Lúcio Flávio Pinto
Articulista de O Estado do Tapajós
O
médico Acylino de Leão Rodrigues, um dos mais importantes personagens na história
da medicina no Pará, morreu em 1950. Oito anos depois, porém, ele vendeu uma
gleba de terras para Antonio Oliveira dos Santos. E em 1976 fez outra transação
imobiliária com Basílio da Cunha Dias.
Milagre?
Não, exceto pelas façanhas que a grilagem costuma realizar para transferir
terras do patrimônio público para o domínio privado. Às vezes essas operações
são engenhosas e complexas. Mas nos últimos tempos têm sido tão grosseiras que
os grileiros parecem não se importar mais com o risco de serem descobertos,
como ao usar o nome de pessoa tão famosa.
Golpes
desse tipo levaram o presidente do Instituto de Terras do Pará, Carlos Lamarão,
à indignação: “já chegou a hora de se demonstrar à comunidade paraense que os
tempos e os ventos mudaram no atual governo, e que, por isso mesmo, a coisa
pública deve ser tratada com o respeito e a seriedade que merece”.
Num
ofício do final do ano passado ao secretário do meio ambiente do Estado,
Alberto Colares, Lamarão diz que “é preciso acabar, de uma vez por todas, tanto
na secretaria quanto no Iterpa, “com essa verdadeira avalanche de interesses
escusos, que se avoluma, dia após dia, tal qual um cardume de piranhas vorazes
que tentam abocanhar, sempre que possível, uma fatia do patrimônio público
pertencente ao povo paraense”.
O
governo deveria se empenhar na caça aos grileiros “até que todos os envolvidos,
direta ou indiretamente, sejam finalmente hospedados no lugar que lhes é mais
adequado: a cadeia”.
A
Sema, o Iterpa e a polícia começaram a investigar os documentos falsificados
que estão sendo apresentados aos órgãos ambiental e fundiário do Estado para a
obtenção de áreas para a extração de madeira, sob o título de manejo florestal,
em vários municípios paraenses, com ênfase recente em Juruti, na divisa com o
Amazonas. Estão sendo griladas até terras publicas destinadas ao Centro de
Treinamento para Manejo Florestal do Estado.
Como
Gurupá também é alvo dos grileiros, um advogado do Iterpa constatou a
inexistência de imóvel de quase três mil hectares que deveria estar registrado
no cartório local. O tabelião, Wilson Lobato disse ao advogado Clodoaldo
Ribeiro, que foi procurado três vezes por pessoas não identificadas. Elas lhe
pediram para reconhecer a validade de uma certidão semelhante ao documento
falso apresentado ao Iterpa.
Como
o oficial do cartório se negasse a aceitar a solicitação, “essas pessoas lhe
ofereceram dez mil reais”. Quando não tiveram sucesso,, elas “mandaram um
advogado e em seguida um delegado de polícia para intercederem junto àquele
oficial”. Não conseguindo o que queriam, “desapareceram”.
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