sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lúcio Flávio Pinto:O político biônico: agora, como antes

“Você já leu o que escreveu a respeito o camarada J. Posadas?”
Era com este convite que, invariavelmente, um militante comunista abria as rápidas conversas que tínhamos quando ocasionalmente cruzávamos em algum lugar da cidade, na época do regime militar. De tanto ser convocado, um dia decidi ler o citado luminar do saber político-filosófico. Suportei umas poucas linhas e desisti. Era puro catecismo dogmático. J. Posadas escrevia como se ditasse a tábua das leis. Não eram pensamentos, raciocínios, argumentos: a verdade estava aprisionada a cada uma das suas frases. Era para ser citado. Nunca para ser entendido. Contestado, nem pensar.
A imagem do guru – ou lua preta – me vem sempre que alguém me fala de personagens desse tipo. São sábios que não se vê pelas ruas, cujo desempenho pouco ou nada foi testado e as realizações são vagas, intangíveis. Mas seus nomes são pronunciados com um eco de sapiência e autoridade. Se atuam na política (em geral nos bastidores), são tidos como verdadeiros oráculos. Suas previsões são ouvidas com o respeito devido ao sumo sacerdote. Suas sugestões e seus conselhos são postos em prática como se eles fossem verdadeiros alquimistas. Eles próprios, porém, não podem atestar com seus exemplos a validade das previsões. Por serem, acima de tudo, teóricos.
Na esquerda, o tipo é notório. Mas ele abunda também na direita. O momento grave é quando tentam sair da penumbra e dos tetos de zinco quente para a planície, o rés-do-chão. O ex-governador Almir Gabriel não deixou um vapor de dúvida sobre a única maneira de fazer a transição no governo: colocar a máquina pública a serviço do novo político, que estréia por cima, às vezes no mais alto posto do serviço público. Do contrário, ele nunca sairá da condição de poste, ao menos para fins eleitorais.
O ex-senador disse-o com a inflexibilidade de um cirurgião, quando atribuiu ao absenteísmo de Simão Jatene a causa da sua derrota na terceira tentativa de voltar ao governo do Estado. Se Jatene tivesse feito o que todo governador faz, ao usar o aparelho oficial para favorecer seu protegido, Almir conquistaria galardão único na história paraense: de ser o primeiro governador tri-eleito pelo voto popular. Ao invés disso, tem agora que engolir rancor sem fim pela desfeita nos confins do litoral paulista (escolha pessoal da qual já parece ter-se arrependido).
O PT navega pelo mesmo rio de fisiologismo. A governadora, que tem a própria horta de votos, mas se valeu de transferências conseguidas por meio de aliança para expandi-la além do seu próprio domínio, tem seu projeto político de longo prazo. Esse projeto não é formado por uma visão de mundo, tecida a partir de programas e projetos de maior fôlego para mudar o Estado. É, simplesmente, um projeto de perpetuação no poder. Pode, eventualmente, ser ou não ser associado a ações externas. O que ela mais deseja no momento é constituir candidaturas e dar-lhes viabilidade eleitoral, para reforçar o seu grupo e dar-lhe mais densidade.

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