No encerramento do encontro, às margens do rio Xingu, em Altamira, mais uma vez os índios protestaram contra o projeto da usina de Belo Monte. O bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário, dom Erwin Krautler, defendeu José Cleanton Ribeiro, coordenador da entidade na região.
Ribeiro é o homem que aparece, em imagens gravadas pelo circuito interno de TV de uma loja, comprando facões ao lado de um índio. “Se alguém pede para que se compre um facão porque não comprar? O facão não é uma arma. Se depois acontece algumas coisa, não é culpa daquele que comprou o facão. Estão abusando e aproveitando de um incidente lamentável, para dizer que nós estamos armando o povo. Isso não é nada verdade”, disse o bispo Krautler. Na última terça-feira (20), os índios usaram facões para ferir o braço do engenheiro da Eletrobrás, Paulo Fernando Rezende, que apresentava o projeto para a construção da hidrelétrica de Belo Monte. O bispo Dom Erwin Krautler lamentou a agressão, mas questionou a postura do engenheiro durante o encontro. “Os índios não queriam matar esse homem. Por outro lado tenho que dizer que o homem não usou de pedagogia para com os povos indígenas. Ele não entendeu a alma kaiapó, senão não teria acontecido nunca um incidente como este”. Na loja, em Altamira, o vendedor confirmou a venda de facões. “Eles chegaram atrás de facões. Eles compraram três facões e um ciceiro, que a gente chama aqui de chocalho, que é mais conhecido”, disse o vendedor Ailson Lacerda.
Apoio financeiro
O dinheiro para a compra veio do movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira. “É um recurso solidário, as pessoas estão nos apoiando e a gente passou com a maior tranqüilidade. Passei e repasso de novo”, diz a coordenadora do Movimento das Mulheres Trabalhadoras de Altamira, Antônia Pereira Martins. Em nota publicada na internet, o Conselho Indigenista Missionário, disse que a compra de três facões foi baseada no respeito à cultura e a identidade dos índios. A justiça federal também divulgou nota e informou que recebeu um abaixo-assinado com 300 assinaturas dos índios do Xingu. No documento, o recado: "ainda haverá conflito entre o empreendedor e os povos indígenas, caso os senhores não parem com essas obras". O coordenador do conselho na região, José Cleanton Ribeiro, e a representante do Movimento das Mulheres Trabalhadoras de Altamira, Antônia Pereira Martins, prestaram depoimento na Polícia Federal na condição de testemunhas. Os dois disseram que não incitaram os índios a violência. Ribeiro disse que comprou os facões a pedido de um cacique kaiapó para rituais indígenas. Segundo o delegado responsável pelo caso, neste momento não é possível associar a compra dos facões a agressão ao funcionário da Eletrobrás. A Eletrobrás só vai comentar a agressão em Altamira quando o engenheiro Rezende voltar ao trabalho, na segunda-feira (26). E não vai se pronunciar sobre as declarações do Conselho Indigenista Missionário.
(Fonte: G1)
Um comentário:
Sr Editor
O Dr Bellini logo abaixo escreve um artigo onde ele relembra coisas antigas e que para os mais velhos trazem saudades e boas lembranças.
Entre todas essas coisas que ele cita eu posso incluir a religião católica da qual sou seguidor com seus principios, seus trabalhos. A memória me leva aos corredores da clausura do Colégio São Bento em São Paulo, que como oblato (um dos estágios para se tornar monge beneditino) me fascinava pelos cantos gregorianos que ecoavam por todo Mosteiro e, principalmente pelos ensinamentos calcados na filosofia e fé beneditina. A vocação se foi, os caminhos percorridos foram outros mas sempre embasados nesses ensinamentos, nessa postura de fé e entendendo que a igreja antes de tudo é evangelizadora. O mundo mudou e os rumos da Igreja Católica tambem. Se em determinados atos permaneceu nesse passado sem considerar a evolução dos tempos e a extrema necessidade de compartilhar essa evolução, por outro lado, se tornou, uma aliada a movimentos pouco ortodoxos, liderados muitas vezes por pessoas despreparadas e ávidas de poder e vingança e que chega ao cúmulo de compartilhar e endossar ações de guerrilha onde até mesmo tentativa de assassinato é considerada como ato de auto-defesa, como se isso fosse seu papel em prol seja lá que povo for: carentes, indigenas, excluidos etc .. Matheus nos mostra em suas cartas "Ide e ensinai as Nações em nome do Pai, do Filho, do Espirito Santo" disse Jesus ao seus apóstolos e principais seguidores. Essas palavras percorreram o mundo, percorreram séculos, percorreram situações. Nos dias de hoje talvez dentro dessa Igreja moderna e foco nesses povos, essas palavras não soem com a mesma intensidade e a mesma abrangência, as palavras sejam outras, talvez palavras de ordem, palavras de ataques, palavras que inflam sentimentos de guerra e que possam desafiar os que contariem suas idéias... talvez seja essa a Igreja moderna.
Interessante nessa reflexão que a irmã Dorothy estupida e brutalmente assassinada tinha uma Biblia em suas mãos ao ser atacada por seus algozes, e ela mesmo dizia que essa era sua arma ... com justiça o mundo se indignou, o mundo protestou, os responsáveis pela Igreja Catolica se indignaram, e hoje passados poucos anos, vemos responsáveis por essa mesma Igreja, pessoas que condenaram aquele ato, endossarem um ataque feito nas mesmas proporções que o feito à irmã Dorothy, com diferença que não houve consequencias de morte. Afinal, que Igreja é essa? Quando seus membros sofrem ataques ou ameaças (o que é descabido e sem proposito) há uma indignação popular e agora quando são parte de uma incitação explicita e usando do mesmo modo violento e covarde de agressão, se defendem sob a otica que os indios tem direito de se defender?? Desculpem minha ignorância religiosa moderna. Naquela época de oblato recebia o terço, o livro de Salmos, e o Evangelho para entender a palavra de Deus e sua profundidade.. hoje parece que tenho que ter foice, terçado e a bandeira de algum movimento para mostrar a força da palavra de Deus .. sinais dos tempos ..
Antenor Giovannini
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