quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Jogo de xadrez

Bellini Tavares de Lima Neto
Advogado

Parece mentira, mas a série DE VOLTA PARA O FUTURO já tem mais de 20 anos. Aliás, 23 anos para ser mais exato. Na época fez tanto sucesso que garantiu dois outros filmes além do primeiro. Só mesmo no terceiro episódio da série o autor resolveu destruir o carrão que um cientista meio esquisito transformou em máquina do tempo. Para quem não sabe, tudo começou com um adolescente que, para fugir de uns terroristas malucos, embarca no carrão construído pelo professor igualmente maluco e, sem querer, vai parar em 1955. Para tentar voltar ao seu tempo, o garoto vai procurar pelo professor que havia inventado a máquina. O sujeito está 30 anos mais jovem. Os pais do garoto também e ainda mal se conheciam. Um dos pontos de maior destaque na história é a enorme preocupação do cientista para impedir que o garoto alterasse qualquer coisa no passado, pois isso iria necessariamente interferir no futuro e mudar o curso da história. É claro que acaba havendo uma mexidinha sóbria e que modifica para melhor a situação do jovem no futuro, mas esse receio do cientista é o que vai gerar a maior parte da trama nos três filmes.
Apesar da ficção ou, talvez, até por isso mesmo, é realmente fascinante observar como um fato, uma circunstância qualquer pode dar um determinado rumo a uma vida inteira. Da mesma forma é fascinante perceber como todas as atitudes, todos os comportamentos, necessariamente têm conseqüências, estão entrelaçados. Não é à-toa que esses temas acabam estimulando tantas histórias de ficção e mistério. É impressionante como um gesto, uma palavra, uma conduta, um procedimento, vão gerar outros gestos, palavras, condutas, procedimentos e outros e outros numa cadeia de assustar. Basta mudar um elo da corrente e tudo pode se tornar completamente diferente. Daí porque é tão importante que as pessoas reflitam sobre o que fazem, o que dizem, como agem. A postura do pai vai, de alguma forma, em maior ou menor escala, interferir no filho. Todos nós somos um pouco do que são ou foram os nossos pais, assim como nossos filhos vão ser um pouco de nós. Que responsabilidade, hein?
“O jornal “O ESTADO DE SÃO PAULO” do dia 11 de agosto de 2008 publicou um artigo do jornalista Carlos Alberto di Franco sob o título ‘FICHA SUJA E DESENCANTO JUVENIL”. É claro que o tema é a recente decisão do STF sobre os candidatos a cargos eletivos e que também tem o hábito de freqüentar páginas policiais ou súmulas de indisciplina. Dado extremamente triste no artigo é a constatação de que em 2004 havia 3.600.000 eleitores na faixa de idade dos 16 e 17 anos. Em 2008 esse número caiu para 2.900.000. É uma queda de 19%. E o jornalista ainda esclarece que se em 2004 éramos 121 milhões de eleitores, hoje somos 130 milhões. Ou seja, o eleitorado aumentou, mas em compensação, o número de eleitores jovens diminuiu. Frase do brilhante jornalista: “a esperança juvenil encolheu”.
O mesmo jornal, na mesma edição assina um editorial sob o título “ESPERTEZA COM A DÍVIDA RURAL” em que comenta que a Câmara dos Deputados aprovou Medida Provisória que reduz a taxa de juros sobre dívidas de produtores rurais. Trata-se de dívidas vencidas e não pagas. A redução foi da ordem de 13%. Dessa maneira, aqueles produtores rurais que tomaram financiamentos oficiais e pagaram suas dívidas nos prazos estabelecidos estão vedo seus colegas caloteiros levando uma considerável vantagem.
Esse episódio é um grão de areia nesse nosso deserto de espeanças, uma gota nesse mar de lama. Todos os dias a imprensa despeja em nossas cabeças essas verdadeiras pérolas de conteúdo ético com que a classe política brinda a população e a sociedade. E como se vê, não é preciso refletir muito para se perceber como os atos se entrelaçam, como anda em pleno vigor a conhecida lei da ação e reação. E produzindo todos os efeitos de que é capaz. Os números estão estampados na nossa frente. Em dado momento, mesmo sem obrigação legal, os jovens foram buscar seus títulos de eleitores e assim começar sua participação cívica na sociedade. Em apenas quatros anos começam a mostrar seu desencanto, a se dar conta de que isso é só um engodo, uma farsa, uma perda de tempo. Já que dia de eleição é feriado, veja lá se vale a pena ficar em casa para votar se o garotão ou a garotinha podem curtir uma balada ou pegar uma onda na praia. Na ordem de importância, qualquer coisa está à frente desse teatrinho mambembe em que vão se transformando as eleições.
Pois é, são aquelas mesmas eleições que foram objeto de lutas durante quase três décadas. Alguém se lembra das “Diretas já”? Quem participou daquilo deve estar vermelho de vergonha. Será que o cientista maluco do filme pode nos ajudar? Será que existe um jeito de construir uma máquina que mostre a todos que a cada ação corresponde uma reação? E tem que ser depressa porque desse jeito não vai haver como voltar pra o futuro. Que futuro?
11 de agosto de 2008

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