Foto: chitchatbabel.wordpress.com
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Nélio Palheta
Jornalista
Ganhei duas peças de pirarucu defumado produzido em Santarém. Foi um
belo presente de Natal. Rendeu um prato maravilhoso na ceia de ano novo.
Certa vez, comprei salmão defumado em Santiago, embora não seja um
produto típico para se trazer na mala de turista; mas é vendido no
mercado central da capital chilena como um souvenir tipo exportação,
numa embalagem a vácuo, aluminizada, com marca, garantia de origem e
tudo mais de um bom marketing. Como se sabe, o Chile é um dos maiores
produtores de salmão do mundo todo. O peixe do Pará, entretanto, fica
por aqui mesmo e levar na bagagem é impraticável, principalmente o
salgado.
Preparando o pitéu de Pirarucu defumado com banana
comprida, na tarde do dia 31, pensei: esse é um produto que poderia se
tornar marca registrada do Pará. Mas, o peixe que sai de Santarém,
embora saboroso, é artesanal, com uma apresentação horrível, sem nenhum
apelo, e precisa ser congelado, inclusive.
A mesma coisa acontece
com o Queijo do Marajó. Esses dois produtos poderiam ser mais
qualificados, com produção profissional, mesmo sendo artesanais,
valorizando-se o terroi, tais as características únicas, exclusivas do
Tapajós, do Amazonas e do Marajó, respectivamente. Há notícias de que a
Sagri estaria incentivando produtores do Marajó a qualificarem a
produção de queijo, para assim conquistarem certificação sanitária.
Sofisticar esses produtos, assim como o açaí, deveria ser uma
estratégia do governo. O açaí tem sérios problemas sanitários que
prejudicam a imagem do Estado; em meados de setembro passado conversei
com uma patologista do Laboratório Central do Estado que me disse ter
sido cem por cento positivas para Trypanosoma Cruzi - o protozoário que
causa a Doença de Chagas - as amostras de açaí recolhidas em Belém,
naquele período.
Eliminar problemas como esse significa criar
imagem positiva para o Estado. Não há dúvida que a produção qualificada
de Queijo do Marajó e de Pirarucu Defumado gera renda e ocupação para
mais pessoas em regiões tão pobres do Estado como o Marajó e o Baixo
Amazonas. Não sou especialista no assunto, mas pelo que andei
pesquisando na internet, e pelo que vi em Vigia, onde um empreendedor
defumava gurijuba, não custa muito caro implantar infraestrutura
artesanal, porém com tecnologia, que é elementar.
Entretanto,
talvez seja mais difícil a burocracia que defumar peixe no Baixo
Amazonas e fabricar queijo em Cachoeira do Arari. O que falta para
decolar o aproveitamento de produtos tipicamente regionais,
dando-lhes qualidade, garantias sanitárias, marketing? Já pensou,
pirarucu defumado da Amazônia ganhando as melhores cozinhas do mundo?
Mas não é assim, infelizmente. Detalhe: já tem empresa do Mato Grosso e
do Tocantins, onde também ocorre o Pirarucu, embora em menor quantidade,
industrializando o peixe e exportando-o.
Enquanto isso,
continuamos pedindo para os amigos trazerem de Santarém uma posta de
pirarucu defumado, ou comprando, a versão salgada, no Ver-o-Peso e nas
demais feiras da cidade, nas piores condições de higiene e sanitárias
visivelmente precárias.
No Marajó não se fabrica mussarela de leite
de búfala, mas os supermercados de Belém vendem esse queijo produzido
em São Paulo e no Rio Grande do Norte, enquanto compramos o
saborosíssimo Queijo do Marajó clandestinamente, em Belém, desde que um
promotor resolveu proibi-lo, dadas as condições de produção. Imagine se o
mesmo promotor, agora secretário de Economia de Belém, resolve proibir a
venda de pirarucu salgado, processo secular, muito antes de os jesuítas
montarem suas fazendas no Marajó, onde produziam peixe salgado para
exportação.
Enquanto isso, vou preparando as minhas receitas: Fatias
de pirarucu defumado ao forno com batata, generosas rodelas de cebola e
pimentões, fatias e banana comprida e boa dose de azeite de
qualidade. Para acompanhar, arroz com Castanha do Pará e passas. Ficou
bacana no réveillon.
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