quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Pirarucu e queijo do Marajó

Foto: chitchatbabel.wordpress.com


Nélio Palheta 
Jornalista

Ganhei duas peças de pirarucu defumado produzido em Santarém. Foi um belo presente de Natal. Rendeu um prato maravilhoso na ceia de ano novo. Certa vez, comprei salmão defumado em Santiago, embora não seja um produto típico para se trazer na mala de turista; mas é vendido no mercado central da capital chilena como um souvenir tipo exportação, numa embalagem a vácuo, aluminizada, com marca, garantia de origem e tudo mais de um bom marketing. Como se sabe, o Chile é um dos maiores produtores de salmão do mundo todo. O peixe do Pará, entretanto, fica por aqui mesmo e levar na bagagem é impraticável, principalmente o salgado. 

Preparando o pitéu de Pirarucu defumado com banana comprida, na tarde do dia 31, pensei: esse é um produto que poderia se tornar marca registrada do Pará. Mas, o peixe que sai de Santarém, embora saboroso, é artesanal, com uma apresentação horrível, sem nenhum apelo, e precisa ser congelado, inclusive.

A mesma coisa acontece com o Queijo do Marajó. Esses dois produtos poderiam ser mais qualificados, com produção profissional, mesmo sendo artesanais, valorizando-se o terroi, tais as características únicas, exclusivas do Tapajós, do Amazonas e do Marajó, respectivamente. Há notícias de que a Sagri estaria incentivando produtores do Marajó a qualificarem a produção de queijo, para assim conquistarem certificação sanitária.

Sofisticar esses produtos, assim como o açaí, deveria ser uma estratégia do governo. O açaí tem sérios problemas sanitários que prejudicam a imagem do Estado; em meados de setembro passado conversei com uma patologista do Laboratório Central do Estado que me disse ter sido cem por cento positivas para Trypanosoma Cruzi - o protozoário que causa a Doença de Chagas - as amostras de açaí recolhidas em Belém, naquele período.

Eliminar problemas como esse significa criar imagem positiva para o Estado. Não há dúvida que a produção qualificada de Queijo do Marajó e de Pirarucu Defumado gera renda e ocupação para mais pessoas em regiões tão pobres do Estado como o Marajó e o Baixo Amazonas. Não sou especialista no assunto, mas pelo que andei pesquisando na internet, e pelo que vi em Vigia, onde um empreendedor defumava gurijuba, não custa muito caro implantar infraestrutura artesanal, porém com tecnologia, que é elementar.

Entretanto, talvez seja mais difícil a burocracia que defumar peixe no Baixo Amazonas e fabricar queijo em Cachoeira do Arari. O que falta para decolar o aproveitamento de produtos tipicamente regionais, dando-lhes qualidade, garantias sanitárias, marketing? Já pensou, pirarucu defumado da Amazônia ganhando as melhores cozinhas do mundo? Mas não é assim, infelizmente. Detalhe: já tem empresa do Mato Grosso e do Tocantins, onde também ocorre o Pirarucu, embora em menor quantidade, industrializando o peixe e exportando-o.

Enquanto isso, continuamos pedindo para os amigos trazerem de Santarém uma posta de pirarucu defumado, ou comprando, a versão salgada, no Ver-o-Peso e nas demais feiras da cidade, nas piores condições de higiene e sanitárias visivelmente precárias.

No Marajó não se fabrica mussarela de leite de búfala, mas os supermercados de Belém vendem esse queijo produzido em São Paulo e no Rio Grande do Norte, enquanto compramos o saborosíssimo Queijo do Marajó clandestinamente, em Belém, desde que um promotor resolveu proibi-lo, dadas as condições de produção. Imagine se o mesmo promotor, agora secretário de Economia de Belém, resolve proibir a venda de pirarucu salgado, processo secular, muito antes de os jesuítas montarem suas fazendas no Marajó, onde produziam peixe salgado para exportação.

Enquanto isso, vou preparando as minhas receitas: Fatias de pirarucu defumado ao forno com batata, generosas rodelas de cebola e pimentões, fatias e banana comprida e boa dose de azeite de qualidade. Para acompanhar, arroz com Castanha do Pará e passas. Ficou bacana no réveillon.

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