sexta-feira, 24 de julho de 2009

Amazônia precisa de um "Big Brother", diz dono de fazenda modelo

PAULO CABRAL

Enviado especial da BBC Brasil a Paragominas (PA)

O modelo de pecuária e agricultura sustentáveis que o fazendeiro Mauro Lúcio Costa adota em suas terras ainda está no campo das exceções na Amazônia.

Em sua fazenda, 80% da área de 4,5 mil hectares ainda é de mata preservada, a produtividade nos pastos é quatro vezes superior à média da Amazônia, reflorestamento e soluções ambientalmente positivas estão por todos os lados, não pesam sobre ele denúncias (ou condenações) de crimes trabalhistas ou ambientais e não há qualquer conflito pela terra.

Não são muitos os grandes fazendeiros da região que podem ostentar uma ficha dessas --por isso, Costa é comumente citado como exemplo, por ambientalistas e técnicos, de como uma fazenda pode funcionar sem destruir a natureza.

"Quando falava disso, oito anos atrás, tinha muita gente dizendo que gado não dava dinheiro suficiente para fazer uma fazenda assim", diz o fazendeiro, presidente do Sindicato de Produtores Rurais de Paragominas, no sudeste do Pará. "Agora, as coisas mudaram e tem cada vez mais gente percebendo que esse é o caminho."

Sem exemplos

O fazendeiro diz que a nova mentalidade já está chegando a outros agricultores e pecuaristas. Mas tem dificuldades para citar outros bons exemplos específicos de boas práticas ambientais em fazendas da região, que conhece bem.

Costa diz que lei só vai funcionar se houver monitoramento e fiscalização. "Tem mais gente que está adquirindo essa consciência, mas é um trabalho que demora a surtir resultados na prática. Minha fazenda está assim porque já faz quase dez anos que a sustentabilidade é uma preocupação", afirma.

"Quando nós fomos convidados pelo governo para vir para cá [nos programas de colonização da Amazônia], a ordem era produzir a qualquer custo e desmatar para poder ficar com a terra', acrescenta. 'Agora que tudo mudou, queremos o mesmo respeito do governo que tínhamos no passado para que possamos adequar nossas práticas."

Costa apoia a nova lei criada a partir da MP 458, mas diz acredita que ela só vai funcionar se o monitoramento e a fiscalização dos fazendeiros na Amazônia --hoje bastante criticados-- forem reforçados.

"Eu acho que a fiscalização vai ser essencial dentro do processo", afirma o fazendeiro. "Ela tem que ser rígida e eu diria que o ideal para nós seria um 'big brother', em que você estaria sendo monitorado 24 horas, online."

"Se tivermos essa consciência, podemos ser os vigias que a Amazônia tem que ter. Eu por exemplo sou: se eu souber de algum vizinho meu, alguma pessoa que está fazendo desmatamento, eu vou denunciá-lo."

Mas Costa reclama que o governo caiu em uma contradição ao determinar que a MP regularizaria terras de, no máximo, 1,5 mil hectares.

"Quando os fazendeiros vieram para a Amazônia, nos anos 80, os lotes para ocupação eram de 3 mil e 4,5 mil hectares. Agora, não faz sentido o governo não regularizar o que ele mesmo prometeu anos atrás."

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