Cilícia Ferreira
Da Redação
Ajudar pessoas doentes que não têm condições financeiras de se tratar é uma maneira de demonstrar solidariedade ao próximo. O brasileiro tem o hábito de ser solidário. Agora usar a desgraça do outro para benefício próprio é um absurdo! Mas há uma prática que faz isso em Santarém, de modo que está se tornando comum: são os carros de propaganda ambulante pedindo ajuda financeira para um doente, que inclusive sempre se encontra no interior do veículo. Vale ressaltar que não se estar pondo em dúvida o doente muito menos seu estado físico. Estar sendo colocado em questão o uso dos serviços da propaganda para esta finalidade. Sabe-se que estes serviços não são gratuitos, eles exigem custos, que não são poucos, pois são cobrados por hora de divulgação. Esses carros são encontrados, geralmente, no centro comercial, na frente dos bancos e das feiras da cidade.
Em conversa com uma senhora que se utiliza juntamente com seu neto, criado como filho - uma criança doente mesmo - desse recurso para conseguir ajuda, a reportagem do jornal foi informada de que o dono do carro pratica um "ato de solidariedade". Segundo ela, não só a criança é doente, mas ela também. Teve fratura nas pernas e anda de muletas, tem problemas de osteoporose e caroços no seio. A mulher afirma que o serviço de som não é pago por ela, uma vez que é cedido pelo genro do proprietário do veículo, com a permissão devida. Afirma que o único valor que ela gasta é o de R$ 15,00 para o combustível do carro, mas um 'lanchinho' para o motorista. O dinheiro arrecadado fica para ela.
A criança que a acompanha é um menino com deficiências na fala e de locomoção, tem 10 anos e recebe benefício de 1 salário mínimo desde bebê, pois nasceu com a doença - que a senhora não soube dizer qual era. A avó diz que a mãe biológica do garoto sofreu de depressão pós-parto e ficou com seqüelas até hoje. Perguntada se já havia levado a criança a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE) ela disse que sim, mas que não tem condições de acompanhar a criança nos trabalhos da entidade. A única forma de cuidar dele é ficando em casa, o que não acontece.
Ela disse que sempre vai ao centro nos dias mais movimentados, como nos dias de pagamento. Quando o movimento fica 'fraco' ela vai para os bairros. O dinheiro arrecadado a tira do 'sufoco', pois a única fonte de renda (a da criança) não supre as necessidades do mês com moradia, alimentação e remédios. "Quando era no meio do mês a gente não tinha mais nada, e fica comendo ovo ou conserva (carne enlatada) até chegar o outro pagamento. Agora não, já dá pra comprar carne e algumas coisas pra ele (a criança)", declarou a senhora.
A avó fala que um terreno no Cucurunã foi doado a ela pelo genro do dono do carro de som que a acompanha e que seu objetivo é construir uma casa e sair do aluguel, "pra isso também que eu peço ajuda à população", comenta. Falou também que já esteve no INSS por 4 vezes para realizar perícias médicas, mas não conseguiu aprovação da solicitação de benefício. Já foi à Prefeitura por algumas vezes tentar algum tipo de auxílio do município, mas nunca seus pedidos foram atendidos.
A reportagem ficou cerca de 20 minutos conversando com senhora e nesse intervalo de tempo o motorista do carro não estava presente, segundo a idosa, ele sai e quando chegar o horário do almoço ele volta.
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