quarta-feira, 26 de março de 2008

Arigós

Lúcio Flávio Pinto
Editor do Jornal Pessoal
e articulista de O Estado do Tapajós

Já era noite quando o Aratimbó, navio da Costeira, atracou no porto de Belém, em maio de 1958. Normalmente a embarcação só admitia passageiros de primeira classe, mas aquela viagem era excepcional: trazia 300 “arigós”, nordestinos (principalmente cearenses) expulsos de suas terras por mais uma seca rigorosa.
Ao invés da cena tradicional criada no cais pela chegada de vapores da Costeira, desta vez havia muita confusão com o desembarque dos “flagelados”, dentre os quais havia muitas crianças. Ninguém do serviço de imigração, o INIC, os esperava.
Eles tiveram que se arranjar debaixo da marquise do armazém do porto para passar sua primeira noite em solo amazônico, tão sofrida quanto todos os dias precedentes – e, provavelmente, os seguintes.

3 comentários:

Anônimo disse...

É verdade...
E pensar que esses "flagelados" tiveram que vir de lá, "expulsos pela seca" pra fazer cidades (como Santarém, por exemplo) crescer, se desenvolver. Se vc chegar no comércio santareno, que muitos dizem que é pequeno, e disser: "Xô arigó!!" Ficam os turcos. Porque de paraense mesmo nenhum, só os que são empregados (massa de trabalhadores pouco qualificada que atua no mercado) e ainda reclamam.
É verdade ...
E os "arigós" continuam vindo e indo, só que agora eles passam férias em Fortaleza, carnaval na Bahia e vão e vêm de avião!
É verdade ...

Anisio Quincó disse...

Acho que foi nesse que meu avô, José Quincó, chegou à Santarém. Ele me disse, que quando chegou por estas bandas, Santarém só "ia" até a atual Av. Mendonça Furtado. Há 50 anos.

Anônimo disse...

A saga dos nordestinos realmente se traduz numa vitória de um povo trabalhador. Digo nordestinos por entender que a expressão "arigo", é pejorativa, principalmente para um povo que veio do nada e que faz a economia de Santarém. Como integrante dessa massa reconheço os mérito dos pioneiros - estes sim são os maiores vencedores - que ao aportarem na cidade fizeram-na crescer, muito embora hoje se encontre quase isolada por falta de "políticas públicas" que tanto a administração atual pregada. Nordestino, é antes de tudo, um forte.