Em meio às comemorações do surgimento da tipografia no Brasil, trazida por Dom João VI, historiadores lembram que fundador do Correio queria a criação de uma grande nação portuguesa, mas com sede no Rio
Ana Clara Brant e Rovênia Amorim
Repórteres
Durante esta semana, em que se comemora os 200 anos da imprensa oficial no Brasil, historiadores e escritores destacam a importância de um outro bicentenário: o do Correio Braziliense.
Quando o tipógrafo alemão Johann Gutenberg criou a imprensa, por volta de 1450, o Brasil ainda nem havia sido descoberto. A publicação de jornais foi proibida na colônia por três séculos e só passou a ser permitida com a chegada de Dom João VI. Em 13 de maio de 1808, ele inaugurou a primeira oficina tipográfica no Brasil, a Impressão Régia, órgão oficial da corte.
Um busto do imperador que ficou no Brasil até 1821 foi inaugurado ontem, nos jardins da Imprensa Nacional, para marcar a data.
Nesse contexto em que a Coroa não permitia outras tipografias e a imprensa livre, Hipólito José da Costa lançou em Londres um jornal escrito em português e pautado pelas questões políticas que envolviam o destino do Brasil. “Hipólito criou o Correio para influir sobre os destinos da nação portuguesa da qual o Brasil era parte. Pensava, como outros portugueses e brasileiros, que aquela era a oportunidade de concretizar o projeto de constituição de um império luso-brasileiro, que teria como sede o Rio de Janeiro”, explica a historiadora Isabel Lustosa, da Fundação Casa Rui Barbosa, co-autora (ao lado do jornalista Alberto Dines) da edição fac-similar do Correio Braziliense (1808-1822), de Hipólito da Costa.
“O Correio teve uma influência mais subjetiva, estimulando e fixando os ideais como os de liberdade de imprensa, opinião e comércio, do fim da escravidão, da necessidade do parlamento, da transparência”, afirma Lustosa. Por criticar a monarquia, o Correio foi proibido de circular em todos os territórios sob o domínio português.
Pesquisadora da Unicamp, Juliana Meirelles comenta que Hipólito fazia uma oposição elegante, de idéias iluministas e contrárias à política absolutista de Dom João VI, sem atacar a pessoa do príncipe regente.
“O jornalista era um defensor que Dom João VI ficasse no Rio, mas era realista e sabia que Portugal nunca aceitaria o projeto de se criar um império com sede no Brasil”, comenta Vamireh Chacon, professor emérito da UnB e autor do prefácio do livro O Conde de Linhares, reedição da biografia escrita em 1908 sobre um dos grandes perseguidores do jornal de Hipólito.
A obra foi lançada segunda-feira, em tarde literária com escritores sobre o período joanino, no auditório da Imprensa Nacional.
(Fonte: Correio Braziliense)
Nenhum comentário:
Postar um comentário