sábado, 9 de fevereiro de 2008

O SUS DE MARIA DO CARMO

Sebastião Imbiriba
Articulista de O Etado do Tapajós

O título deste artigo poderia ser "O SUS do Emmanuel" se o objetivo fosse particularizar a responsabilidade local ou "O SUS do Lula" se buscássemos o responsável geral. Neste caso, falaríamos ao vazio sem atingir o ouvido desejado, no outro, minhas boas intenções poderiam ser mal recebidas por um amigo a quem respeito e estimo. Considero amigos Dr. Emanuel Silva e sua esposa, Dra. Francimeire, mas por Maria tenho particular simpatia e afeição; considero recíprocos tais sentimentos. Por isto mesmo, o título acima.
Já tive dor de dente em Nova Iorque e minha mulher foi hospitalizada em Miami. Fomos muito bem cuidados, porem as contas foram enormes. Já em Copenhague, recorri ao "médico de família" do bairro Orsteboro. Mesmo sendo estrangeiro, não houve qualquer empecilho, agendei consulta por telefone e fui atendido, com hora marcada, por um médico atencioso e gentil, tudo falado em inglês, numa consulta de mais de trinta minutos, com anamnese extensa e cuidadosa, tudo por conta da Comuna, como por lá eles chamam o município.
No Recife, precisei restaurar uma obturação, marquei consulta (pessoalmente) no Posto de Saúde da Prefeitura em Boa Viagem e fui atendido no dia seguinte. D'outra feita, no mesmo Posto, fui recebido por uma Dermatologista no mesmo dia em que solicitei a consulta.
Alguns dizem que no Rio Grande do Norte é melhor porque este estado tem sido governado por mulheres. Faz tempo que não vou lá, não posso afirmar. Os pernambucanos consideram péssimo o serviço do SUS. O serviço do SUS é péssimo no país todo e sabemos todos disto, mas em alguns lugares é muito pior do que em outros. Incluo Santarém neste caso e o que digo aqui o faço na esperança de que, algum dia, venha a ser como nos países nórdicos. Já debocharam desta minha aspiração. Dizem que as coisas no Brasil são assim mesmo e que não tem conserto. Não acredito neste fatalismo derrotista. Por isso mesmo, não me conformo.
Não me conformo em esperar desconfortavelmente por mais cinco horas para ser atendido por um médico que me despacha em menos de três minutos. Não somente a mim, que me considero em boa forma, mas a tantos idosos e pessoas muito doentes, padecendo e penando.
Nem falo do horror do Pronto Socorro. Se você, leitor, for ao Posto de Saúde Santa Clara às sete da manhã, não encontrará mais pacientes nem médico. O horário foi antecipado sem divulgação, apesar do importante dispêndio da
Prefeitura em publicidade. O médico começa a atender às seis da manhã. Às sei e quarenta vai embora tendo despachado dezesseis pacientes, média de dois minutos e meio por consulta. Não sei se alguém pode chamar isto de medicina. Para mim é ofensa ao cidadão. Não há necessidade de conhecimento específico, basta um pouco de estatística para saber que a probabilidade de erro de diagnóstico é enorme.
Se nos esforçarmos um pouquinho só, entenderemos que muito pode ser melhorado começando, é claro, pelo início: marcação de consultas. Consultas deveriam ser agendadas, pelos já cadastrados no SUS, via Internet ou telefone. Se o paciente já passou por avaliação do Clínico Geral e foi encaminhado a um especialista, novas consultas não deveriam depender de novo encaminhamento. Se alguém sofre de glaucoma e deve consultar o oftalmologista a cada seis meses, porque não ir direto ao seu médico e agendar a consulta? Porque percorrer todo um caminho inútil e demorado?
As coisas podem e deveriam ser claras, há necessidade de um roteiro para o paciente se encontrar e saber a onde se dirigir. Tal roteiro deveria estar no portal da Prefeitura, de onde poderia ser impresso, assim como em avisos nos postos de saúde. Ao contrário, o que encontramos nas paredes são arrogantes e ofensivos avisos de que não se pode desacatar funcionários, ou seja, o cidadão tem que ser submisso e não pode reclamar de maus tratos, sob as penas da Lei.
A informatização do serviço certamente tornaria tudo muito mais simples e mais eficiente, liberando pessoal para outras tarefas mais importantes.
Na inauguração do Mirante, conversei com Dr. Everaldo sobre o Centro de Convenções de que Santarém necessita. Everaldo me surpreendeu apontando algumas opções viáveis, revelando estar atento e antecipando os problemas.
Talvez, nesta questão de informatização dos serviços médicos, Everaldo disponha de algumas soluções igualmente inteligentes. Faço votos que sim. A informatização aumenta a eficiência, a ordem, a rapidez do atendimento.
Talvez nem Maria e sua família, nem Lula, nem Emmanuel precisam recorrer ao SUS em pé de igualdade com os demais cidadãos. Talvez eu não precise recorrer ao SUS. Mas este não é o problema. A questão é que todos, sem exceção, tem direito a atendimento de qualidade pelo SUS. Alem disto, tanto Lula, quanto Maria e Emmanuel deveriam recorrer ao SUS, de vez em quando, para saber como é humilhante, degradante, penoso e deficiente o serviço médico que propiciam ao povo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro professor Sebastião - Prazer em ler mais uma de suas crônicas. Não há o que contestar do incontestável. A Saúde pública realmente é um horror. Não se pode querer comparar porque alí ou acolá o serviço é ruim ou péssimo para justificar a precariedade em nossa cidade . Porque não somos diferentes? Há poucos meses atrás teve oportunidade de conversar numa reunião com o secretário de Planejamento e, não sendo tão culto como o caro professor, não fui hábil com as palavras para exprimir esse seu mesmo desapontamento e frustração. Na oportunidade mencionei ao Secretário que o nosso hospital público era um depósito de carne humana. O intuito da mesma forma que a sua, nunca foi de levar nada pelo lado pessoal ou atacar quem quer que seja, absolutamente. Mas, expressar a realidade de ter visto às 02,00 hs da manhã o grande número de pessoas naquele atendimento de emergência e não há como exprimir em palavras o que se via e assistia, de tantas pessoas simplesmente largadas e deixadas em bancos, em cadeiras, sendo que algumas seguravam sózinhas seu próprio soro. Talvez quem viva isso cotidianamente possa achar tudo normal em razão ao excesso de pessoas atendidas e que é assim que tem que ser .Esse é o melhor que podem fazer. Mas não ha como aceitar e saber que são seres humanos e que não tiveram as mesmas chances de não necessitarem do SUS como o sr mesmo menciona. São seres humanos que precisam no minimo de respeito. Mesmo que não haja dinheiro para médicos/enfermeiras etc , acima de tudo isso há necessidade de quem comanda faça muito mais do que se espera.Que se crie, que se invente, que chore junto, que aja, e não simplesmente se coloque numa posição de passividade tentando tão sómente explicar os porques ... Depois que se assina um atestado de óbito, para aqueles que ficam , não há mais necessidade de explicar os porques..
Mas nunca se perde a esperança. Sendo um ano politico sabe-se de antemão que os interesses são variados e para muitos o fim justifica os meios, e mesmo que seja jogando com a saúde alheia , quem sabe o Hospital Regional saia da sua inércia e faça sua parte aliviando o fluxo de pessoas que recorrem ao HM. Vamos torcer.

Um forte abraço professor

Antenor Pereira Giovannini

Anônimo disse...

Infelizmente não era para a saúde está desse jeito pelo menos em Santarém. O Everaldo que dizem ser o atual Prefeito, foi Vice Prefeito e Secretário de Saúde na Gestão do Rui Correa. Lembram? O que se observa é que infelizmente na era PT a situação piorou em Santarém em todos os setores. E não é falta de vontade é imcompetência mesmo. Acredito na boa vontade do Prefeito e da Subprefeita. Acontece que boa vontade não é suficiente para implementação de políticas públicas. O Dr. Emanoel e a Dra. Francimary pelo menos até 2004 nunca haviam feito sequer uma consulta pelo SUS em Santarém. Atualmente não são médicos nem da UNIMED. Quanto mais se consultar pelo SUS. Fazer Saúde Pública não é para qualquer um. Não basta ser médico. Porconta de tudo isso que o povo não reelegerá o PT para a Prefeitura de Santarém. Além de tudo, a população já está responsabilizando a Subprefeita Maria do Carmo pelo não funcionamento do Hospital Regional. Se a Governadora fosse de outro partido ela estava cobrando e denunciando o não funcionamento do hospital. Até agora depois de mais de um ano que o hospital foi construído e equipado ela não se moveu, não disse uma palavra, está conivente com a situação. No entanto, quando o então Governador Simão Jatene inaugurou o Hospital, ela em palanque, se comprometeu a exigir da futura Governadora o seu funcionamento. Quem quiser conferir as palavras da Prefeita basta acessar o You Tube.

Anônimo disse...

É INTERESSANTE COMO ERA O TEMPO DAS VIRTUDES ANTIGAS, ONDE O TÃO SAUDOSO DR. MARTINS (ex-prefeito de Santarem-Pa) era popularmente querido por todos, amado e muito se preocupava verdadeiramente com o povo, hoje classificamos como "CÔNCAVO" por querer a todos muito bem, ja os filhos "DEUS NOS ACUDA" são o CONVEXO" o PREFEITO e a SUBPREFEITA com todos os poderes na mão são uma lamentável tragedia, so enxergão soluções viaveis de interesses próprios. provas pra tudo isso....e só vir morar e viver em Santarem