segunda-feira, 17 de março de 2008
Memória de Santarém - por Lúcio Flávio Pinto
Cenas Santarenas
Um dia no mercado
Em agosto de 1952, A. Dolores (Antonieta Dolores Teixeira) descreve o cotidiano no mercado da cidade, freqüentado por clientes empunhando seus inefáveis paneiros de tala para carregar as compras, poucas e caras, quando tudo que havia não era dirigido a pessoas certas e privilegiadas.
Sábado, quando cheguei ao mercado, encontrei uma senhora amiga com o paneiro vasto nas mãos, muito aborrecida com a desconsideração de um açougueiro.
Que barulho é esse, perguntei.
Ah, você está vendo? Esse açougueiro daqui (e mostrava o lado do açougue) enquanto tinha carne só ia pesando e passando pela cabeça da gente para um empregado do Marques Pinto e outro arigó, porque eles pagavam mais.
De início declaro que não cheguei a ver esse empregado e nem o arigó falando, mas creio que o fato é verídico porque os espectadores eram muitos e nenhum contestou o que a senhora dizia.
Então falei: dizem que eu reclamo tudo, mas eu reclamo em vão porque o sr. Prefeito não liga. Outro despeitado diz: ELA NÃO SABE ESCREVER!
Pouco importa se o sr. Prefeito liga ou não! Pouco importa se eu não sei escrever!
O primeiro não pode passar o resto de sua gestão como cego e fazendo ouvido de mercador.
Se ele está dormindo, sonhando apenas que é Prefeito de Santarém, um dia, forçosamente, há de acordar e então, talvez, tudo entre nos eixos.
Quem diz que eu não sei escrever, torne-se analfabeto: não leia o que escrevo.
Nisso, uma vozinha do outro lado diz:
Olhe, já nesta banca, ontem, venderam pirarucu salmourado a dez cruzeiros o quilo. A rês é abatida e ainda mesmo sangrando é vendida a doze cruzeiros o quilo. Nem ao menos um guarda do SESP [Serviço Especial de Saúde Pública] aparece para o competente exame das vísceras. Isto é demais. Já se abusa sem dó nem piedade da paciência do povo. Aqui no Mercado é do toma e o fulano nem põe a cara por aqui, ao menos para nos consolar com a sua presença.
Replica um gaiato: mas a cara dele não adianta, camarada. Queremos é carne com fartura. Queremos que ele corra com esses exploradores do povo, para ver se assim a professora não é tão amolada com as reclamações que ouve.
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