quarta-feira, 19 de março de 2008

Memória de Santarém - Lúcio Flávio Pinto

Foguetório do prefeito

Em 2 de junho de 1952 Santarém teve que acordar mais cedo: um intenso foguetório, patrocinado pelo prefeito, Santino Sirotheau Corrêa, comemorava o aniversário do então senador Magalhães Barata. O médico Haroldo Franco reagiu com um artigo indignado em O Baixo Amazonas. Criticou o provável uso dos "já desfalcados cofres desta comuna" para custear a alvorada barulhenta, ainda mais porque "Santarém não conta com nenhuma obra, com nenhuma realização devida ao sr. Barata".
Franco acreditava que o líder do PSD, o mesmo partido do prefeito, "morreu politicamente para os paraenses". A comemoração "reviveu na memória do povo noites negras de uma época de despotismo, quando o cangaço era a lei, quando a intranqüilidade entediava todos os espíritos, quando mães, esposas e irmãs aflitas, clamando em vão por justiça, choravam o filho, o esposo e o irmão tombados ao golpe brutal da capangada baratista".
Mas Barata voltaria, três anos depois.


Lenha e luz
Registro de jornal em agosto de 1952:
"Dizem que, se Deus quiser, e houver lenha, começará a virar hoje à noite a Usina de Eletricidade do Município, fornecendo somente a luz pública, por enquanto".

Colandos e colandas
A colação de grau de 1952 dos humanistas dos ginásios Santa Clara e Dom Amando foi realizada em conjunto no salão da Casa Cristo Rei. As jovens foram paraninfadas pelo juiz de direito Aluisio da Silva Leal e tiveram como oradora a colanda Astrid Siqueira Imbiriba. O paraninfo dos homens foi Geraldo Castelo Branco Rocha e orador o colando Itair Silva, que censurou os governos "que se descuidam criminosamente dos seus sagrados deveres".

Água na cabeça
Uma cena comum em 1953: moradores descerem das ruas localizadas na parte mais alta da cidade com latas na cabeça para ir buscar água no rio Tapajós. Os motores que faziam o abastecimento só funcionavam 12 horas por dia, "em virtude de não serem convenientemente tratados". A denúncia foi feita pelo engenheiro Guilherme Miranda, do Sesp (Serviço Especial de Saúde Pública, depois fundação, uma das melhores heranças da ação do governo para produzir borracha para as forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial). Da vizinhança do Sesp já saíam os equilibristas de lata na cabeça.

Brasilidade na roupa
As alunas da Escola Santa Goretti, fundada e dirigida pelo padre Manuel Albuquerque, estrearam seu uniforme durante a missa e a procissão de Nossa Senhora da Conceição, em 8 de dezembro de 1953. As 60 meninas da escola passaram a vestir saia verde de lonita (abaixo dos joelhos), blusa branca de fustão (com mangas pelos cotovelos), uma gravatinha verde e amarelo, um laço da mesma cor, sapatos pretos tipo colegial e meias brancas. Todos aprovaram "o cunho de intensa brasilidade" da indumentária.

Quermesse legal
Durou dois dias, em janeiro de 1954, a quermesse realizada no pátio do Orfanato Santa Clara em benefício da construção da Capela de Nossa Senhora de Lourdes, no próprio estabelecimento de ensino. Os muitos freqüentadores disputaram roupas e brinquedos fabricados nos Estados Unidos e "petiscos regionais".
Outras atrações eram: a pescaria e os telegramas, mensagens que eram transmitidas por alto-falante pela locutora da promoção, a senhorita Maria do Carmo Vieira. Mas o ponto alto foi o concurso das bonecas. A banca apuradora - Paulo Rodrigues dos Santos(foto), Alberto Meschede, Jacaúna, Vidal Bemerguy e os jovens ginasianos Raimundo Arinos Pereira e Darci Teixeira de Castro - elegeu Sueli Serruya como Rainha das Bonecas. As outras candidatas eram Nazaré Pereira, Nelma Veludo e Alice Ferreira. Em agradecimento, a vencedora ofereceu aos presentes a canção ("Mulher rendeira").

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