segunda-feira, 10 de março de 2008

Memória de Santarém - por Lúcio Flávio Pinto


Candidatos baratistas
Candidatos do Partido Social Democrático, o PSD de Magalhães Barata, às eleições de 11 de janeiro de 1947.
Para prefeito: Aderbal Tapajós Caetano Corrêa, fazendeiro.
Vice-prefeito: Pedro Gonçalves Gentil, comerciante.
Vereadores: major João Otaviano de Matos, proprietário.
Wilson Dias da Fonseca, bancário.
Braz de Alcântara Rebelo, comerciário.
Gonçalo Ferreira Lima, agricultor.
José Clarindo Martins, médico.
Osman Bentes de Souza, comerciário.
Benedito de Oliveira Magalhães, comerciante.
Humberto de Abreu Frazão, comerciante.

O alto-falante
O alto-falante era um elemento importante na vida de cidades pequenas, como era Santarém, até a metade do século passado. Junto com reduzido número de emissoras de rádio, era o único meio de comunicação disponível. Por isso, houve festa concorrida na inauguração das novas instalações do Alto-Falante Guarani. Foi assim registrada pela crônica do jornal O Baixo Amazonas, o novo semanário que começou a circular na cidade nesse mesmo mês, em oposição ao Jornal de Santarém, lançado em 1943 :
"Precisamente às 10 horas do dia 1º de maio [de 1952], com a presença das principais autoridades, teve lugar a inauguração da nova aparelhagem do Serviço de Alto-Falantes Ipiranga, à rua Siqueira Campos, nº 391, revestindo-se o ato de grande importância para os nossos meios radiofônicos, de vez que, com os aparelhos ora instalados, aquela empresa pode orgulhar-se de ser a mais perfeita do interior paraense.
Iniciando a execução do programa das solenidades, cortou a fita inaugural a srta. Lidalva Ferreira, representante do prefeito municipal, debaixo dos aplausos dos presentes. A seguir, o dr. Aluizio da Silva Leal, Juiz de Direito, abriu a porta principal do estúdio, onde o Sr. Vicente Malheiros da Silva, revendedor, em toda região, dos aparelhos Phillips, colocou em funcionamento o disco-prefixo da organização.
Após, o sr. Elias Pinto descerrou a bandeira brasileira que encobria o retrato do Chefe da Nação, dr. Getúlio Vargas, sob demoradas palmas e acordes de bem executada marcha patriótica.
Franqueada a palavra, usou-a o sr. Bernardino de Pinho, diretor do Serviço de Alto-Falantes Ipiranga, que pronunciou eloqüente discurso, focalizando as atividades que pretende desenvolver no sentido de bem servir à nossa terra. As suas últimas palavras foram bem recebidas por todos os presentes, que prorromperam, no final de sua oração, em estrondosa salva de palmas.
No término das solenidades, foram servidas taças de champanhe às autoridades que se dignaram comparecer ao ato.

A estação de rádio
A estação de radioamador era outro elo vital, mas de ligação para fora da cidade. Um cabo subaquático da Western Telegraph ligava Santarém a Belém, mas servia para contatos rápidos, devido ao seu alto custo, e em certos horários. O rádioamador, apesar das dificuldades de sua propagação, permitia acesso muito mais longo e contínuo, com a possibilidade de conversação, que estava fora do alcance do telegrama.
Por isso que o rádio-amador do comerciante Manoel Gomes de Faria, de origem portuguesa, um dos homens mais ricos do seu tempo, era importante na Santarém da década de 50 do século passado. Em outubro de 1953, ele colocou a estação à disposição dos familiares de Manoel Cornélio Caetano Corrêa Sobrinho, que falecera em Belém no dia 1º daquele mês, "antes e depois do transe doloroso".
Numa nota na qual agradeceu "a todos os amigos que compareceram ao aeroporto para receber os despojos mortais do seu extremoso esposo e pai", a família destacou esse auxílio.
Sob a inicial "R", O Baixo-Amazonas relatou em artigo como foi a reação em Santarém à morte do influente personagem:
"O comércio por dois dias fechou meia porta, os cinemas não funcionaram, a bandeira do São Francisco F. C. (clube que ele tanto amava) e da Associação Comercial foram postas a meio pau, a missa de corpo presente num domingo pelos seus merecimentos, e o enorme acompanhamento ao seu féretro".
Louva a decisão do morto ilustre de "ser enterrado na cidadezinha onde nasceu, túmulo de seus antepassados e berço de seus filhos".
Mais conhecido como Manelito, Manoel Corrêa, casado com Solange Campos Corrêa, deixava nove filhos: Ubaldo, Terezinha, Maria de Lourdes, Paulo, Rogério, Carlos, Solange Maria, Raimundo Guilherme, Luiz Antônio, Eduardo Augusto e Manoel Cornélio. Descendente do barão de Tapajós (o outro nobre local da época do Império era o barão de Santarém), Manelito era filho de Ambrósio Caetano Corrêa e irmão de Ambrósio, Geraldo, José Caetano, Aderbal e Cristina. Uma das estirpes mais notáveis da cidade.

Caridade na missa
Em outubro de 1965, A. Dolores (professora Antonieta Dolores Teixeira) pedia que o hábito de fazer a coleta na igreja-matriz seja modificado. A pessoa encarregada de recolher os óbulos entregava a sacola para a primeira pessoa na ponta do banco, que se encarregava de passar em frente, sucessivamente, assim "perturbando a oração dos fiéis". Considerando que Santarém "já está civilizada", a cronista pedia que fosse adotado o método em outras cidades. Ou seja: a pessoa encarregada da coleta devia estender a sacola até o meio do banco, percorrendo-o de cada lado, sem causar a perturbação constatada em Santarém.

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