Quase três meses atrás o grupo Líder, o segundo maior do comércio varejista do Pará, se desligou do sindicato patronal da categoria. Um mês depois, em março, o desligamento foi da associação de classe, a Aspa. O fato só foi comunicado ao público no dia 21 de abril, quando o Líder publicou na imprensa uma nota. E a questão, embora relevante para milhares de pessoas, ficou nisso: o registro burocrático das versões. A imprensa não saiu atrás das razões reais para a drástica atitude. O Liberal repercutiu a nota no dia seguinte, para endossar as razões do Líder, que atingiam os interesses do seu maior rival, o grupo Y. Yamada, anunciante que não tem comparecido ao caixa do jornal com a intensidade desejada. Mas com uma presença que incomoda ao Diário do Pará, onde a adesão aos Yamada já não parece tão absoluta.
Na nota oficial, o grupo Líder diz que seu desligamento das duas entidades representativas foi para manter “seu inarredável compromisso com a qualidade de seus serviços, produtos e projetos, sua luta em manter em crescimento o número de funcionários, suas lojas 24 horas e horário de funcionamento”. Em resumo: alguns dos supermercados da rede continuarão a funcionar pelo dia todo, prática que as duas entidades querem abolir, como medida de redução de custos, e os sindicatos trabalhistas, como necessidade humana. No dia 1º, o Líder conseguiu abrir essas lojas graças a uma decisão judicial dada na véspera do feriado.
Por trás da conversa formal há um boato de que a iniciativa de fechar aos domingos e feriados visaria atender, sobretudo, o maior concorrente do Líder, o Y. Yamada, que estaria precisando reduzir logo e de forma significativa as suas despesas. O nº 1 do varejo estaria em dificuldades financeiras, com problemas de liquidez. Problemas que já estariam a se manifestar nas suas gôndolas, com falta de pronto reabastecimento. Mas se a eliminação do funcionamento estendido pela madrugada atende os Yamada, por que todos os demais supermercados apoiaram a providência? A crise não seria de um, mas de todos, exceto o Líder?
A dedução lógica, mesmo que não seja a verdadeira: o grupo Líder estaria com posição de caixa mais confortável do que o seu concorrente e tentaria aproveitar para desbancá-lo. Por enquanto, é uma hipótese a ser testada, mas não através da grande imprensa: como os dois grupos rivais são grandes anunciantes, há sempre o receio de, aprofundando a questão, desagradá-los. E as fontes dos comentários de bastidores não assumem o que murmuram. Os sinais externos continuam a surgir, deixando revelar até questões bem internas, como as desavenças familiares no controle do grupo Líder, que provocaram a saída de um dos sócios-parentes. Justamente um dos mais conhecidos dentre eles: João Augusto Oliveira.
O balanço de Y. Yamada Comércio & Indústria mostra que suas contas no ano passado continuaram quase as mesmas do exercício anterior, com crescimento de 10% no faturamento bruto, que passou de R$ 1,1 bilhão, e um pouco menos no lucro líquido, que foi de R$ 7 milhões para R$ 7,5 milhões, graças, principalmente, à drástica redução de custos, com ênfase nas despesas de pessoal. Fica claro que os pesados investimentos realizados e a perda da rentabilidade exigem maior rigor nas contas para a busca do reequilíbrio econômico-financeiro da corporação.
Quem vai às lojas sente que há alguma coisa diferente no ar em quase todos os supermercados, na redução de funcionários no atendimento, menor variedade de produtos, queda na qualidade de algumas mercadorias. Mas não é possível distinguir se essa diferença resulta de alguma má administração ou de problemas externos de verdade. De maremoto ou marolinha. A imprensa, calada por conveniência, não ajuda a esclarecer as coisas. Como quase sempre nas questões mais delicadas, que acionam as vibrações do caixa. Ainda mais porque os dois maiores supermercados paraenses estão entre os 14 do topo do ranking nacional.
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