Com a chegada da Alcoa, cidade paraense virou um canteiro de obras
Renée Pereira
O Estado de São Paulo
A chegada da gigante mundial de alumínio, Alcoa, em Juruti provocou uma revolução na vida modesta e tranquila dos moradores da cidade. Num piscar de olhos, o município virou um canteiro de obras, com a construção de novos hotéis, restaurantes, lojas, supermercados, padarias, hospitais, escolas e ruas asfaltadas. Nunca se viu tanto emprego nem tanta gente nova em Juruti. Da mesma forma, nunca se viu tanto trânsito, inflação e criminalidade.
"Quando cheguei por aqui, apenas nove carros circulavam pela cidade", lembra Tiniti Matsumoto Jr., responsável pelo desenvolvimento da mina de bauxita da Alcoa, em Juruti. Hoje, calcula-se que cerca de 500 veículos e motos rodam pelas ruas do município, que tem 35 mil habitantes, 65% deles residentes em comunidades rurais. Uma parte da frota, entretanto, é formada por caminhonetes importadas e veículos da Alcoa.
O aumento do número de automóveis abriu espaço para novos negócios, como a abertura da primeira autoescola. No início, o Centro de Condutores Juruti chegou a atender 80 alunos em um só mês. A demanda era tão forte que autoridades de Santarém chegaram a mudar o local de exame para Juruti.
A iniciativa esbarrou, porém, na falta de sinalização da cidade. Em Juruti, não existe via de mão única, placas, semáforos e muito menos faixas de pedestres. Mas há árvores no meio da rua.
O número de postos de combustíveis aumentou. Hoje já são quatro na cidade. Isso não significa, porém, que o motorista vai encontrar combustível todos os dias. Afinal, o produto percorre um longo trajeto de barcaças até Juruti e nem sempre chega na data prevista.
Com o inchaço da população e o consequente aumento da demanda, o custo de vida de Juruti aumentou. O aluguel de uma casa de dois cômodos, que antes custava R$ 200, hoje não sai por menos de R$ 600. O preço de um terreno de 400 metros quadrados pode chegar a R$ 60 mil, conta a vice-presidente da Associação Comercial local, Elienai Bravo. Antes esse mesmo pedaço de terra custava R$ 8 mil - aumento de 650%.
Até mesmo o produto mais típico da região não saiu ileso do aumento dos preços. O quilo de peixes, como pacu e tambaqui, custa R$ 3,50. Os graúdos, acima de 5 quilos, custam R$ 10. Antes, conseguia-se comprar os mesmos peixes até pela metade do preço, diz o presidente da associação de pescadores da cidade, Francisco Oliveira de Souza, de 57 anos.
Segundo ele, entre 2000 e 2008, o volume de pescado consumido na cidade saltou 240%. Souza conta que a vida em Juruti mudou bastante nos últimos anos. "Antes a gente ficava sentado na calçada e não tinha movimento nenhum. Hoje é uma barulheira danada, um monte de carro e moto." Reflexo disso é o aumento do número de acidentes entre carros e motos, segundo a delegacia local. Houve também elevação nos casos de furtos e drogas na cidade. Dos 28 presos, 12 estão envolvidos com entorpecentes.
Souza reconhece, entretanto, que o progresso trouxe benefícios. "Com mais dinheiro no bolso, todo mundo comprou televisão e computador. Lá em casa compramos geladeira e uma máquina de lavar roupa e reformamos o banheiro." Além disso, a internet, antes muito precária, conectou os jurutienses ao mundo. Mas o meio de comunicação mais usado em Juruti ainda é a rádio poste. São as caixas de som amarradas em postes e espalhadas por toda a cidade que anunciam as principais novidades.
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