltam ao cenário o Azul e o Amarelo, em primeiro plano. Considerada uma cor fria, azul significa tranquilidade, serenidade e harmonia. Simboliza a água, o céu, o infinito, o sonho e o pensamento. Já a cor amarela significa luz, calor, descontração, otimismo, alegria, prosperidade e felicidade. É uma cor inspiradora que desperta a criatividade, estimula as atividades mentais e o raciocínio. Sai a cor da luta e da paixão e em entram cores da felicidade e da compreensão. Mas é bom lembrar que o vermelho é parte integrante das cores da bandeira de Santarém. Portanto, não pode ser a única, muito menos pode ser banida.

Por fim, algumas palavras para o prefeito eleito Alexandre Von. A população demonstrou confiar na propaganda que lhe apresentou como sendo capaz de promover melhorias em todos os setores. No decorrer da campanha seu discurso foi incisivo e resoluto. Seja coerente agora. E tudo já começa com a composição do secretariado e o anúncio das primeiras medidas, mas se estende nas ações do dia a dia, incluindo a transparência, a capacidade na solução dos problemas e o respeito com a aplicação dos recursos públicos.
Santarém, 08 de outubro de 2012

*Coord. do Programa de Pós Graduação do ICED (UFOPA) - Port. 011, de 20/08/2011 
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação - HISTEDBR/UFOPA" Membro da Academia de Letras e Artes de Santarém - ALAS
Sócio Fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós - HIGTap

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