Paulo Bemerguy
Espaço Aberto
Acabou, mas ainda não terminou a auditoria que técnicos da Auditoria Geral do Estado (AGE) estão fazendo no Hospital Ofir Loyola.
Explica-se.
O levantamento já permitiu à AGE detectar, no hospital, gravíssimos problemas de gestão que acabaram comprometendo a permanência da diretoria do Ofir Loyola. E tanto é assim que os diretores, todos indicados pelo PMDB, acabaram batendo em retirada no início desta semana.
Mas o trabalho de investigação, muito embora prestes a chegar aos finalmentes, ainda passa, digamos, por uma depuração.
Uma depuração que poderá minimizar ou agravar a extensão dos problemas que, presume-se, realmente existem no Ofir Loyla.
Desde a última quarta-feira, quatro técnicos da Auditoria Geral do Estado batem ponto todos os dias hospital. “Eles estão lá, trancados numa sala. Ninguém sabe o que estão fazendo”, disse ontem uma fonte ao blog.
Se estão trancados, ninguém sabe, realmente, o que os técnicos da AGE estão fazendo.
Mas pode-se imaginar: continuam futricando fundo, para buscar o que for possível de anormalidades administrativas porventura existentes.
Mas além do trabalho de auditoria estar inconcluso, uma outra informação – ontem checada, rechecada e confirmada – dá conta de que, paralelamente à auditoria da AGE, a própria Secretaria de Estado de Saúde (Sespa), por determinação direta da secretária Laura Rossetti, designou uma equipe que passou cerca de uma semana fazendo uma rigorosa inspeção no Ofir Loyola.
A inspeção, segundo o blog apurou, já estava prevista no cronograma de controle interno elaborado pela Sespa, desde que estourou a crise na Santa Casa de Misericórdia, com a morte de dezenas de bebês na UTI neonatal, no ano passado. Além da própria Santa Casa, a Sespa já fez inspeção no Hospital de Clínicas e escalou o Ofir Loyola como o terceiro ponto de parada.
Entrevista precipitou inspeção
Mas um fato precipitou a decisão da secretária Laura Rossetti de mandar escarafunchar nos escaninhos do Ofir Loyola: a entrevista que Ana Klautau Leite, há sete anos presidente da Associação Voluntariado de Apoio à Oncologia (Avao), concedeu a O LIBERAL, há três domingos, descrevendo horrores sobre as deficiências e carências que enfrenta o hospital, o único de referência no combate ao câncer no Pará.
Entre outras coisas, a entrevista revelou que o Ofir Loyola não tem dinheiro nem para pagar o pãozinho dos pacientes internados, já que a padaria licitada não recebe há três meses e ameaça suspender o fornecimento. Além disso, diversos tipo de medicamentos também estão em falta para quimioterapia, e, entre os casos oncológicos atendidos, faltam remédios para leucemia, câncer de mama e outras patologias.
A decisão da Laura Rossetti de estender a lupa sobre a administração do Ofir Loyola a fez cair em desgraça, definitivamente, diante da alta cúpula do PMDB, que já vinha rejeitando a secretária, que a partir de então deixou de ser considerada como uma indicação do partido.
Mas isso, sabe-se, é uma balela.
Dizer o PMDB que não mais se considera representado na Sespa é conversa para boi – ou para muitos bois, de uma manada inteira – dormir.
Por quê?
Porque, ainda que a titular da secretaria não mais seja considerada uma indicação do partido, o PMDB está presente, está de pés e mãos fincados – e muitíssimo bem fincados – em 12 das 13 regionais da Secretaria instaladas nas mais diversas regiões do Estado.
Enfim, enquanto não forem tornadas públicas as conclusões do trabalho de investigação administrativa no Ofir Loyola, tanto pela inspeção da Sespa como pelos técnicos da AGE – inclusive pelos que ainda se encontram lá desde a última quarta-feira -, continuará pairando a sensação de que um certo viés político inspira a apuração.
O governo do Estado, através de uma nota, já esclareceu de forma clara que “os relatórios da Auditoria Geral do Estado (AGE), órgão responsável pelo controle interno da gestão estadual, são estritamente técnicos e respaldados na análise criteriosa de documentos e contas gerados pela própria instituição auditada”.
Para bons – e até para maus – entendedores, isso quer dizer que o Palácio dos Despachos rejeita qualquer insinuação, por mais remota que seja, de que a AGE estaria agindo movida por interesses políticos, ou pela mera intenção de fazer fofoca, como entende o deputado Jader Barbalho, presidente regional do PMDB.
Mas a política e os políticos, como se sabe, muitas vezes não se movem por fatos.
Movem-se por faros, e não por fatos.
Resta esperar para ver, se desta vez, os faros preponderam sobre os fatos.
Ou vice-versa.
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