Miguel Oliveira
Editor-Chefe
Amigos diletos não falam mais no rádio. Uns foram demitidos, outros mudaram de profissão, e ainda outros já não se encontram mais entre nós.
Um deles, o mano Flores. Dalvino Rodrigues Flores foi meu mestre quando cheguei à redação da Rádio Cultura do Pará, em Belém.
Mais experiente, mais 'malandro' do que nós, iniciantes. Deitava e rolava contando 'causos' de si próprio.
Era o parceiro ideal para dividir a minha paixão de ouvir rádio.
Mas mano Flores se foi, ano passado, de forma trágica. Diabético, cego e com as pernas amputadas.
Decidi escrever sobre o rádio pensando no mano Flores quando deixei a sala de massoterapia na última sexta-feira, após irmã Graça medir a minha pressão arterial.
Ainda na porta da clínica So Massagem, ensaiei um dedo de prosa sobre o assunto com Josué Monteiro. Desafiei-lhe a repetir o nome das emissoras de rádio do país, as mais antigas, excluindo as FM, é claro.
Mas antes que o massoterapeuta esboçasse qualquer reação, pus-me a enumerar as rádios que escutava em meus tempos de menino: Rio Mar, Baré e Difusora(AM), Timbiras e Difusora(AM), Dragão do Mar e Uirapuru(CE), Poti(RN), Sociedade(BA), Educadora de Bragança, Cariri(Porto Velho), Brasil Central(Goiânia), Cruzeiro do Sul(Acre), Rádio Clube do Pará, Tupi, Tamoios e Globo(RJ).
Sem entender nada de geopolítica, ficava meio confuso ao sintonizar, quase que involuntariamente, estações de rádio do exterior. Naquele tempo o som dessas emissoras era nítido.
Mas anos mais tarde, o governo militar tratou de preencher o espectro de radiofreqüência com concessões de rádios FM's e AM's na Amazônia Legal, o que só fui compreender o real significado de tal decisão quando cheguei até a universidade, no final dos anos 70.
Mas que era prazeroso ouvir rádio de fora, isto era. Até hoje, quando minha mulher está com os tímpanos tolerantes, ensaio um busca pelo dial de um velho rádio. Ainda é possível sintonizar as rádios France 1 (Paris), Voz da América(Washinngton), Transmundial( Bonaire), Central de Moscou, Tirana(Albânia), Sal(Cabo Verde), Liberdade(Luanda) e BBC de Londres.
Essas emissoras, por incrível que pareça, passados mais de dez anos do fim da guerra fria, ainda mantém noticiários em português.
Quem tiver tempo e paciência, tente dar um passeio pelo dial de um velho rádio TransGlobe.
Vale a pena.
Um comentário:
Valeu, graaaaaaaaaaaaande Miguel;excelente aula de geografia...
Luis Flávio
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