Anselmo Colares*
O resultado das eleições
municipais 2012 em Santarém mostra claramente que havia um desejo de mudança,
motivada por uma avaliação negativa da gestão municipal instalada a 8 anos.
Muito similar ao que ocorrera anteriormente, quando Lira Maria governou por
dois mandatos e não conseguiu eleger seu sucessor (o mesmo que agora conquistou
uma diferença extraordinária de votos sobre a candidata da prefeita Maria do
Carmo). Tal fenômeno não é exclusividade de Santarém, sendo verificável na
grande maioria dos municípios brasileiros. Portanto, uma primeira observação
que faço é quanto a dificuldade que um grupo político tem de permanecer no
poder por mais de dois mandatos. E associado a esta constatação, analiso como
sendo positivo que assim seja pois garante a alternância no poder, e quebra a
sensação que alguns membros do governo passam a ter de que sejam os “donos” da
coisa pública. A mudança dos ocupantes das cadeiras tem uma função pedagógica
fundamental para a democracia, na medida em que possibilita ao conjunto da
sociedade constatar que seu desejo pode ser materializado.
Normalmente quando um chefe do
executivo assume o cargo (Prefeito, Governador e Presidente), queixa-se das condições
em que recebe a “máquina” administrativa, com muitos problemas e poucos meios
para equacioná-los, inclusive com um orçamento limitadíssimo e burocratizado
diante de demandas inumeráveis e urgentes. Mas como está motivado e sabe que em
menos de 4 anos terá que se submeter a uma avaliação decisiva, geralmente se
empenha e supera as barreiras. No segundo mandato, caso consiga ser reeleito, o
governante não pode mais se queixar com a mesma intensidade da dívida maldita
que herdou. Embora alguns ainda insistam neste discurso, não encontram
ressonância na maioria da população que busca avaliar as realizações, não se
importando tanto com as dificuldades uma vez que quando candidato o agora
governante apresentou-se capaz de contornar todos os obstáculos. Resta ao
governante do segundo mandato fazer muito mais do que conseguiu no primeiro, ou
se dar por satisfeito com o que conseguiu e esperar que seja lembrado. A
maioria tende a relaxar, até porque não terá mais a chance de permanecer no
cargo.Só volta a sair do estado de letargia quando inicia a corrida para a
sucessão, no seu último ano de governo. Então pode ser tarde demais.
Penso que esta descrição
corresponde ao que ocorreu em Santarém. O ritmo de ações do governo municipal
esfriou no segundo mandato e a população foi ficando impaciente e desejosa de
mudança, embora sem saber muito claramente a direção que deveria seguir. Antes
mesmo de decidir quem assumiria o cargo, já demonstrava a vontade de sair do
vermelho, muito diferente do que havia acontecido nas duas últimas eleições, em
que a cidade foi contagiada com músicas e cores vibrantes. A Prefeita Maria do
Carmo não foi capaz de manter os acordos com os grupos que garantiram sua
reeleição mas sabedores de que não há um terceiro mandato queriam ser os protagonistas
da história. Nem mesmo conseguiu manter a chama vermelha acesa no coração dos
petistas, que ficaram titubeantes com a demora na escolha do nome do/a
candidato/a. Como se não bastasse tudo isso, uma série de erros ao longo da
campanha somou-se a imagem de incompetência que já estava associada com a
gestão municipal.
A presença tardia de integrantes do governo federal pouco
ajudou. O ministro da Saúde, por exemplo, que tem domicílio eleitoral em
Santarém, no dia da eleição estava ao lado da candidata Raimunda Lucineide, mas
a população queria tê-lo visto em momentos anteriores, fazendo mais por esta
área fundamental.
José Maria Tapajós, ou melhor, os
planos de Jáder Barbalho em pavimentar a candidatura de seu filho para o
governo do Estado também ajudaram a derrotar a coligação liderada pelo PT em
Santarém. Márcio Pinto e Rubson Santana não contribuíram diretamente para este
resultado pois mesmo com os votos dados a ambos, Lucineide ainda assim seria
derrotada. Quanto ao primeiro, foi capaz de fazer uma campanha politicamente
correta – para quem comunga com suas ideias – porém incapaz de conquistar a
população que, sendo plural, nutre simpatia por várias outras concepções.
Muitas
pessoas até declaravam simpatia com seu discurso ou sua postura, principalmente
por não ter “rabo preso” com pessoas ou situações execráveis. Mas diante da
possibilidade da continuidade do governo, esses simpatizantes preferiram o
chamado voto útil, com chances reais de vitória. O segundo mostrou-se limitado
e pouco conhecedor do cotidiano da pobreza, pelo menos foi o que demonstrou em seus
programas ao revelar um espanto com a dura realidade que testemunhou em suas
andanças. Suas propostas mas pareciam ser de um candidato a mágico, pois
anunciava “repaginar” Santarém sem apontar as condições objetivas que incluem
tempo e recursos.
A cidade trocou o vermelho pelo
azul e amarelo. Vermelho significa paixão, energia e excitação. É uma cor
quente e está associada ao poder, ao perigo, ao espírito revolucionário. Vermelho
é a cor do elemento fogo, simboliza a chama que mantém vivo o desejo, os
sentimentos de amor e paixão. Mas parece que nos últimos anos o vermelho foi se
desbotando em Santarém. Agora voltam ao cenário o Azul e o Amarelo, em primeiro
plano. Considerada uma cor fria, azul significa tranquilidade, serenidade e
harmonia. Simboliza a água, o céu, o infinito, o sonho e o pensamento. Já a cor
amarela significa luz, calor, descontração, otimismo, alegria, prosperidade e
felicidade. É uma cor inspiradora que desperta a criatividade, estimula as
atividades mentais e o raciocínio. Sai a cor da luta e da paixão e em entram
cores da felicidade e da compreensão. Mas é bom lembrar que o vermelho é parte
integrante das cores da bandeira de Santarém. Portanto, não pode ser a única,
muito menos pode ser banida.
Por fim, algumas palavras para o
prefeito eleito Alexandre Von. A população demonstrou confiar na propaganda que
lhe apresentou como sendo capaz de promover melhorias em todos os setores. No
decorrer da campanha seu discurso foi incisivo e resoluto. Seja coerente agora.
E tudo já começa com a composição do secretariado e o anúncio das primeiras
medidas, mas se estende nas ações do dia a dia, incluindo a transparência, a
capacidade na solução dos problemas e o respeito com a aplicação dos recursos
públicos.
Santarém, 08 de outubro de 2012
*Coord. do Programa de Pós Graduação do ICED (UFOPA) - Port. 011, de 20/08/2011
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação - HISTEDBR/UFOPA" Membro da Academia de Letras e Artes de Santarém - ALAS
Sócio Fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós - HIGTap
Nenhum comentário:
Postar um comentário