quarta-feira, 19 de março de 2008

Lama e sofrimento nas rodovias Santarém-Cuiabá e Transamazônica


Paulo Leandro Leal

Rodovias cujas obras de asfaltamento estão incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a BR-230 (Transamazônica) e BR-163 (Santarém-Cuiabá) nesta época do ano são sinônimas de lama, atoleiros e sofrimento. No final da semana passada, a reportagem do EcoAmazônia percorreu de carro 800 quilômetros das duas rodovias, entre os municípios de Santarém, Belterra, Rurópolis, Placas e Uruará. No percurso, noites inteiras em atoleiros e uma visão real da vida das pessoas que insistem em morar no entorno das rodovias abertas na década de 70 e abandonadas por sucessivos governos.
Durante quatro dias de viagem, a reportagem se deparou com quatro pontes que estão caindo, uma delas, próxima à cidade de Uruará, na Transamazônica, sem condições de tráfego. Os moradores colocaram fogo no que restou da ponta para evitar uma tragédia. Além das pontes caindo, os bueiros estão literalmente sendo levados pela força das águas de março. Entre as cidade de Placas e Rurópolis, um bueiro de rompeu abrindo uma cratera com mais de três metros de cumprimento na estrada. Um desvio foi improvisado e acabou se tornando um atoleiro. Os motoristas reclamam. "Fiquei mais de seis horas atolado aqui, quase todo ano este bueiro se rompe", lamenta o caminhoneiro Paulo seixas, 52.
Como as chuvas se itensificaram na região oeste do Pará nas últimas semanas, as condições da estrada piorou. No final de semana, vários rios transbordaram e a água passou sobre a estrada em diversos trechos. A reportagem teve que esperar a água baixar em uma ponte no quilômetro 189 da BR-163 para seguir viagem, caso contrário o carro poderia ter sido levado pela correnteza. Muitos motoristas reclamam que estas condições causando danos aos veículos e prejuízos. "Nós viajamos porque somos obrigados, mas isso não é uma estrada e sim uma trilha de rally", compara Emerson Sousa, se referindo à Santarém-Cuiabá.
Apesar dos problemas, a Rodovia Transamazônica apresenta condições bem melhores do que a Santarém-Cuiabá. Na primeira, no trecho percorrido, uma empresa privada contratada pelo governo está dando manutenção e consegue até mesmo fazer o trabalho de terraplanagem e empiçarramento em alguns trechos, garantindo uma melhor trafegabilidade. A empresa Cincop aproveita os poucos dias de Sol para trabalhar, consertando trechos onde surgem atoleiros ou onde caem pontes. Somente nos dias mais chuvosos o tráfego fica complicado.
Já a Rodovia BR-163 está completamente abandonada no trecho entre Santarém e Rurópolis. O 8º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC), responsável pelo trecho, se limita a puxar carros nos atoleiros e não consegue recuperar os trechos mais ruins. Num único atoleiro, há cerca de 25 quilômetros de Rurópolis, cerca de 50 carros aguardaram mais de dois dias na semana passada. Quatro ônibus de uma mesma empresa de transporte estavam atolados no local, aguardando a chegada de uma máquina do Exército para puxar os veículos. "É triste ver que o Exército virou um mero puxador de carro em atoleiro", lamenta Cleber Batista, que dormiu duas noites na estrada.
O trecho está em condições precárias porque o governo não liberou recursos em tempo hábil (durante o verão) para a manutenção. No começo do inverno, o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit) liberou dois milhões de reais para a conservação do trecho, mas o dinheiro é insuficiente e ainda está sendo usado mais para não deixar que o tráfego seja interrompido de vez na rodovia. O 8º BEC pediu ao governo cinco milhões de reais para que pudesse recuperar todo o trecho, mas não foi atendido.

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